Capítulo Nove

NEALIE

Tudo aconteceu tão rápido quanto um relâmpago. Devan apesar de ter sido pego de surpresa conteve Bryana sem dificuldades.

Ela continuou investindo a lança contra ele enquanto ele segurava a arma e dizia para ela parar com essa loucura.

Eu obviamente não acreditei no Devan impostor e tentei ajudar a Bryana, mas eu não sabia que eles estavam usando feitiços enquanto se atacavam e quando encostei na mão da Bryana para ajudá-la a enfiar a lança no impostor, uma sombra escura me atingiu me fazendo voar longe.

Senti uma dor aguda em meu corpo. Nunca tinha quebrado um osso, mas temia que isso tivesse acontecido pela primeira vez com o meu tornozelo, pois doía muito.

— Nealie! — Devan gritou e em poucos segundos jogou um feitiço em Bryana que desmaiou no mesmo instante.

— Não... Se aproxime — Pedi tentando não demonstrar o quanto doía.

Devan fez uma careta como se conseguisse sentir a minha dor e se aproximou mesmo com os meus protestos.

— Vocês enlouqueceram!? — Ele esbravejou e tocou meu pé. Dei um grito. — Desculpe... Acho que quebrou.

— Afaste-se da princesa — Bryana havia acordado.

Isso era estranho. Ele não havia a ferido?

— Bryana, não me faça castigá-la de verdade.

— Calado, impostor.

Os olhos do Devan ficaram completamente escuros e eu estremeci. Ele não parecia mais estar tão calmo.

— Bryana, eu acho que...

— Você tem um espelho com um feitiço de imagem que mostra o elfo que você gosta — Devan sorriu maldosamente e a olhou. — E você dorme todos os dias abraçada nele, pensando em...

— Certo, certo, Devan, é realmente você! — Bryana o olhou apavorada e se aproximou de nós dois. — Vamos cuidar da Nealie.

Os olhos do Devan voltaram ao normal a olhar para mim com preocupação. Eu estava surpresa por esse seu olhar repentino.

— Não temos médicos para fadas como ela, eu vou curá-la.

— Mas você não sabe como curar fadas do sol.

— Mas ela sabe — Devan deu de ombros. — Depois quero conversar com você, Bryana, mas preciso cuidar desse assunto mais importante primeiro.

Me senti estranha. Devan parecia diferente quando se preocupava comigo.

Observei incrédula ele passar seu braço pelas minhas costas e o outro pelas minhas pernas, me segurando com facilidade.

— Segure em meu pescoço — Ele disse num tom autoritário.

Eu o obedeci. E Bryana continuou imóvel apenas nos olhando como se fôssemos algum evento raro.

— Devan, você vai mesmo carregar ela? — Ela perguntou surpresa.

— Um príncipe precisa fazer sacrifícios — Ele suspirou como se estivesse cansado. — Não se preocupe, tomarei banho depois disso.

— Ei! Eu estou aqui! — Falei ofendida.

Devan sorriu com diversão e me ajeitou em seus braços.

— Segure firme, isso pode ser um pouco desconfortável.

— O que pode...

De repente inúmeras sombras saíram do corpo do Devan e nos rodearam. Não tive muito tempo para pensar antes dele nos teleportar para o seu quarto.

Quase vomitei, pois não era nada como o teletransporte do meu irmão que era quase tão leve quanto voar.

— Nunca mais faça isso, eu prefiro andar — Falei e tentei ir para o chão, mas ele continuou me segurando firmemente. — Estou com dor, não sem as pernas, me coloque no chão.

— Você deveria aproveitar o seu único momento de grandeza, sabe quantas fadas já estiveram em meus braços? — Ele me olhou seriamente. — Exatamente, nenhuma... Imagino que deve ser uma surpresa para você.

— Não muito...

Nenhuma fada, nem mesmo as da lua, eram loucas o suficiente para suportar um elfo com esse temperamento.

Devan me colocou delicadamente na cama, sentou ao meu lado e deu dois tapinhas em suas pernas.

Eu o olhei estranho. O que ele queria agora? E eu não confiava totalmente no julgamento da Bryana, e se ele tivesse a enfeitiçado?

— Vou tratar o seu tornozelo — Ele explicou.

— Você pode tratar com minhas pernas bem aqui — Falei timidamente.

— Vocês fadas do sol são tão sem vergonhas — Devan reclamou e segurou minhas pernas as colocando em seu colo. — Pare de pensar além das minhas intenções.

— Eu pensar além!? Você que... Ai! Seja mais cuidadoso!

— Nem doeu tanto.

— Como se você pudesse sentir.

Devan riu baixo e continuou levantando a barra da minha calça. Eu apenas o olhava tentando encontrar qualquer atitude suspeita.

— Não está ruim, eu diria que apenas torceu — Ele examinou meu tornozelo. — Aliás, esse é seu único ferimento?

— Sim, eu não sou tão frágil assim.

— Tenho que discordar — Ele retrucou. — Me dê suas mãos.

Estendi minhas mãos e ele colocou minha mão em meu tornozelo, a cobrindo com sua própria mão. Enquanto a outra segurava a minha mão livre.

— Você sabe magia de cura, não sabe? — Ele perguntou.

— Não exatamente...

— Santa lua, você era uma princesa ou uma criada!?

— Boa pergunta — Murmurei me sentindo mal.

Ele me olhou com curiosidade, mas eu logo sorri com a minha simpatia de sempre. Não queria compartilhar meus problemas com um elfo da lua.

— Não deve ser um feitiço muito diferente dos da lua, vou ensiná-la.

— Mesmo!? — Falei empolgada. — Certo, estou pronta.

— Com seu intelecto você levaria mil anos para aprender, mas posso agilizar o processo para poucos segundos.

— Devan, você é extraordinário!

Devan sorriu convencido e eu quase senti vontade de retirar meu elogio, mas ele estava me ajudando no fim das contas.

— Feche os olhos.

Obedeci. Senti uma energia diferente de magia e então Devan se aproximou colocando sua mão na minha nuca.

Abri meus olhos assustada e vi Devan de olhos fechados encostar sua testa na minha e murmurar palavras no idioma mágico da lua.

Meu coração estava acelerado por tê-lo tão perto. Eu podia ver até a marca da barba feita em seu rosto. E vendo ele tão calmo e concentrado, sem dizer tantas besteiras ou me olhar com superioridade, eu quase podia admitir que ele era um elfo muito bonito.

Todo o encanto foi quebrado quando Devan abriu os olhos repentinamente, mas não se afastou. Meu cabelo começou a brilhar por eu ter sido pega o observando.

— Eu disse para fechar os olhos — Ele sussurrou.

Fechei dessa vez decidida a não abri-los novamente até Devan se afastar. Pude escutar ele rir baixo e me esforcei para não parecer tão agitada.

— Demora muito?

— Se você não me distrair, não demorará nenhum segundo.

Fiquei tão perturbada por suas palavras que fiz menção de me afastar, mas ele continuou me segurando pela nuca.

O que estava acontecendo comigo? Devia ser culpa do feitiço definitivamente, se não fosse por que eu estava tão agitada perto de um elfo da lua que eu não sentia medo?

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