Capítulo Vinte

DEVLHAN

Eu estava um pouco ansioso, pois em breve iríamos comemorar três meses de paz. E apesar de eu confiar na Nealie, não confiava nas fadas da espécie dela e muito menos na família dela.

— No evento de amanhã será uma boa oportunidade para investigarem as origens da Nealie.

— Por que está interessado nisso? Ela é a filha de uma falecida amante do rei, não tem segredos — Carter perguntou.

— Não é tão simples, eu entrei na mente dela e...

— Vocês compartilharam esse tipo de feitiço!? — Bryana parou de ler seu livro e me olhou surpresa. — Devan, você gosta dela?

— Definitivamente não e ela é minha esposa, nos cultivamos juntos e dormimos juntos, eu compartilhar magia não é nada demais — Desconversei.

Eu não gostava da Nealie, quer dizer, eu não estava apaixonado. Mas eu gostava o suficiente para permitir que ela me admirasse e me tocasse quando quisesse.

— Ele está apaixonado — Bryana e Carter disseram em uníssono.

— Eu não estou! Vocês são sentimentais demais! — Falei irritado. — Escutem, eu quero que vocês chequem cada canto do palácio do sol, procurem tudo que estiver relacionado a Nealie e tragam para mim.

— Mas podem notar que essas coisas sumiram — Carter retrucou.

— Então pegue uma faca e copie na sua carne cada letra de cada documento — Sorri com ódio.

Carter me olhou horrorizado e eu voltei a ler meus pergaminhos. Sinceramente, meus melhores amigos me estressavam demais.

— Aliás, já resolveram a questão da Amelynda?

— Sim, nós demos um pequeno susto nela — Bryana respondeu. — Tem certeza que não quer matá-la?

— Seria um favor para mim — Carter suspirou cansado já que ela o perseguia há anos.

— Ela não é boa companhia, mas às vezes entretém a Nealie, não quero que a Nealie fique triste — Expliquei e recebi novamente olhares surpresos. — Porque ela não vai querer cultivar se estiver mal-humorada! Minha santa lua, vocês passam o tempo livre lendo romances fúteis!?

— Por que eu leria romance se estou presenciando um?

— Carter! — Gritei furioso enquanto escutava a risada de ambos.

Levantei prestes a castigá-los, mas Nealie entrou no meu escritório sem bater na porta como sempre.

Seu olhar assustado fez eu me acalmar na hora, eu sabia que ela não gostava quando as sombras me consumiam, mesmo que eu fosse inofensivo para ela.

— Eu vim em uma hora ruim? — Ela perguntou já com a mão na maçaneta.

— De jeito nenhum, entre, entre, o Devan estava prestes a nos matar, mas você salvou a gente — Carter sorriu e eu o olhei irritado.

— Fico feliz por salvar a vida de vocês — Nealie sorriu. — Devan, eu já disse que você não deveria resolver tudo com violência.

Meus amigos seguraram o riso. Nealie estava me dando uma bronca na frente de todo mundo, uma bronca no príncipe herdeiro mais frio, cruel, sanguinário e assassino de todos os reinos.

— Fadinha do sol, já que é tão bondosa, por que não se oferece como sacrifício? — Perguntei com um falso sorriso. — Eu prometo que depois que eu comer sua carne vou resolver tudo pacificamente.

— Você não ousaria — Ela me olhou cheia de confiança.

Pude ver ela olhar brevemente para o Carter e Bryana, e acabei rindo com desdém. Ela achava que eles me impediriam?

— Você deve pensar que está segura com eles dois aqui.

— Você quer que a gente saia, Devan? A gente pode ir agora mesmo — Carter sorriu ansioso e puxou Bryana. — Ele está ficando nervoso, vamos embora.

— Eu vou com vocês! — Nealie disse e tentou abrir a porta, mas eu a impedi a segurando com minhas sombras. — Bryana, me leve junto!

— Desculpa, Nealie, ele vai nos caçar até a morte se eu fizer isso.

— Pensa pelo lado bom, ele gosta de...

Joguei um feitiço de teletransporte nos meus dois supostos amigos antes que eu fosse caluniado na frente da Nealie.

— Devan, estamos em uma parceria tão agradável, você não vai me comer de verdade, não é?

— Bom, agora você tem cultivo — Fui me aproximando e ela se afastou. — Não é má ideia.

Eu nunca comi carne de fada do sol em toda a minha vida, nem conheci alguma fada da lua que comesse, mas era bom provocar a Nealie.

— Mas é baixíssimo, não vale a pena — Ela sorriu ansiosa e se encostou ao máximo na porta. — Devan, você está muito...

Pressionei seu corpo com o meu. Pretendia apenas assustá-la um pouco, mas ao vê-la me olhando tão intensa quanto o brilho em seu cabelo, não consegui conter minhas ações. Eu queria beijá-la.

— Nealie — Sussurrei e sorri ao ver seus olhos se direcionarem para a minha boca. Eu a segurei pela cintura e a ergui o suficiente para ficarmos cara a cara. — Eu vou beijar você.

Olhei atentamente em seus olhos procurando qualquer resquício de resistência, mas não havia nenhum. Eu estava certo, ela sentia algo por mim.

Pressionei minha boca contra a dela e iniciei a carícia de lábios que eu havia gostado mais do que deveria. Nealie suspirou e eu aproveitei para enfiar minha língua em sua boca.

A apertei mais forte contra o meu corpo quando senti seu gosto único e me segurei para não tocar seu corpo de forma inapropriada. Pois, eu a queria. Eu estava faminto e de fato queria comê-la, mas não da forma que ela imaginava.

Eu queria fazer com ela todas as coisas que eu repudiava só de pensar, pois eu detestava qualquer tipo de fada e contato físico, mas com a Nealie era diferente.

Seu corpo era frio e agradável, cheiroso de uma forma que nenhuma fada da lua conseguia ser e nem as do sol que conheci. Ela era a única que despertava meus desejos mais impuros e indecentes, meus desejos mais humanos e pecaminosos.

Me afastei sem fôlego de tanto beijar seus lábios doces e Nealie me olhou surpresa.

— Você está pronta para admitir que me ama? — Perguntei convencido.

— Você... Você me beijou de novo!

— E você não recusou.

— Eu teria se você não tivesse me beijado!

— Bom, Nealie, eu não estou segurando seu corpo faz tempo — Ergui minhas mãos e olhei para os seus braços ao redor do meu pescoço.

Ela arregalou os olhos e me soltou imediatamente. Acabei rindo. Eu estava feliz por provocá-la e também era bom saciar as vontades que eu não sabia que eu tinha.

— Você me enfeitiçou, eu... Eu preciso ir — Ela tocou o próprio peito. — Não me beije novamente!

— Se você agir como a minha esposa e brigar comigo na frente de todos, eu vou beijá-la, abraçá-la... — Me aproximei do seu ouvido. — Comê-la, como um marido faz com sua esposa.

— Louco! — Ela me empurrou, seu cabelo brilhava como nunca. A puxei e beijei seu rosto. Ela gritou furiosa. — Devan!

— Tudo bem, você pode ir, mas se continuar gritando assim eu vou calar você do meu jeito — Dei de ombros.

Nealie saiu correndo e dessa vez eu não a impedi. Sentei na minha mesa e sorri para o nada. Talvez eu devesse provocá-la um pouco, isso era, de fato, muito divertido.

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