Após os pesquisadores se juntarem aos cavaleiros designados por Liam para coletar informações sobre o local do ataque, confirmando minhas observações sobre a estrada destruída, que causou preocupação com a possibilidade de um ataque de dragão.
Por minha própria decisão, pedi a Liam que mantivesse em sigilo todas as informações que possuo sobre a Sombra Verdadeira e qualquer assunto relacionado a isso, por enquanto.
Seria alarmante para a população comum, além da preocupação com um possível ataque de dragão, perceber que também enfrentamos a ameaça de uma criatura capaz de trazer o fim ao mundo conhecido.
Portanto, tanto o público quanto os cavaleiros que nos acompanham estão mantidos no escuro sobre essas informações, visando a segurança de todos.
Agora que os soldados voltaram, estamos nos preparando para retornar. Estou bastante ansioso para conhecer a capital. Será tão incrível como dizem?
Tenho auxiliado os soldados com seus dilemas. Alguns estão tensos com a ameaça do dragão, então me ofereci para conversar com eles e acalmar suas emoções.
Essa abordagem tem sido eficaz. Minha habilidade de ler os corações me permite escolher as palavras certas para confortar cada um deles.
Isso os fazem me ver como alguém confiável. Estabelecer laços pode ser algo valioso, além de vantajoso. Afinal, um Guardião, ao entrar em um novo mundo, precisa contar com pessoas ao seu lado para completar suas missões.
Um dos soldados, visivelmente tenso com a situação do suposto dragão, aproxima-se de mim, procurando consolo.
— R-Renier, você acha que é mesmo um dragão? Eles são tão assustadores nas histórias... — ele pergunta com os olhos cheios de preocupação.
Eu coloco uma mão gentil em seu ombro, buscando acalmar seus receios. Meu tom é suave e reconfortante.
— Entendo seus medos. As histórias sobre dragões costumam ser cheias de terror e desolação. Mas lembre-se de que, muitas vezes, a realidade é diferente da fantasia. Não sabemos ao certo o que enfrentaremos, mas estamos nos preparando da melhor maneira possível. E, mesmo diante de desafios assustadores, o poder da união e da coragem pode superar qualquer adversidade…
O soldado olha nos meus olhos, aparentemente tranquilizado pelas minhas palavras.
— Obrigado, Renier. Suas palavras me acalmaram. Acredito que, com você ao nosso lado, podemos superar qualquer desafio, dragão ou não.
Sorrio com gratidão, reconhecendo a força de sua determinação.
— Você é corajoso e forte. Estamos juntos nessa jornada, e juntos, somos mais poderosos do que qualquer ameaça que possa surgir.
O soldado acena com a cabeça, sentindo-se fortalecido, e retorna aos seus companheiros, com um semblante mais confiante.
Eles são fáceis de consolar, afinal ter alguém que fale com um semblante confiante faz as pessoas ao redor sentirem o mesmo…
Os cavalos também parecem perceber a tensão no ar; os animais costumam ser sensíveis às mudanças de clima e energia. A presença da energia caótica de Dark não é reconfortante para a mente de ninguém, mas, como Guardião, meu corpo reage de maneira peculiar a grandes campos de energia, conhecidos como Full Moon, como minha mãe mencionou. Esse tipo de energia tende a acalmar os seres vivos.
Não deixa de ser uma ótima habilidade natural…
Lembro-me de uma situação na floresta em que intencionalmente usei esse dom para auxiliar uma única pessoa. Naquele momento, percebi que Seraline estava sendo corrompida. Agi imediatamente, liberando minha energia para purificá-la e interromper a corrupção.
Contudo, esse ato resultou em um evento singular. Sua reencarnação ocorreu simultaneamente à correção de sua corrupção. Durante esse processo, um bloqueio de mana que a mantinha presa foi removido por minha energia, liberando um poder esquecido dentro dela. Memórias e informações há muito tempo aprisionadas surgiram à tona.
A Seraline atual é uma fusão dessas duas presenças. A Rainha dos Demônios, Seraline, é a verdadeira, mas a Seraline anterior também faz parte dela. Quando ela reencarnou, as informações foram transferidas para a rainha, fundindo-se em uma única entidade. No entanto, a personalidade dominante agora parece ser a da nova Seraline, com sua energia renovada e o passado desbloqueado.
A viagem continua, e como todos, estou ansioso para seguir em frente. No entanto, algo parece atrasar nosso progresso...
— Maldito cavalo! — um grito de raiva ressoa à distância.
Ao me aproximar, percebo um soldado irritado. Sua barba maltratada e um olhar profundo indicam que ele é o que geralmente chamam de "velho bêbado".
Ele se encontra com outros soldados ao redor de uma carruagem de madeira destinada a carregar soldados na parte de trás. Sem proteção, a carruagem é utilizada apenas para transporte.
— O que está acontecendo? — aproximo-me, intrigado com a frustração do soldado.
— Ah!? — o soldado se aproxima e me encara. Um odor de álcool escapa de sua boca. — Ah, você é o pirralho que o Santo da Espada rasgou... Não aconteceu nada. Só que esse cavalo estúpido se recusa a se mover...
Observo o relho em suas mãos e as marcas de chicotadas na parte traseira do cavalo.
— E você acredita que espancá-lo fará com que ele se mova? — questiono, lançando-lhe um olhar de deboche.
— Hã? Que cara é essa!? Se um animal não faz o que é mandado, a maior punição que deve receber é uma repreensão. Esse cavalo deve obedecer ao seu mestre.
Suspiro profundamente para conter minha frustração. Essa mentalidade é a coisa mais estúpida que já ouvi. O cavalo já está assustado, e machucá-lo só o tornará mais acuado.
— Mestre? Que conceito idiota. Não acha que você merece ser punido? — debocho dele, recusando-me a ceder à sua autoridade.
— Como ousa falar assim?! Maldito pirralho, esqueceu que está se dirigindo a um oficial? — ele responde, furioso com minha atitude.
Reviro os olhos com indignação.
— Não dou a mínima para a sua patente. Usar força contra alguém só porque é dono? Você é extremamente tolo se acredita que um cavalo terá confiança em alguém que o machuca. Use o que você chama de cérebro, oficial... — reforço meu desdém, mantendo a firmeza mesmo diante de sua autoridade. Não vou me curvar diante do que é claramente errado.
Com um olhar indignado, o oficial tentou recuperar sua autoridade.
— Escute bem, garoto, não é da sua conta. Este cavalo deve aprender a obedecer. Não sei o que você entende dessas coisas...
— Ah, então, você é um especialista em "educar" cavalos? — provoquei com um sorriso sarcástico. — Acho que eles deveriam contratar um oficial equestre em vez de um oficial embriagado.
Os outros soldados em volta mal conseguem conter seus sorrisos diante da troca de farpas.
O oficial parece prestes a explodir de raiva, mas, talvez percebendo que estava perdendo terreno, decide soltar uma risada forçada.
— Hahaha, muito bem, jovem. Quem precisa de um oficial equestre quando temos você, hein? — ele diz com uma ironia mal disfarçada.
— Exatamente. Economizarão uma fortuna em chicotes, — respondo, mantendo meu deboche.
Os risos dos outros soldados se intensificam, e o oficial, finalmente admitindo a derrota, dá de ombros.
— O que quer que seja. Mas este cavalo ainda precisa aprender sua lição.
— Bem, eu sei tudo sobre lições, então talvez eu possa ajudar. — Sugiro, inclinando-me para o cavalo e sussurrando: — Escute, amigo, não deixe que esse oficial embriagado te faça de bobo. Mantenha a cabeça erguida.
Os soldados riem, o cavalo parece ter apreciado o conselho.
O oficial simplesmente balança a cabeça, ainda com um sorriso amargo.
— Vocês são todos insolentes, — ele murmura enquanto se afasta, procurando uma solução alternativa para o problema do cavalo.
Sorrio satisfeito com a pequena vitória, e o clima tenso é substituído por risadas e conversas animadas entre os soldados.
Olho para o cavalo e acaricio gentilmente sua crina para acalmá-lo, mas percebo que ele ainda está inquieto, seus olhos expressando medo.
— Você não precisa mais ter medo, companheiro. Estou aqui. Deixe todas as suas dores e preocupações de lado. Apenas siga em frente com confiança, — sussurrou no ouvido do cavalo.
O reflexo de minha voz nos olhos do animal indica que ele entendeu. Ele bateu seu casco no chão e relincha, demonstrando prontidão para a partida.
— Acho que podemos continuar nossa jornada agora. Esse garoto aqui não vai parar até chegarmos ao nosso destino, — comento com o oficial.
O oficial, surpreso e visivelmente assombrado, não consegue esconder sua incredulidade.
— Como diabos você fez isso? Cuido desse cavalo há quatro meses e nunca me deu ouvidos. Apenas com algumas palavras, você o fez obedecer, — ele exclama, sentindo-se indignado e derrotado ao mesmo tempo.
Respiro fundo, ligeiramente frustrado com sua atitude desrespeitosa.
— A responsabilidade pela condução é sua a partir de agora, tenho certeza de que ele ouvirá. No entanto, se eu descobrir que você ousou usar esse chicote nele novamente... — lanço um olhar desafiador ao oficial. — Então, você será aquele a puxar essa carruagem...
O oficial perde completamente a compostura e solta um grito de raiva.
— Pirralho maldito!!! — ele brada, ultrapassando o limite de seu autocontrole. Ele saca sua espada e se lança em minha direção, mas, no último momento, uma mão segura a lâmina, impedindo-a de chegar a poucos centímetros do meu rosto.
Quem surge para bloquear o ataque é Irys, seus olhos gélidos fixados no oficial, que se encontra assustado e nervoso diante da presença da mulher.
— A-a irmã do Santo... — o oficial tenta falar, mas é interrompido pela própria.
Com uma voz fria e indiferente, Irys faz questão de relembrar sua posição.
— Quando estou em campo, soldado, não sou a irmã do Santo da Espada; sou o braço direito de Vossa Alteza Anastasia e ostento uma patente superior à sua. Saiba que da próxima vez, uma punição adequada para sua falta de disciplina será a execução. Entendido? — Ela diz, quebrando a lâmina da espada com as mãos, fazendo com que o soldado se ajoelhe, colocando a cabeça no chão, visivelmente suando de medo.
— S-Sim, peço misericórdia pela minha falta de modos, Lady Irys Lightstrike... — ele responde, com voz hesitante, tremendo de medo, sem coragem de erguer o olhar.
Irys faz uma breve pausa e volta sua atenção para o cavalo. Sem cerimônia, ela pressiona a ponta de sua bota na cabeça do soldado. Felizmente, o capacete do soldado o protege de qualquer dano físico.
— Considere isso uma lição por ter negligenciado o cuidado com seu cavalo. Lembre-se de que ele é seu aliado, assim como qualquer outro soldado. Perder a confiança de seu aliado pode levar à sua própria morte. A Imperatriz Anastasia não tolera que seus soldados descuidem de seus deveres, — Irys diz com os olhos vermelhos fixados na alma do soldado, que agora está desmaiado no chão, devido à força que ela aplicou com o pé.
— Acho que ele não está mais ouvindo... — comento em um tom calmo.
— Oh? — Irys não havia notado que o soldado desmaiou devido ao seu golpe. — Esses soldados são tão fracos... Coloquei apenas um pouco de força, e ele decidiu dormir...
Ela cruza os braços e depois volta sua atenção para mim, avaliando-me.
— Você não demonstra respeito algum pelas pessoas superiores a você. Nem vi hesitação em sua voz quando se dirigiu a ele anteriormente, — Irys comenta, me analisando. — Você sabe que, se não estivesse sob nossos cuidados, não escaparia impune disso, não é?
— É incrível você achar que isso me afetaria de alguma forma, — respondo com franqueza, fazendo o sorriso desaparecer. — Se percebo algo errado, mesmo sendo um deus ou rei, não abaixarei a cabeça só por causa de uma autoridade.
As palavras parecem atingir Irys, seus olhos anteriormente frios demonstram uma mudança quando sua testa se enrugou ligeiramente.
— Seu orgulho é notável, mas soa mais como arrogância, Guardião Lunar. Isso implica que você não demonstrará lealdade à nossa Imperatriz quando a conhecer...
Minhas palavras ecoam como um desafio à sua autoridade e à Imperatriz, embora essa não fosse minha intenção. Parece que, sem querer, pisei em um campo minado.
Nossa conversa estava prestes a entrar em um território ainda mais delicado quando Irys, de repente, olha fixamente para mim, seus olhos vermelhos perdendo um pouco do seu brilho gélido.
— Você não conhece as nuances de nossa corte ou de nossa imperatriz. Ela é uma líder sábia e forte, e um Guardião Lunar deve mostrar lealdade total a ela, — diz Irys, agora com um tom de voz mais contido, mas ainda com respeito.
Eu a encaro por um momento, então um sorriso um pouco irônico escapa dos meus lábios.
— Você pode se surpreender, Irys. O respeito que tenho por você também é notável, — murmuro enquanto olho para ela com um olhar penetrante. — E, como dizem, o respeito é um começo para algo mais profundo, não é?
Os olhos de Irys vacilam por um instante, como se ela não esperasse ouvir essas palavras de mim. Seus lábios se entreabrem, mas ela não responde de imediato. A tensão no ar parece ter se transformado em algo diferente, algo mais pessoal.
— Renier... — diz ela com uma voz mais suave e, pela primeira vez, sem sua habitual rigidez. — Você é um desafio, isso é certo. Vamos seguir adiante, e talvez então compreenderá melhor as complexidades de nossa situação.
Consegui mudar o clima da situação como desejado…
— O que vocês dois estão conversando aí? Estamos de partida, então não percam tempo, — diz Liam, se aproximando e cruzando os braços. — Cada segundo é valioso...
Liam observa Irys, percebendo que ela está um pouco corada.
— Irys, algo aconteceu? Você parece diferente... — ele se aproxima, preocupado com a mudança em sua atitude.
Irys, por outro lado, se afasta, voltando à sua postura habitual.
— Não é nada, vamos continuar nossa viagem... — ela responde, indo até o seu cavalo e deixando-nos dois sozinhos.
— Eu fiz algo de errado? — Liam coça a nuca, confuso com a situação.
— Não, não é nada, apenas uma conversa, — eu respondo, enquanto vou ao encontro de Seraline.
— O que aconteceu entre esses dois? — Liam, ainda perplexo, observa a cena e depois dá de ombros. Sem entender o que aconteceu entre nós, ele retorna ao seu cavalo, pronto para seguir a jornada junto com todos.
Continua…
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Atualizado até capítulo 42
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