presa no paraíso

Pego meu último cigarro do bolso e fumo, a água toca meus pés, o vento os meus cabelos, não posso negar, é como se tivesse no paraíso, mas no caso aqui, o paraíso seria uma prisão, pelo que observei, não irei sair daqui tão cedo, nem minhas próprias roupas poderei escolher, só espero que aquela vaca tenha bom gosto, meu cigarro já está no fim, ouço o ranger do soalho do deck, olho para ver o que é, vejo o senhor German vindo em minha direção, ele senta ao meu lado.

— Bom dia Ana!

— Bom dia!

— Tudo bem com você?

— Estou ótima!

— Que bom, fico muito feliz em saber disso, sei que não é da minha conta, mas a quanto tempo você fuma?

— Tem razão, não é da sua conta, digo olhando em seus olhos, eu tento ser o mais grossa possível, mas como posso tratar uma pessoa de idade assim.

— A uns dois anos.

— Sei que não está sendo fácil pra você, mas o que fez você começar a fumar? Eu não respondo a sua pergunta, fico em silêncio olhando para a mansidão do lago.

— Tudo bem, não precisa falar.

— O quanto o senhor sabe de mim?

-- Muita coisa!

— Sobre dez de junho? Pergunto ansiosa.

— Sim.

— O que o senhor acha que aconteceu naquela noite?

— Sei que não tentou se matar.

— Sabe de alguma coisa que eu não sei?

— Não sei se você sabe, mas sei que o médico foi subornado.

— Eu não sabia, sabe o nome dele?

— Qual é?

— Não há nada que possa fazer.

— Se não vai me falar, saia daqui, eu não quero mais falar disso, é passado, não tem porque ficar remoendo.

— Quando decidir falar, eu e Joseph vamos estar aqui para te ouvir.

— O Joseph sabe?

— Não, ele só saberá, se você decidir contar.

-- Ele nunca vai saber, eu me levanto e me retiro dali, estou aflita, com um turbilhão de pensamentos, minha barriga dói, e meu corpo treme é a ansiedade me consumindo, entro na casa e Amélia vem em minha direção dizendo que o almoço já será servido, apenas digo que não estou com fome e subo as escadas, entro no quarto, vou ao toalete, tiro minhas roupas e entro na banheira, olho as cicatrizes em meus braços, e mesmo me esforçando para não chorar, as lágrimas pingam de meus olhos, eu lembro de cada segundo daquela noite, cada cheiro, cada sentimento, o desespero, a angústia, achei que com o tempo fosse cicatrizar, as feridas se cicatrizaram, mas meu coração não, como se todo dia fosse golpeado novamente, termino meu banho, vou até o closet e pego a minha mochila, e visto minha última roupa limpa.

O closet é enorme, há muitas prateleiras e gavetas, ele fuma, então deve ter cigarro aqui em algum lugar, abro uma gaveta e está cheio de cueca, não que eu queira ficar mechendo nas suas roupas íntimas, mas preciso de cigarro, não encontro nada na primeira gaveta, então abro a segunda, mas só tem relógios, todos de marca e muito caro, abro a terceira gaveta, há várias camisinhas, mas também encontro cigarros, maconha e coca, eita ele é da pesada, pego a carteira de cigarro, mas antes de eu fechar a gaveta vejo Joseph parado na porta do closet.

— Não gosto que meche nas minhas coisas.

— Preciso de cigarro.

— Não sei se você tem celular, mas comprei esse para você, tem meu número, do meu vô e da clínica que seu pai está, caso queira ter notícias.

— Quero ver ele.

-- Não.

— Porquê?

— Não quero.

-- Idiota digo saindo do closet passando por ele, me deito na cama, pego um cigarro e fumo, ele continua na porta do closet por alguns segundos, vem e minha direção, tira o cigarro da minha boca e fuma, não digo nada, apenas observo, ele da algumas tragadas e me devolve, não posso negar, ele é lindo, paro e pergunto a mim mesmo, sobre o que acabei de pensar, eu não havia reparado, mas ele tem tatuagens nas mãos.

— A Thiana vai trazer suas novas roupas a tarde, jogue fora essas que você trouxe quando ela chegar se arrume adequadamente, tenho um compromisso hoje e você vai comigo.

-- Prefiro não ir.

-- Não te perguntei se você quer ir, é uma ordem, apenas obedeça.

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