Capítulo Dezessete

NEALIE

Acordei me sentindo um pouco tonta, mas sem dores pelo meu corpo. Fui lembrando aos poucos do que havia acontecido e me senti traída pela Amy ter me abandonado de repente.

Eu e ela encontramos um artefato mágico super interessante, mas eu só queria olhá-lo, não pegá-lo para mim, mas Amy tinha outras intenções. Infelizmente só eu fui pega, mas pelo menos ela pediu ajuda para mim.

Me senti estranha ao ver Devan deitado ao meu lado enquanto segurava minha mão. Aparentemente ele estava dormindo.

Lembrei que ele havia me salvado do próprio pai. Eu queria ter chamado ele pelo feitiço, mas não tive oportunidade antes de ser pega pelo rei... E depois não imaginei que o Devan me salvaria.

Minha barriga roncou de repente e eu percebi que não tinha comido nada desde o café da manhã, e pela luz da janela já era noite.

Tentei me desvencilhar do aperto do Devan, mas ele segurava minha mão com força quase como se tivéssemos colado nossas mãos.

— Você está acordado — Sorri sem jeito ao vê-lo abrir os olhos assim que consegui soltar minha mão.

— Você está bem? — Ele perguntou preocupado como nunca vi antes.

Devan sentou na cama e começou a checar meus braços e pescoço. Me perguntei como ele sabia exatamente onde eu tinha me ferido.

— Estou bem — Afastei suas mãos quentes do meu pescoço.

— Mesmo? Então por que seu peito está doendo? — Ele me acusou irritado.

— Meu peito não está doendo — Toquei meu coração e o olhei confusa. — Estou normal.

— Está sim, é um aperto, uma angústia, eu não gosto disso.

— Devan, acho que essa dor é você quem está sentindo e além disso, eu não tenho como passar minhas dores para você — Falei. — Você está tão preocupado assim?

Ele tocou o próprio peito e então cruzou os braços logo adotando sua postura arrogante de sempre.

— Preocupado? Eu estou irritado mesmo — Devan beliscou minha bochecha e eu o olhei feio. — O que você foi fazer no palácio dos meus pais.

— A Amy... Ai! — Gritei quando ele me beliscou novamente. — Pare de me beliscar!

— Eu deveria beliscar suas bochechas até ficarem vermelhas.

— Psicopata!

— Eu vou realmente ser psicopata se não me explicar o que você fez com a Amelynda.

Ele me encarava muito sério e comecei a lembrar da Amy me dizendo que talvez não fosse bom que fôssemos amigas... Será que ela e o Devan tinham algum tipo de relacionamento?

— Como sabe que eu estava com essa Amy? — Perguntei desconfiada.

— Eu já disse, não há nada que eu não saiba — Ele sorriu convencido. — Se um fio de cabelo seu cair, eu saberei.

— Mesmo? Quantos fios de cabelo eu tenho?

— 142 mil e 829 fios — Ele respondeu sem nem piscar.

Segurei meu cabelo me sentindo estranhamente invadida.

— Você os contou enquanto eu dormia!?

— Não seja louca, eu posso sentir cada fio, você poderia sentir isso também se se esforçasse para ser uma fada suprema.

— Incrível — Falei admirada, mas logo me recompus ao ver seu olhar arrogante.

— Eu sei que sou incrível, mas você ainda não me explicou o que aconteceu.

Me senti ansiosa. Ele provavelmente não acreditaria em mim, até porque nossos povos eram inimigos então era natural que ele me hostilizasse.

— Se eu disser talvez fique contra mim.

— Não vou.

— Mas estão me acusando de algo que eu não fiz, por que você acreditaria em mim ao invés do seu povo?

— Independente do que disserem, eu vou acreditar em você, então não minta.

— Mas por que?

— Porque você é a minha esposa — Ele deu de ombros. — Se alguém acusar você, estará me acusando e eu não vou tolerar ser caluniado.

Meu cabelo começou a brilhar e eu desviei o olhar. Ninguém nunca foi responsável por mim dessa forma, quando eu cometia algum erro, meu pai era o primeiro a me entregar para o castigo dos anciões do sol.

— Obrigada.

— Pare de se achar, não é por você, é por mim — Ele desdenhou.

— Eu nem sei porque agradeço — Falei irritada.

Quando eu começava a gostar um pouquinho do Devan, ele agia como um louco narcisista de novo.

— É bom que agradeça, eu sou seu salvador, esqueceu?

— Como eu poderia? Você provavelmente vai escrever isso em todas as paredes do palácio!

Devan riu, mas respirou fundo e voltou a me encarar seriamente.

— Fale logo o que aconteceu.

— Tudo começou quando eu terminei meu café da manhã, inclusive o mel de vocês é muito gostoso mesmo lembrando uma pedra doce, eu só tinha bebido mel quente e...

— Nealie — Ele me interrompeu com raiva. — Vá direto ao ponto.

Eu o olhei feio. Eu não conseguia contar uma história "direto ao ponto" e se eu esquecesse um detalhe importante e fosse para a guilhotina!?

Comecei a contar a história novamente, dessa vez pulando meu café da manhã. Devan me interrompia ocasionalmente dizendo quais partes não importavam e me questionava sobre outras.

— Nealie, eu sei que você tem uma sapiência inferior aos demais, mas precisa deixar isso tão evidente?

— O que quer dizer com isso? Sapi... Sapo...

— Inteligência — Ele suspirou cansado. — Quantos livros você lê por dia?

— Por dia... — Sorri sem graça. — Bom...

— Certo, por ano.

— Por ano... Sim, por ano é...

— Por milênio, minha santa lua, em toda sua vida!

Com muito constrangimento mostrei dois dedos para ele. Devan me olhou incrédulo e eu me senti mais tímida ainda.

— Não é minha culpa! Eu sequer fui para a escola de magia! — Retruquei. — Mas olha, os dois livros que eu li foram maravilhosos, a protagonista era apaixonada pelo seu superior e...

— Me poupe dos detalhes fúteis desse livro — Ele me interrompeu. — Não acredito que nunca leu um livro sério.

— Livro de receitas conta?

Sombras rodearam o Devan e percebi que ele estava ficando bem irritado... Era melhor que eu saísse antes que ele brigasse comigo.

— Obrigada por me salvar e acreditar em mim, eu vou fazer um lanchinho — Sorri e fiz menção de levantar da cama, mas ele me segurou. — O que foi?

— Vou com você.

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