Capítulo Sete

NEALIE

Eu estava no mínimo constrangida após acordar ao lado do Devan. Eu não me importava nenhum pouco com ele, até porque éramos incompatíveis romanticamente.

Entretanto, quando acordei e o encontrei dormindo ao meu lado enquanto segurava minha mão, tive a reação mais estúpida possível.

Eu não tinha culpa, era da minha natureza ser curiosa, mas eu deveria ser... Como meu irmão dizia mesmo... Ah sim, sensata, eu deveria ter mais noção do que era aceitável em uma interação social.

O problema era que eu não tinha contato com elfos e fadas da lua, então logicamente minha curiosidade era atiçada quando eu via algum indefeso o suficiente. E foi o que ocorreu entre mim e Devan.

Vendo ele dormindo tão profundamente, me apoiei em seu peito e tentei ver se era verdade o que eu havia escutado na Terra do Sol.

Segundo os boatos, os elfos da lua tinham um parentesco até que próximo com os demônios do submundo e, apesar de esconderem na maior parte do tempo, podíamos ver suas grandes presas quando estavam relaxados ou comendo.

Por isso tive a brilhante ideia de tocar na boca do Devan que acordou assim que toquei seus lábios. Ele não se moveu, apenas me olhou com seus olhos sombrios e indiferentes de sempre.

— Você está acordado! — Sorri sem graça e me afastei, ou tentei já que ele segurou minha mão.

— O que estava fazendo?

— Nada!

— É alguma feitiçaria do sol? Você quer me matar? — Ele me olhou desconfiado.

— Não é nada disso — Falei me sentindo constrangida.

— Seu cabelo está brilhando de novo! É melhor não mentir, Nealie.

Respirei fundo e me afastei dessa vez sendo bem sucedida já que Devan havia perdido o interesse em me segurar. Deitei ao seu lado novamente.

— Eu só... Ei o que está fazendo!? — Perguntei quando ele se apoiou na cama e ficou sobre mim.

— Quero ver suas expressões — Ele disse seriamente. — Eu não tolero mentiras.

— Tudo bem, mas não precisa ficar tão perto — Empurrei seu peito em vão.

Devan sorriu daquele jeito convencido que eu estava começando a odiar. Sinceramente, elfos da lua eram tão irritantes!

— Eu sei que pode ser difícil para você — Devan passou a mão pelo seu cabelo. — Sou considerado o elfo mais bonito da minha terra... Possivelmente da sua também.

Aquele elfo realmente existia!? Como ele podia sempre achar que eu queria ter alguma relação romântica com ele!?

— Sim, ter você por perto é insuportável de difícil — Sorri ironicamente.

— Até que enfim admitiu — Ele suspirou cansado e deitou ao meu lado. — Pequena fada do sol, você não acha cansativo fingir que é indiferente a mim?

— Devan, você realmente é assim ou está tentando me enganar novamente?

Devan riu. Riu não, gargalhou. E soou um tanto maquiavélico para os meus ouvidos.

— Acredite, Nealie, elfos como eu podem ser difíceis de encontrar, mas existem... Bom, não muitos, em todos os reinos só tem a mim, por exemplo.

— Ainda bem que são difíceis de encontrar — Murmurei.

Para o meu alívio ele esqueceu que eu havia tentado algo contra o seu corpo enquanto ele dormia. Mas passou a me infernizar com seu narcisismo insuportável e eu tive que concordar com tudo, é claro, não queria ser inimiga do príncipe herdeiro.

Felizmente durou pouco já que ele tinha coisas a fazer, e eu também claro, queria explorar toda a Terra da Lua. Agora que eu sabia que eles não eram totalmente monstruosos, eu até estava animada para vagar por aí.

Porém, Devan me impediu dizendo que deveríamos acordar primeiro.

— Acordar? Eu estou bem acordada — Falei confusa.

— Mas você não meditou ainda — Ele me olhou estranho. — É por isso que você tem baixo cultivo, você simplesmente acorda e inicia seu dia!?

— E como deveria ser, senhor elfo supremo da lua? — Retruquei com irritação.

— Pelo menos você tem vontade de aprender, ótimo.

Eu tive tanto medo do Devan inicialmente e o achei tão experiente e intimidador pelo seu nível de cultivo. Mas no fim ele era só um garoto como eu. Era uma pena que eu não tivesse seu nível de magia senão já teria calado a boca dele.

Devan sentou em uma posição de meditação e me encarou seriamente. Suspirei cansada e imitei sua pose.

— Agora feche os olhos e se concentre na sua forma interior — Devan fechou os olhos. Mostrei minha língua. — Nealie, eu posso sentir a umidade da sua língua.

Fechei minha boca, assustada. Devan sorriu minimamente e eu fechei meus olhos com força com medo que ele notasse mais alguma coisa.

— Quantos minutos devemos ficar assim?

— Três horas.

— Três horas!? — Gritei.

— Nealie! — Devan esbravejou. — Quando meditamos nossos sentidos são ampliados, tenha consciência!

— Oh... Certo, desculpe — Falei sem graça.

Fiquei naquela posição o máximo que consegui, talvez duas horas, e finalmente criei coragem para pedir para que Devan me liberasse.

— Devan — Sussurrei e o espiei com os olhos semicerrados. — Ei, Devan.

— Você está morrendo para interromper minha paz espiritual, Nealie? — Devan sussurrou.

Como ele podia ser agressivo naquele tom!?

— Posso sair? Estou aqui há muito tempo.

— Só se passaram quinze minutos.

— O que!?

Devan abriu os olhos e me olhou com muita irritação. Seus olhos estavam completamente escuros e sua aura tinha aumentado novamente. Droga, ele estava muito, muito, bravo...

— Saia.

— Sério!?

— Não, eu pretendo comê-la no café da manhã — Ele sorriu diabólico.

Arregalei os olhos e levantei da cama. Ele ia mesmo me comer!? Então ele só estava esperando que eu meditasse para ganhar cultivo através do meu corpo!?

— Não me coma! Eu prometo que não vou gritar, nem perturbar sua paz espiritual!

— Nealie, apenas saia.

— Mas...

— Juro pela Terra da Lua que se não sair agora, você não sairá nunca mais.

Gritei e Devan grunhiu colocando as mãos em seus ouvidos. Várias sombras me perseguiram e eu saí correndo do quarto.

— Que monstro! Nem permitiu que eu pegasse minhas roupas! — Falei sentindo meu coração acelerado.

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