Eu não sei

Allan narrando

Recebi a mensagem da Laura, já eram quase 4 da manhã, confesso que me preocupei com o horário e sei que ela vai sozinha, o que torna pior.

A conversa seguiu rapidamente pra um teor sexual e tive medo que ela se assustasse.

Que bela impressão o senhor está causando, senhor Allan.

Ela demora a me responder e deve ter dormido, percebi que ela não parou enquanto eu estava lá, andava de um lado pro outro em um salto, realmente sempre fiquei impressionado em como as mulheres se equilibram naquilo e andam tão graciosas como se estivessem descalça.

Laura tem algo diferente das outras, não sei o que é, o pouco tempo que conversei olhando pra ela vi tantas coisas em seu olhar, pude ver sua ternura, sua garra, ao mesmo tempo em que notei a maquiagem disfarçando algumas olheiras, ela deveria estar cansada mas não deixava transparecer. Sorria para todos os clientes e funcionários, e acho que senti ciúmes quando a vi tão próxima daquele garçom.

Realmente a forma que ela lida com os funcionários me chamou atenção, não é que eles tenham medo dela, mas sim respeito, em todo tempo ela era abordada por alguém, as vezes dava risada em outras parecia preocupada, mas sempre atenta a tudo e a todos. Cada mínimo problema que surgia ela já estava perto é aquilo era bom ver. Não sei se o restaurante é dela ou de algum familiar mas ela dá o sangue por aquele lugar e não se encontra funcionários assim facilmente.

Já estava digitando uma mensagem de DORME BEM quando vi que ela estava digitando novamente. Meu coração estava acelerado, nervoso, como se fosse a primeira vez que eu falava com uma mulher...

- Acabei cochilando, foi sem querer, não quis te deixar no vácuo.

- Sem problemas, imagino que esteja cansada. Não vi você parada em nenhum momento.

- Sim, e você nem viu nada. Tem movimento bem maior que o de hoje, já cheguei com os pés calejados em casa mas é gratificante.

- Uhm, tão trabalhadora ela.

- Tem que ser. A vida não costuma ser fácil com quem é pobre, e se pesar na balança o fator mulher e mãe costuma piorar.

- Uhm, seu marido não vai reclamar dessa nossa conversa. Não quero criar problemas pra você.

- Homem é tão previsível e sempre usa a mesma frase pronta né? Não meu marido não vai reclamar, porque não tenho marido. Sou mãe solo, e mesmo com todas as barreiras e desafios que enfrentei desde que descobri a gravidez eu tenho sido suficiente e bastado para o meu filho.

- Nossa! Não quis ofender e nem te fazer mal. Desculpe.

- Sem pedidos de desculpa, Allan, por favor. Se for pedir desculpas por tudo e a cada momento precisar pedir novamente acho melhor nem manter essa conversa. Como disse antes, eu não aguento mais ouvir desculpas e sempre continuar sofrendo depois disso.

Confesso que fiquei mal pela forma que ela me respondeu, se ela tem filho e é mãe solo, e pelo visto dá o máximo sempre pelo filho, acredito que o genitor da criança é um completo babaca. Não gosto de crianças e nem pretendo ter filhos, mas não teria deixado Laura sozinha, se fosse eu no lugar desse cara.

Conversamos mais um pouco e ela disse que precisava dormir, o filho não estava em casa mas ela precisaria levantar em breve pra arrumar tudo antes de ele voltar. Quis perguntar sobre ele, mas se ela disse que precisava dormir eu não ia insistir.

Liguei pro meu investigador, passei as informações que tinha sobre a Laura e pedi um relatório com urgência, precisava saber mais sobre ela, sobre o filho e sobre o babaca que tinha deixado ela com uma criança sozinha. Precisava saber em que estava me envolvendo porque despertou um sentimento de que deveria cuidar dela, e se fosse o caso, seu filho também seria minha responsabilidade.

Depois que falei com o investigador vi que o sol já estava firme no céu, não vi a hora passar e não preguei o olho em nenhum momento. Meu corpo estava exausto mas a minha mente estava preenchida pela minha doce Laura.

Se antes eu tinha dúvida sobre o que sentia, agora posso dizer que tenho certeza. Eu estou apaixonado por ela, sem nem sequer ter a beijado.

Eu não sei o que aconteceu comigo. Eu não sei como me envolvi dessa forma. Não sei de tantas coisas agora e principalmente eu não sei o que vou fazer caso ela não me queira na vida dela.

Deitei na cama e apaguei.

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Henrique narrando

Allan não desceu pro café e já é quase horário de almoço e ele não me mandou nenhuma mensagem, estou preocupado, será que aconteceu algo e ele passou mal. Falei com a moça da recepção e ela informou que ele não havia saído do hotel, deveria estar no quarto ainda. Fui até lá e bati na porta.

Chamei três vezes e não tive resposta, voltei a ligar no telefone dele e depois da quinta chamada ele atende com uma voz pesada.

- Estava dormindo até agora?

- Han? Que horas são Henrique?

- Quase meio dia, cara. Abre aqui a porta, tou do lado de fora do seu quarto.

Alguns minutos e ele vem abrir, ainda estava com a mesma calça de ontem.

- O que houve com você?

- Tava conversando com a Laura, o dia amanheceu e eu não tinha dormido, acho que apaguei e não percebi. Agora tou com uma baita dor de cabeça e morrendo de fome. Vou tomar banho e a gente desce pra almoçar, pode ser?

- Claro, vou ficar aqui te esperando! Enquanto isso posso ler sua conversa com a Laura né? Sou seu advogado e você não pode esconder nada de mim.

Dei uma risada porque sabia que ele não ia me deixar ler. Vejo ele saindo furioso do banheiro.

- Nem pense nisso. Além de tudo, tenho certeza que você não vai querer ler essa conversa.

Ele joga uma almofada em mim e leva o telefone pro banheiro, seja lá o que eles tenham conversado, ele realmente está a fim dela, porque nunca escondeu nada de mim e sempre soube de todos os seus casos, alguns até com muitos detalhes que preferia não saber.

Depois que ele se arruma e a gente vai almoçar, encaro a janela e lembro daquela moça que vi chorando aqui na frente. Será que vou reencontrá-la como aconteceu com Allan e Laura.

Bom, se for pra acontecer, será no tempo certo.

O resto da tarde ficamos ocupados com os assuntos da farmácia. Tinha sempre muita coisa pra resolver. Na hora do jantar Allan abriu um sorriso e disse que eu não deveria demorar a me trocar porque íamos voltar no restaurante da "sua doce Laura".