Os motivos para o sim

— Eu não entendo, mas você não quer um relacionamento. Como está falando sobre casamento? — Liana não entendia onde ele queria chegar.

— Seríamos como colegas de quarto com benefícios. Eu estarei ao seu lado sempre que precisar e você do meu. Nesse meio tempo, pode se organizar. Quando a gente se separar as crianças vão ter dois anos. Você poderá trabalhar e elas estarão na escola. Também terá direito a pensão e tudo mais. E para ser sincero, nunca pensei na ideia de ser pai, mas tive um avô super presente e um grande pai. Quero ser assim para meus filhos. Casar com outra pessoa, tornaria isso impossível. — Lucas explicou, queria participar de todos os momentos dos seus filhos.

— Quer dizer que estaremos casados apenas no papel? Não teríamos responsabilidade nenhuma um com o outro e dividiremos as responsabilidades da crianças? Quando o tempo terminar, vou embora com uma pensão gorda? — Liana confirmava se havia entendido certo.

— Claro que teremos responsabilidade um com o outro. Não irei me envolver com nenhuma outra mulher além de você nesses três anos. Espero que faça o mesmo. Irei cumprir todos os deveres de marido, mas não pode me exigir amor. Nesses três anos serei o marido perfeito. Você terá uma gravidez perfeita. E estarei contigo todo o tempo. — Lucas explicou, mas Liana ainda não conseguia entender.

— Não entendo qual a diferença disso para um relacionamento. Isso é a mesma coisa de está casado de verdade. — Liana questinou.

— A diferença é que nós dois sabemos a razão de estarmos juntos. Ninguém vai exigir amor de ninguém. Saberemos respeitar o limite do outro. E teremos total ciência que acabará. Que em três anos haverá um fim cada um seguirá a sua vida. — Lucas explicou.

— Não, eu não acredito que seja. Você apenas se sente mais confortável porque estará no controle de quando vai começar e acabar, mas nenhum tipo de relação humana está no controle. Eu realmente entendo que talvez seja a melhor forma para mim nesse momento, mas podíamos apenas ir morar juntos, como colegas de quarto, sei lá. Não precisava de um casamento. Em que ano estamos? Só por perder a virgindade ou estou grávida, tenho que casar com o autor do crime? — Liana gostava de história, mas não de viver no passado.

— Autor do crime? Bem, tenho a minha parcela de culpa mesmo, mas no caso do casamento é necessário para conseguir herdar tudo. Se preferir, você pode ficar em um quarto diferente do meu. Não precisamos dividir o mesmo quarto. E podemos combinar até onde haverá contato físico. Quero dizer, você pode estabelecer os seus limites, entende? Eu terei que casar de toda forma, ao menos, se for com você terei uma companheira de quarto divertida, que é uma péssima cantora e também estarei por perto dos meus filhos. Eu não conheço Sheila, não sei como ela poderia tratar os enteados, prefiro não arriscar — Lucas tentou inventar todas as desculpas possíveis, se tivesse que casar com alguém, que fosse com a Liana.

— Posso dar a resposta amanhã? Eu não sou boa em respostas imediatas, ainda mais, algo nessa importância, mas você tem um ponto, quando fala sobre a convivência diária com os bebês e sobre não ter ideia de como Sheila trataria eles. Não quero desconfiar dela, nem conheço, mas os seres humanos podem ser imprevisíveis. — Liana não tinha uma resposta para aquela oferta, mas sabia que não era uma proposta ruim.

— Bem na hora. A comida chegou. Vou buscar. Que tal comer e descansar um pouco, depois te deixarei em casa. Você parece terrivelmente casada. Até imagino o que tirou o seu sono. — Lucas mudou de assunto. Não iria desistir daquele casamento, mas achou melhor deixar Liana pensar na idéia um pouco.

Lucas recebeu o entregador na porta, serviu a comida na mesa, como estava na dúvida, havia pedido um pouco de tudo, organizou também os pratos e talheres, tirou um suco de laranja na geladeira.

— Você mora aqui? Acredito que não. Não há funcionárias aqui? Você tem cara de quem não sabe ferver uma água. — Liana brincou assistindo Lucas arrumando tudo com cuidado. — Eu até ofereceria a minha ajuda, mas é fofo ver um cara de terno e gravata colocando a mesa.

— Sim, eu moro aqui. Na verdade, eu acabei demitindo todas as funcionárias, mas claro, se você quiser eu coloco alguém quando a gente for morar junto. Você conheceu a minha mãe, né? Ela não é uma mãe ruim, mas ela é do tipo que gosta de dar opinião em tudo. Tem uma necessidade absurda de ter o controle das coisas. O que é bem diferente do meu pai, que nunca sabe onde colocou o celular. São diferentes. Então você já pode imaginar como é o dia-a-dia da casa onde eu morei boa parte da vida. Quando comecei a trabalhar com o meu avô, eu decidi morar sozinho. Queria um pouco de paz e liberdade. Então, o meu avô me deu essa casa. Disse que eu precisava de paz e tranquilidade para crescer bem. — Lucas serviu o suco no copo de Liana — Pode se servir. Não sei o que você gosta.

— Então, se eu aceitar a sua proposta, vamos morar aqui? — Liana olhou surpresa. O lugar era grande, mas não parecia extremamente luxuoso, tinha um perfil confortável, embora tecnológico.

— Eu gostaria, não tem lugar que me acalme mais do que esse lugar, mas podemos ver outro lugar, se preferir. — Lucas explicou enquanto se servia.

— Sheila não quis morar aqui? — Liana questionou. Lucas riu notando o pequeno rastro de ciúmes em sua voz.

— Não ofereci. Você é a primeira que vem aqui. Apenas a minha mãe, amigos e funcionários tiveram acesso ao lugar. Como disse é um lugar de paz, não posso trazer qualquer um. — Lucas explicou sorrindo passando os camarões para Liana.

— E, porque eu estou aqui? — Liana questionou confusa.

— Você é a mãe dos meus filhos. Não é qualquer uma. — Lucas respondeu, mas tinha outra razão.

Liana se surpreendeu com aquela resposta, Lucas havia aceitado a situação muito mais rápido do que ela, que levou praticamente o dia inteiro. O pensamento de Liana foi interrompido pelo telefone de Lucas tocando sem parar.

— Oi... Não... Estou em casa.. Que? Como assim? Minha mãe está presa? Ela brigou com quem? Não! Ahn? Eu não acredito. — Lucas atendeu o celular ao ver o nome de sua avó no visor, mas se surpreendeu com a notícia que recebeu.