Capítulo Onze

NEALIE

Fiquei brava com o Devan pelo resto do dia. Como ele podia zombar do melhor guerreiro da minha terra? Ele podia me diminuir e menosprezar, mas eu não aceitaria isso com o Aaron.

Aproveitei que estava me sentindo mal-humorada e escapei do palácio. Os guardas não me impediram, mas não era como se eu conseguisse ir muito longe ou pudesse voltar para a Terra do Sol.

Vaguei pelas ruas e lembrei das pessoas me reverenciando... Devan maldito, estavam apenas reverenciando ele.

— Senhorita fada — Uma fadinha me parou enquanto eu andava.

Ela era fofa, mas algo parecida estranho. Seu olhar parecia velho demais. Porém, não queria ter preconceitos com o outro povo.

— Olá, pequena fada — Sorri simpática.

Quando me agachei para falar com ela, a fadinha simplesmente puxou o colar que meu irmão havia me dado, e eu não tirava nunca, e saiu correndo.

— Ei! Ei, me devolva! — Gritei desesperada.

Ela gargalhou e continuou correndo. Ninguém na rua ousou me ajudar e eu continuei correndo por mais que meu corpo não estivesse adaptado a correr com aquela roupa tão justa.

A fadinha sumiu do meu campo de visão quando se enfiou dentro de uma multidão e eu não consegui mais achá-la.

Comecei a chorar, o que eu raramente fazia. Mas era um presente do meu irmão e a única coisa que a Terra da Lua não havia tirado de mim.

— Chorar não vai trazer seu colar de volta.

Olhei em direção da voz. Uma fada da lua estava de braços cruzados me observando.

Ela usava uma saia preta justa e uma espécie de blusa tão curta que sua barriga ficava à mostra, além de várias pulseiras e colares e uma pintura pesada em seu rosto. Seu cabelo era azul escuro e sua pele tão branca quanto a neve aos nossos pés. Definitivamente uma fada da lua.

— Eu sou muito fraca — Lamentei. — Não há nada que eu possa fazer.

— Você não é a princesa da lua? — Ela perguntou.

— Como você...

— Suas vestes, ninguém consegue se vestir com esse tecido de primeira linha, a menos que seja um soldado e você definitivamente não é.

— Se você vai me diminuir, é melhor sair de perto de mim — Avisei.

Eu estava cansada dessas fadas e elfos da lua falarem o que queriam sobre o meu povo.

Pensei que ela fosse embora, mas fui pega de surpresa quando ela estendeu a mão revelando o meu colar.

— Pegue, eu comprei daquela fada ladra.

A olhei desconfiada, mas peguei mesmo assim, não podia jogar fora uma coisa tão especial apenas por desconfiança.

— Obrigada — Agradeci e guardei meu colar em meu bolso.

— Isso é um artefato mágico especial, como pode guardá-lo no bolso!?

— Eu já disse que sou fraca — Retruquei. — Obrigada novamente, se não for muita indelicadeza, vou continuar meu passeio sozinha.

A fada me ignorou e ficou andando ao meu lado. Nunca pensei que eu iria querer ficar sozinha e uma fada da lua iria querer companhia.

— Eu sou a Amelynda Sorrat — Ela se apresentou. — Ou Amy, futura senhora Carter.

— Sou a Nealie — Respondi após perceber que ela de fato não iria embora. — Carter... Eu já ouvi esse nome.

— É claro, ele é o melhor amigo do seu marido, isso nos torna cunhadas?

— Você não parece uma fada da lua.

— Você também não parece uma fada do sol com essa expressão mal-humorada.

Sorri um pouco. Ela tinha razão.

— Você me ajudou por causa do Carter?

— Mais ou menos... Mas se eu disser não, você vai se sentir em dívida comigo?

— Isso a tornaria uma fada bondosa, então...

— Então não, definitivamente a ajudei pelo meu senso de justiça e bondade — Ela sorriu animada. — E então como irá me recompensar?

Tudo o que ela queria era o Carter... Se eu a ajudasse, talvez eu ganhasse uma aliada na Terra da Lua. Isso seria bom.

— O que você quer? Eu não tenho muitos poderes.

— Dê um jeito de trancar nós dois em um quarto.

— O que!? Eu não posso fazer isso!

— Uau, os boatos sobre as fadas do sol não terem coração estavam certos — Amy me olhou surpresa. — Eu deveria deixar que roubassem até seu cabelo!

— Vocês fadas da lua são muito cruéis — Reclamei e lembrei do Devan. — Eu não consigo agir dessa forma.

Amy suspirou cansada. Não importava o quanto ela ficasse chateada, eu jamais armaria contra alguém. E pelo seu pedido, Carter já devia ter a rejeitado.

— Certo, certo, então me deixe ser sua amiga, assim posso entrar no palácio quando eu quiser.

— Fechado — Sorri. — Minha primeira amiga da lua!

— Infelizmente não posso dar esse título para você, eu tenho muitos amigos do sol.

— Sério!?

— Seríssimo! Eu gosto de roubar todos os tipos de fadas.

— Roubar? — Perguntei confusa.

— Falar — Ela me empurrou de leve. — Seus ouvidos estão muito ruins, fadinha do sol.

Sorri. Deviam estar mesmo. Bom, pelo menos agora eu tinha uma amiga para confiar. O Devan estava errado em dizer que eu era ingênua, eu podia muito bem diferenciar as boas e as más fadas.

Eu e Amy caminhamos por mais algumas ruas e ela me apresentou muitas coisas como comidas típicas, mas eu recusei algumas como carne de coelho. Eles eram tão fofinhos, como ela podia comê-los? Também recusei outras carnes suspeitas que eu torci para não ser das fadas do sol.

O dia foi agradável e eu voltei para o palácio com meus ânimos normais novamente.

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