A volta para casa.

Liana levantou da cama cambaleando, procurou as suas roupas, encontrou o vestido e o sutiã, não conseguiu encontrar de forma alguma sua calcinha. Pegou o seu celular na bolsa, estava desligado, havia descarregado depois de tantas ligações. Ela pensou em acordar Lucas, mas a situação ficaria ainda mais constrangedora. Lembrou que ele havia deixado claro que não estava buscando algo sério. Nada poderia sair dali, acordando ou não ele, não mudaria nada.

Liana prendeu o seu cabelo, passou água no rosto e saiu. Deixando Lucas dormindo. Por sorte, quando estava chegando na parada, o ônibus se aproximou. O hotel onde estavam era perto do seu bairro onde ela morava. Cerca de vinte minutos depois, já estava na porta de casa, respirando fundo, juntando forças para entrar.

— A polícia não diz nada. Como ousam dizer que a minha filha fugiu de casa. —Joana gritou indignada. Passou a noite ligando para polícia, que sempre davam a mesma resposta. — Eu vou morrer desse jeito. Eu não tenho idade para essas coisas. Meu coração parece que vai parar.

— O que mais, foi para um jantar romântico com um médico bonito. Deve ter esquentado. A noite de ontem foi bem quente, né? Você queria ter um genro médico, parece que conseguiu o que queria. Quem diria que Liana faria algo assim. — Dalila disse entre bocejos, a sua mãe havia passado a madrugada inteira andando de um lado para o outro esperando por sua filha.

— Minha filha jamais faria isso. Nenhuma delas. Eu criei vocês direito. Vocês não me dariam esse desgosto. Deve ter acontecido algo com a sua irmã. Temos que mandar a polícia atrás dela. Não fale besteira. Continue ligando para sua irmã. — Joana estava prestes a surtar. A sua filha nunca sequer tinha passado do horário para chegar em casa, passar a noite fora de casa nunca aconteceu e muito menos ficar sem responder às ligações da sua mãe. — Será que está na casa da sua irmã? Ligue para Laiane. Veja se ela tem alguma notícia de...

— Liana... — Dalila interrompeu a sua mãe, ao ver sua irmã entrando bem devagarinho em casa com os saltos nas mãos e a maquiagem borrada.

— Filha! Aí meu deus! Você está bem? Eu tive tanto medo do que podia ter te acontecido. Pensei que estava morta. Aí.. — Joana se jogou nos braços da filha. — Te liguei tantas vezes, porque não atendeu.

— Estou bem, mamãe, nada aconteceu. Se acalme. Já estou em casa. Meu celular descarregou. Estou tão cansada. Irei me deixar. — Liana sentia todo seu corpo doendo. Não sabia se estava relacionado a ressaca que sentia ou ao que tinha feito com Lucas.

— Como é que é? Não te aconteceu nada? Você passou a noite fora e não aconteceu nada? O que você estava fazendo na rua até essa hora? Porque não me ligou? Onde você estava? — Joana se afastou olhando sério para filha.

— É... que... estava jantando? — Liana não sabia o que responder, sua mãe ia surtar se soubesse tudo que aprontou.

— Sim, mamãe, ela estava jantando. — Dalila gargalhou, havia visto os stories de Liana durante a noite, mas não podia mostrar a sua mãe, deixou que a sua irmã resolvesse sozinha a bagunça que criou.

— Você está me achando idiota? Quem passa quase 12 horas. Quer matar a sua mãe do coração? Eu por acaso te criei assim — Joana foi na direção da filha com uma vassoura, Liana subiu as escadas correndo, fugindo da sua mãe.

— Mãe! Para com isso. Eu não sou uma criança. — Liana gritou trancando no quarto. Ela sabia que estava errada, mas não ia conseguir conversar com a sua mãe naquela situação.

— Você pode ter 100 anos, mas ainda assim, não pode simplesmente desaparecer. Quer matar a sua mãe do coração? Por acaso pensa que por ser grande, ter um diploma ou idade muda a preocupação que a sua mãe tem por você? Liana você nunca foi irresponsável. Porque agora? Depois de velha vai dar trabalho como Dalila? — Joana batia na porta nervosa.

— Não me mete na história. Não fui eu que fiquei jantando até às 11h da manhã. Foi a sua filha preferida que fez isso, a ovelha desgarrada da família estava te consolando. — Dalila fez o drama.

— Não comece. Não comece. Ah! Eu tenho que ir trabalhar. Já estamos atrasadas para abrir a loja. Estou indo. Quando voltar eu quero saber direitinho o que você estava fazendo. Entendeu? — Joana tinha uma pequena lanchonete que gerava renda para manter a casa.

Liana respirou fundo, tinha a sensação que tinha sido atropelada. O seu corpo inteiro estava doendo. Ela só queria tomar um banho. Mal conseguia pensar no que tinha acontecido, muito menos explicar a sua mãe que tinha de alguma forma bebido demais e dormido com um desconhecido.

Enquando isso, na casa de Lucas, o caos estava armado. Sheila havia ligado para Fátima, mãe de Lucas. Dito que ele havia deixado ela esperando a noite inteira com não atendeu o telefone.

— Onde Lucas se meteu, ele saiu daqui dizendo que iria encontrar com ela. — Fátima gritou nervosa. Havia ouvido por horas as reclamações de Sheila.

— Sabíamos que ele não queria se encontrar com ninguém, mas não há nada que possamos fazer. Não podemos forçar ele a se encontrar com quem não quer. Ele é adulto. Não é mais uma criança. Não temos poder sobre as escolhas dele. — Sandro disse tentar fazer a sua esposa compreender que estava além dos seus poderes.

— Eu pedi apenas um encontro. Ele aceito. Podia ao menos ter respeitado o que me disse. O que eu direi para mãe de Sheila? Isso é ridículo. Agora Lucas não tem escolha. Ele querendo ou não, terá que casar com ela. A parte de hoje, iremos organizar o casamento dele. Se ele não me respeitou, também não irei respeitar ele. — Fátima gritou — Que tipo de filho criamos, desapareceu, não atendeu o celular e nem voltou para casa. Que falta de respeito é essa. Vou ligar agora para mãe de Sheila e confirmar esse casamento.

— Querida, isso não vai dar certo. Lucas não vai aceitar esse casamento. Você sofrerá um constrangimento ainda maior. — Sandro tentou persuadir a esposa que estava decidida.

— Não. Pode deixar. Eu farei esse casamento acontecer. Nem que seja a última coisa que eu faça. — Fátima disse antes de pegar o celular.

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