Capítulo 17: Aliados Inesperados e Revelações da Sombra Verdadeira.

Após seguirmos com Liam e sua irmã Irys para o acampamento, situado mais adiante do nosso ponto inicial, encontramos um grupo composto por cerca de 10 soldados.

— Será esse número suficiente para enfrentar um dragão? — perguntei, minha curiosidade evidente.

Liam esclareceu que o grupo tinha a missão de reconhecimento e coleta de informações sobre o local onde o dragão negro fora avistado.

Durante o caminho, Liam me alertou sobre a imensa força e superioridade que os dragões representam, tornando um confronto direto com eles quase suicida.

Agora estávamos dentro de uma tenda, acompanhados por Liam e Irys, enquanto Seraline permanecia ao meu lado.

Um soldado, com um elmo prateado sobre a cabeça, fornecia detalhes sobre as informações obtidas dos fazendeiros locais. Segundo os relatos, o dragão negro emergiu das nuvens em meio a uma tempestade de raios roxos, lançando uma rajada de fogo roxo em direção ao solo antes de voltar aos céus.

A incredulidade se mostrava clara no rosto do soldado, mostrando o quão extraordinário aquilo soava.

— Parece difícil de acreditar que uma criatura assim simplesmente surja do nada, — comentou Liam, refletindo sobre as informações.

— Por que seria difícil de acreditar? — questionei, curioso.

— Dragões são criaturas que não surgem aleatoriamente. São como lendas, raramente avistados nos céus. Portanto, não faz sentido um dragão aparecer e desaparecer assim, — explicou Liam, olhando para mim.

Seraline soltou um pequeno sorriso convencido.

— Hah, essa é uma mentalidade bem limitada, não acha? Acreditar que algo não pode acontecer apenas porque raramente ocorre é um traço típico dos humanos, — comentou Seraline.

Isso, no entanto, irritou profundamente o soldado, que sacou sua espada em resposta à provocação de Seraline.

— Maldita! Como ousa falar assim com o Santo da Espada! — gritou o soldado.

Liam interveio prontamente, colocando a mão na frente do soldado para sinalizar que ele guardasse a espada.

— Desculpe por isso, mas ela está certa. Limitar-se a acreditar que algo é impossível só porque raramente acontece pode ser prejudicial no futuro, — disse Liam.

Liam compreendeu a situação, mas Seraline deveria evitar provocar os humanos dessa maneira. Planejo falar com ela sobre isso mais tarde.

Havia uma mesa com um mapa da região, aparentemente desenhado à mão. Toquei o local marcado com uma linha vermelha, indicando a área onde o dragão havia sido avistado, próxima à Floresta dos Perdidos.

—  O povo disse que o dragão disparou uma rajada de energia da boca nessa localização, não é? — perguntei, olhando para o soldado.

— Ah, sim. Segundo os fazendeiros, foi nessa área, perto da Floresta dos Perdidos. Por quê? — questionou o soldado, parecendo intrigado.

— Foi na mesma direção da qual viemos. Durante o caminho, encontramos a estrada danificada em linha reta por uma barragem de água, de acordo com o que vemos no mapa. Parece que a história pode ter alguma verdade, — comentei, olhando para Liam.

— Então, parece que algo realmente aconteceu, — concordou Liam. — Mande um grupo para analisar e coletar dados para levar de volta à capital. Se um dragão como esse estiver à solta e causando destruição, pode ser catastrófico para o povo! — ordenou ele ao soldado.

O soldado respondeu prontamente e saiu da tenda para cumprir a ordem.

Sem querer, deixei escapar uma risada involuntária, surpreendendo tanto os dois como Seraline.

— Ah, desculpe… — falei um pouco constrangido.

Liam parecia curioso com a risada.

— O que aconteceu? — perguntou ele.

— Acontece que me pareceu que a ordem partiu de você. Você não parece gostar muito de dar ordens, ou algo do tipo... — comentei.

O rosto de Liam demonstrou espanto.

— Você é bastante observador, — disse ele, com um sorriso. — Ninguém notou isso que eu me lembre. Na verdade, eu prefiro estar no campo de batalha, empunhando minha espada. Acredito que dar ordens não é para mim…

— Eu compartilho do seu sentimento. Prefiro estar ativo fazendo as coisas do que apenas esperar passivamente. Parece que temos algo em comum, — respondi, sorrindo.

Seraline e Irys trocaram olhares, observando nossa interação com curiosidade.

— Se vocês quiserem um momento a sós, podemos sair da tenda, — sugeriu Irys, parecendo intrigada com nossa relação.

Liam, por outro lado, estava constrangido e respondeu com sarcasmo.

— Você acabou de quebrar o clima, minha irmã, obrigado… — disse ele.

— Não precisa agradecer. Quando quiserem privacidade, posso fazer isso de novo, — comentou Irys, sem entender o sarcasmo de Liam.

Era uma situação estranha para mim também. Nunca tive um amigo do mesmo gênero para conversar, então não compreendia totalmente esse tipo de interação…

Agora que percebo, sempre estive rodeado por mulheres, e isso não mudou neste novo mundo.

— Fico feliz por você, Liam, mas ainda temos outro assunto além do dragão, — disse Irys.

— Ah, é verdade. As tais criaturas sombrias que os fazendeiros relataram ter visto... — Liam assentiu. — No entanto, é estranho. Nunca ouvi falar de criaturas que se assemelhem a sombras vivas, com olhos roxos, andando em grupos. Não me lembro de qualquer ensinamento semelhante na capital... — ele se inclinou sobre a mesa, perdido em pensamentos.

Sombras Inferiores... Serão as mesmas que nos atacaram na floresta? Se estavam em grupos, é possível que tenham sido as que enfrentamos...

No entanto, questiono-me se devemos contar a Liam. Envolvê-lo em nosso problema pode não ser a melhor ideia.

Olhei para Seraline, em busca de uma segunda opinião...

Ela apenas me lançou um olhar de ombros, como se dissesse: "a decisão é sua"...

Assim, percebi que como Guardião, cabia a mim tomar a decisão. Era uma responsabilidade pesada.

Depois de um suspiro, decidi que mais aliados e informações eram vitais na luta contra a Sombra Verdadeira e a preservação deste mundo.

— Eu conheço essas criaturas e a origem do Dragão Negro, mas para explicar, vocês terão que confiar em mim. No entanto, o que vou dizer pode parecer absurdo, — comentei, olhando para Liam.

Ambos, Liam e Irys, pareceram surpresos, trocaram olhares e, finalmente, Liam assentiu, fixando seus olhos em mim com seriedade.

— Muito bem, vou confiar em você. Você não parece ser alguém que mentiria, então estou disposto a ouvir, Renier... — respondeu Liam com firmeza.

Agora, como deveria explicar...

— Esse Dragão Negro pode ser uma criatura chamada Sombra Verdadeira, uma abominação que não faz parte deste universo, e é difícil considerá-la como um ser vivo, — expliquei com um olhar sério.

"Sombra Verdadeira...", ecoaram Irys e Liam ao ouvirem o nome.

— Poderia explicar como você sabe disso? Ou melhor, quem é você, Renier? Você parece mais misterioso do que qualquer outra pessoa, — indagou Irys, lançando-me um olhar curioso.

— Sou um Guardião, alguém que lida com essas criaturas chamadas Sombras. É meu dever, meu trabalho, entrar em mundos como o seu e exterminar a Sombra Verdadeira antes que cause um desastre, — afirmei com determinação.

Descrevi para eles a experiência das Sombras Inferiores que enfrentamos na floresta, compartilhando o conhecimento que adquiri sobre a Sombra Verdadeira e Dark. À medida que explicava, notei que ambos estavam ficando cada vez mais assustados, mas tentavam manter a calma por fora.

Depois de ter explicado todos os detalhes sobre minha origem e missão, senti uma pressão silenciosa em relação à minha identidade. Contudo, a confiança que Liam e Irys demonstraram renovou minha determinação em enfrentar a Sombra Verdadeira. Nós agora tínhamos uma equipe comprometida em proteger o mundo. 

— Mas para isso, Renier e Seraline, preciso que vocês voltem conosco para a capital, — disse Irys. — Isso é algo que não envolve apenas o Guardião Lunar, mas sim todo o nosso povo. Nossa Rainha precisa conhecê-lo com urgência.

No entanto, não pude deixar de sentir um certo receio. O medo de que Seraline fosse descoberta, com suas características singulares, era um fardo constante em meu coração. 

Meu rosto é subitamente puxado pelas mãos dela, que me olha, com um sorriso confiante, mas parecendo estar me animando mesmo não conseguindo fazer direito.

No entanto, ela, com seu sorriso confiante, expressou seu apoio incondicional.

— Você não precisa se preocupar. Tenho total confiança em você e em sua capacidade de proteger sua Rainha, assim como vou proteger você. Não fique preso pelas possibilidades, mas sim se concentre no que é certo, — disse Seraline, inspirando-me com sua coragem.

Levei minha mão à dela, concordando com determinação.

— Haha, acho que, sem você, Seraline, não teria chegado tão longe neste lugar, — respondi sorrindo. — Já disse o quanto te amo?

Ela respondeu com um sorriso convencido.

— Já disse várias vezes, e espero que continue dizendo muito mais. Caso contrário, vou quebrar você, se parar de me amar, entendeu? — provocou ela, apesar do sorriso.

A declaração de Seraline era simultaneamente doce e ameaçadora. Ela agiria conforme prometeu, não havia dúvidas.

— Ahem! — fez Liam, chamando nossa atenção. — Desculpe por interromper a intimidade de vocês, mas preciso saber a decisão dos dois... Então, irão para a capital conosco? — perguntou ele, bastante curioso sobre minha decisão.

Seraline parecia incomodada por ser interrompida, mas decidiu não dizer nada, então apenas segurou minha mão.

Assenti com confiança, pronto para dar o próximo passo.

— Sim, iremos até a capital com vocês. Suponho que, mesmo eu sendo o Guardião Lunar, devo permitir que o povo tome decisões importantes neste momento. Estou disposto a conhecer a Rainha e ajudar a proteger este mundo.

Seraline, por sua vez, expressou sua suspeita sobre a situação.

— Sinto que tudo está ocorrendo a nosso favor... Talvez seja melhor ficar alerta. Não estou gostando disso, — pensando Seraline se demonstrava cautelosa com a situação.

O acordo estava feito, e estávamos um passo mais perto de enfrentar a Sombra Verdadeira e proteger este mundo, mas a situação era complexa, e as intenções por trás do convite de Irys continuavam em questão. Por ora, cautela era crucial, e Seraline estava certa em nos lembrar disso.

Continua…

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