Capítulo Catorze

DEVLHAN

Acordei me sentindo muito bem, afinal agora eu tinha um cubo de gelo pessoal para dormir comigo. Dividir o espaço com a Nealie tinha suas vantagens.

Observei ela dormir pacificamente enquanto encostava todo seu corpo no meu. Suas pernas estavam entrelaçadas nas minhas e eu tive que fazer um esforço para afastá-la.

Eu não sabia o que estava havendo comigo, mas precisava estudar mais sobre o feitiço que nos conectava. Sentia que minhas emoções estavam diferentes e com certeza devia ser magia. Eu jamais me sentiria atraído por uma fada do sol.

— Nealie — Cutuquei o rosto dela que fez uma careta e afastou minha mão. — Nealie, acorda.

O encanto que ligava nossas mentes havia acabado durante a noite, o que era ruim, pois eu desejava saber o que ela estava pensando e fazendo.

Comecei a ficar impaciente quando ela se recusou a acordar e afastei seu corpo do meu.

— Devan — Ela sussurrou e começou a se mexer me procurando.

— Hora de levantar — Acabei sorrindo.

— Só mais cinco minutos — Ela me abraçou e esfregou o rosto no meu peito coberto por uma camisa. — Quentinho...

Senti meu coração bater muito forte e minha respiração ficar pesada. O que significava isso!?

— Nealie, pare com suas feitiçarias e acorde — Resmunguei irritado.

Tinha alguma coisa errada com esse feitiço de casamento, meu corpo estava agindo muito estranho desde a primeira vez que a vi.

Eu não era íntimo de ninguém, mas como ela era minha fonte da juventude eu podia suportá-la, porém não queria que coisas estranhas acontecessem com meu corpo.

— Não — Ela me abraçou mais forte.

— Nealie! — Belisquei sua bochecha.

— Aí! — Nealie finalmente abriu os olhos e sentou na cama. — Demônio!

Sorri e também levantei. Precisávamos cultivar cedo para que eu tivesse resultados melhores.

— Por que me acordou tão cedo? O dia nem clareou! — Ela reclamou ao ver que a lua do dia não havia nascido ainda.

Na Terra da Lua tínhamos duas luas, uma que mantinha tudo quase tão claro quanto um dia na Terra do Sol e outra que clareava vagamente a noite.

— Você disse que seria uma cultivadora exemplar — Lembrei.

— Eu disse! Mas depois de descansada, como posso ser uma boa cultivadora dessa forma!?

— Trato é trato, você vai descumprir pela segunda vez?

Nealie suspirou com irritação, mas se posicionou na mesma posição que eu havia a ensinado ontem. Ótimo, ela aprendia rápido.

— O que eu faço? — Ela perguntou entediada.

— No cultivo de casal, precisamos dar as mãos... Estenda as suas — Pedi. — Não, não assim.

Ajudei ela a erguer suas mãos como se estivesse as colocando em uma parede.

— Eu tenho que ficar com as mãos nessa posição por quantos minutos?

— Duas horas.

— Por que eu perguntei... — Ela lamentou.

— Nealie, você disse que se esforçaria — Retruquei irritado e posicionei minhas mãos junto com as dela. — Feche os olhos e repita os feitiços de cultivo do seu povo.

— Eu não sei muitos...

— Então repita os que sabe diversas vezes.

Escutei ela respirar pesadamente antes de fechar os olhos e adotar uma expressão séria. Pelo menos ela estava tentando.

Fechei os olhos e comecei a murmurar os feitiços que eu praticava rigorosamente todos os dias. Demorou alguns minutos para que sentisse finalmente um pouco de magia do sol. Nesse ritmo eu teria minha imortalidade em cem mil anos...

Tentei não me irritar e ser paciente, eu sabia que ela havia sido privada das escolas de magia, só não entendia o porquê ainda, essas lembranças da mente dela estavam trancadas até para ela e eu não ousei destrancar apenas por curiosidade.

Passados alguns minutos senti que a Nealie estava nervosa e suas palmas começaram a suar.

— Nealie? — Eu a chamei preocupado.

— Devan, meus braços doem muito — Ela disse cansada e quebrou nosso cultivo ao descansar seus braços.

— Isso vai ser difícil — Suspirei cansado.

— Desculpe, eu não sou uma boa fada — Ela disse num tom triste.

Achei que ela estava apenas brincando, mas ela parecia mesmo chateada com o próprio desempenho.

— Tudo bem, não pode se comparar a mim de qualquer forma.

— Mesmo se eu me comparar com uma fada de nível um, eu sou péssima — Ela retrucou. — Minha madrasta disse que eu sou tão inútil que sou incapaz de aprender magia.

— Se ela ousar dizer isso novamente, eu a mato mesmo sendo a rainha do sol — Falei irritado. — E eu a proíbo de se ofender, ninguém pode ofendê-la.

Nealie me olhou surpresa, mas eu estava falando sério. Ela só era um pouco lenta, mas também poderia aprender com esforço.

Eu odiava pessoas burras, como a madrasta dela, que se sentiam superiores. Eu sabia que eu me achava, e era, melhor que a maioria dos elfos, mas eu não era o elfo supremo à toa.

— Nossa... — Ela sorriu e seu cabelo começou a brilhar. — Obrigada.

— Tudo bem — Sorri. — Lembre-se, você é a minha esposa então é lógico que você é importante.

O sorriso da Nealie morreu no mesmo instante e eu a olhei confuso, eu tinha dito algo errado?

— Como você pode ser assim?

— Estou falando sério, sua posição é importantíssima!

— Devan, pode me fazer um favor? — Ela perguntou e eu assenti. — Por favor, cale a boca.

— Maluca — Eu a olhei ofendido. — Vamos, mal começamos a cultivar.

— Isso dói, não tem outra forma?

— Tem, mas acho que você não vai querer...

— Se for mais fácil, eu aceito — Ela disse animada, mas me olhou desconfiada de repente. — Isso não envolve...

Ela apontou para nossas bocas e eu sorri convencido.

— Você só pensa nisso.

— Eu não!

— Sinto muito, mas não experimentará meus lábios tão cedo — Sorri. — Bom, se você cultivar direito, quem sabe...

— Não seja tão confiante, eu não quero beijá-lo — Ela retrucou irritada. — Vamos, explique a outra forma de cultivo.

Eu não estava muito animado para tentar, seria estranho tê-la tão perto e eu não sabia como ela encararia isso.

— Você senta encostada no meu peito e eu estendo minhas mãos para juntarmos nossas palmas no seu colo.

— Só isso? — Ela perguntou surpresa e veio para o meu colo. — Achei que seria mais complicado.

Eu a olhei incrédulo. Eu simplesmente nunca sabia o que essa fada faria.

— Você está bem com isso?

— É claro, minha irmã mais velha vivia penteando meu cabelo nessa mesma posição — Ela sorriu. — É a mesma coisa!

Respirei fundo. Eu tinha acabado de ser comparado com uma fada... Que além de ser feminina era irmã da Nealie. Era assim que ela me via? Um irmão mais velho?

— Estenda suas mãos — Pedi desistindo de entendê-la.

— Não sussurre no meu ouvido — Ela murmurou.

— Sua irmã não fazia isso? — A provoquei e beijei sua orelha.

Nealie me olhou assustada e tentou dizer alguma coisa, mas acabou desistindo e puxando minhas mãos com irritação, fechando os olhos em seguida. Acabei rindo baixo, mas fechei meus olhos para me concentrar.

Apesar do cultivo estar mais fácil para a Nealie, para mim havia dificultado bastante por causa do cheiro insuportável de flores que emanava do cabelo dela.

Tentei me concentrar, mas pela primeira vez cultivar não parecia tão fácil assim.

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