Capítulo Dezenove

NEALIE

Devan me deu folga no dia seguinte do meu pequeno acidente e com folga quero dizer que não precisei cultivar, nem ler nenhum livro chato, porém isso não o impediu de me atormentar a hora que quisesse.

Eu passei o dia tomando um banho de lua, pelo menos a lua não era fria, mas também não era quente, porém era melhor que nada.

Nos dias que se seguiram continuamos nossa rotina de cultivar e dormir juntos, e às vezes ele me fazia ficar em seu escritório sentada de frente para ele lendo diversas vezes inúmeros feitiços. Insuportável demais.

Estranhei quando em um dia eu fui "convidada" a comer com o Devan, no caso obrigada mesmo. De qualquer forma não era ruim, mas ele simplesmente não sabia como pedir algo.

Ele estava me tratando muito bem e eu o considerava um bom amigo, mas às vezes quando lembrava o que éramos de verdade um do outro, me sentia estranha. Não era tristeza, nem raiva, era um sentimento próximo de felicidade. Talvez gratidão por me proteger e me ensinar magia.

— Está atrasada.

— Eu não sei nenhum feitiço de teleporte — Retruquei e sentei ao lado dele. — Oh o que é isso no seu prato? Parece saboroso.

— Se é do seu agrado, coma — Devan me olhou com tédio e me deu seu prato.

Notei que as fadas e os elfos que estavam servindo a mesa me olharam com surpresa.

Fiquei um pouco constrangida, eu não pedi para comer do prato dele, só queria saber o que era para pedir também...

— Eu posso servir o meu...

— Coma.

— Você continua sem modos — Resmunguei.

— Coma e não seja chata, tudo bem? — Ele disse com mais gentileza, o que me surpreendeu.

— Tudo bem — Sorri e passei a mão pelo meu cabelo que começou a brilhar.

Os empregados continuavam nos encarando como se tivéssemos assassinado fadas da lua e comido suas carnes.

Felizmente Devan notou e os olhou com raiva fazendo com que eles se retirassem imediatamente.

— Você é muito poderoso, às vezes me dá arrepios — Brinquei enquanto comia e ele riu. — Isso é tão bom... O que é isso?

— Carne de fada do sol.

Engasguei na mesma hora e Devan começou a rir enquanto batia em minhas costas. Bebi um grande gole d'água direto do jarro.

— Você ficou louco!?

— Você disse que eu deveria ter mais senso de humor.

— Isso não é humor! Isso é ser malvado!

— Mas temos muitas piadas sobre fadas do sol — Ele me olhou confuso.

— Devan — Eu me aproximei dele e ele se afastou surpreso. Segurei seus ombros e continuei me aproximando. — Devan, você sabe o que eu sou ou ficou louco de vez?

Ele sorriu parecendo sem jeito. Estranhei seu comportamento, ele nunca ficava sem graça, só quando eu agia tão boba que constrangia qualquer um ao meu redor.

— Às vezes esqueço, você não é como eles — Ele explicou num tom baixo. Meus olhos se detiveram brevemente em seus lábios finos e levemente rosados. — Você está próxima demais, está querendo me beijar de novo?

Respirei fundo e me afastei. Eu não queria beijar aquele narcisista nem se ele fosse o último elfo de todas as terras.

— Esqueça, eu vou considerar um elogio.

— Você agora sabe admirar sua posição, muito bem — Ele sorriu satisfeito. — Aliás, isso é apenas carne bovina comum, deve estar divino porque era meu prato.

— Você é insuportável — Retruquei. — E não é comum, eu comi carne poucas vezes.

Mesmo no palácio do Devan, eu não comia muita carne porque a aparência não me agradava. Já na minha terra, minha madrasta limitava minhas refeições.

— Por que?

— Minha madrasta não gosta de mim então minha alimentação era um pouco escassa.

— Você quer que eu a mate?

— Por favor.

Devan levantou e começou a ajeitar suas vestes. Eu o olhei apavorada e segurei seu braço.

Ele ia mesmo matar minha madrasta só porque eu pedi!?

— Você quer assistir? — Ele perguntou confuso.

— Você não pode matá-la, sente-se — Respondi.

— Por que não? Você pediu — Devan sentou novamente e me olhou irritado. — Nealie, não brinque com isso, eu levo assassinato muito a sério.

— Posso ver... — Falei assustada. — Mas você a mataria só porque eu pedi?

— É claro, ela fez você sofrer, por que eu deveria deixá-la viver? — Ele perguntou falando muito sério. — Se bem que uma morta rápida deve ser bom demais, eu deveria torturá-la...

Devan continuou oferecendo inúmeras formas de me vingar e por mais estranho e sanguinário que fosse, me senti grata. Tão grata que meu coração acelerou de um jeito estranho.

— Devan — Eu o interrompi e ele me encarou atentamente. — Eu não quero vingança, mas muito obrigada por cuidar de mim.

— Cuidar... — Ele pareceu pensar e então me olhou surpreso. — Eu não estou cuidando de você, eu apenas gosto de matar fadas do sol.

Sorri. Ele não iria admitir que tinha se tornado meu amigo, mas contanto que eu soubesse seus sentimentos, eu não precisava de uma confissão.

— Obrigada por não me matar então.

Tive uma ideia um tanto ousada, geralmente eu não fazia isso com ninguém além do meu irmão e minha irmã mais velha, porém eu nunca pensava nas consequências das minhas ações. Eu era assim agia primeiro e pensava depois.

Beijei o rosto do Devan e ele ficou imóvel me olhando inexpressivo. Me afastei sentindo um pouco de medo da sua reação.

Entretanto, fui surpreendia quando Devan começou a sorrir aos poucos me desconcertando completamente.

— O que significa isso?

— Foi só um agradecimento.

— Você agradece todos os elfos dessa forma? — Ele perguntou desconfiado.

— Claro que não!

— Então você gosta de mim.

— Quem gosta de você!? Foi só um beijo no rosto!

— Qualquer tipo de beijo é considerado de casal — Ele disse num tom sério. — Se me beijou, gosta de mim.

— Então você gosta de mim — Eu o provoquei.

— Nos seus sonhos talvez — Ele desdenhou. — Mas eu permito que você me ame, o que já é muita coisa.

— Você... Permite!? — O olhei incrédula.

— É claro, você já viu alguma fada louca por mim e complicando as coisas para você?

Nisso ele tinha razão... Ele era um pouco estranho, mas sempre teriam fadas loucas por ouro que estariam dispostas a aguentá-lo ou então que gostassem da sua aparência que não era de todo mau.

— O que acontece com quem gosta de você?

— Eu mando matar, é claro — Ele passou a mão no seu cabelo e sorriu convencido. — Não é qualquer uma que pode ter pensamentos impuros sobre mim... Então, você está emocionada?

— Você é louco, Devan, completamente — Afastei minha cadeira decidida a terminar minha refeição em silêncio.

— Você deveria estar grata, mesmo que nosso casamento seja um contrato, eu ainda sou fiel — Ele disse ofendido. — Diferente do seu povo que tem inúmeras esposas.

— Como se vocês não tivessem.

— Não temos, só casamos uma vez e é para a vida toda.

Eu o encarei. Ele também estava me olhando, mas agora de um jeito diferente. O que ele queria dizer com isso?

— Então eu serei sua única esposa?

— Na minha terra não casamos de novo nem na viuvez, mas de qualquer forma não suporto nem você, não suportaria mais uma — Ele deu de ombros.

— Idiota — Revirei os olhos. — Pelo menos não preciso me preocupar com esse tipo de coisa.

— Não se preocupe, você ainda seria a minha insuportável favorita.

Meu cabelo começou a brilhar e Devan estendeu a mão para tocá-lo.

— Tem certeza que não gosta de mim?

— Nos meus pesadelos! — Bati em sua mão e voltei a comer sentindo meu coração acelerado.

Devan riu, mas não me incomodou mais. "Insuportável favorita" dentre tantas fadas, ele ainda escolheria a mim?

Olhei discretamente para ele que agora comia em silêncio e sorri minimamente. De todos os elfos, se eu precisasse escolher algum amigo confiável, eu também o escolheria.

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Ruby

Ruby

meentirosaaaa

2025-02-01

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ardem_007

ardem_007

amigo...

2024-12-04

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ardem_007

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assim que dever ser

2024-12-04

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