Capítulo Seis

DEVLHAN

Olhei para aquela pequena criatura na minha frente. Ela estava mesmo pedindo para que dormíssemos juntos!?

Não pude deixar de ficar surpreso mesmo sabendo que isso aconteceria em algum momento. Nenhuma fada resistia a mim, era estressante às vezes.

— Sou seu marido apenas no feitiço, o que está pensando?

— Feitiço? Que feitiço?

— O feitiço de casamento — Desconversei.

Não era bom que ela soubesse que era minha fraqueza ou poderia usar isso contra mim. Fadas do sol era traiçoeiras por natureza.

— Mas eu não consigo me aquecer e tudo aqui parece ser feito de gelo — Ela reclamou. — Preciso que me ajude.

Eu não queria ajudá-la e aparentemente o frio intenso que ela sentia não me afetava, talvez pelo meu corpo ser muito quente.

Entretanto, eu precisava fazer com que ela concordasse em cultivar magia comigo... Talvez essa fosse uma boa hora para pedir.

— Posso ajudá-la, mas não será de graça.

— O que você quer? — Ela perguntou e eu a olhei de cima a baixo pensando em como dizer o que eu queria. — Nem pense nisso!

— Pensar em que... ? — A olhei confuso.

— Favores...

Ela se aproximou e eu me afastei, ficamos nesse impasse até eu encontrar a parede atrás de mim e Nealie finalmente se aproximar do meu corpo.

— Que favores? — Perguntei ansioso quando ela ficou na ponta dos pés para alcançar meu rosto.

— Favores carnais — Ela me olhou muito séria.

Eu a olhei horrorizado. Quem em sã consciência tentaria cultivar o prazer com uma fada do sol!? Ainda mais ela que não era grande coisa.

Sua pele bronzeada e seus cabelos tão loiros quanto a luz do sol me incomodavam profundamente. E suas curvas expostas pela fina camisola não eram tão desejadas... Na verdade nenhum pouco desejadas!

— Você está sonhando alto demais — Desdenhei e a afastei. Nealie se aproveitou da situação e segurou minhas mãos com força. — Solte-me!

— Preciso de algo quente! — Ela retrucou enquanto segurava minhas mãos em seu rosto. — É tão quentinho...

Tentei puxar minhas mãos, mas não queria machucá-la. Uma fada tão baixinha e pobre de magia não aguentaria um simples empurrão meu.

Respirei fundo e observei ela se aproveitar de mim. Ela não parecia estar mentindo ou tentando alguma coisa errada.

— Sente tanto frio assim? — Perguntei curioso.

— Você não faz ideia — Ela respondeu de olhos fechados.

— Certo, posso dormir perto o suficiente para que se sinta confortável, mas terá que me ajudar amanhã — Esclareci.

— Combinado.

— Não será uma tarefa fácil...

— Claro, o que quiser, senhor elfo supremo — Ela disse enquanto esfregava seu rosto em minhas mãos.

— Você não tem vergonha das suas ações? — Perguntei surpreso.

— Meu medo de sentir frio supera qualquer constrangimento.

Me flagrei sorrindo. Essa fadinha era muito estranha e não parecia ter tanto problema com toque. Seria alguma característica das fadas do sol?

Bom, isso tornava o cultivo em dupla muito menos complicado... Eu não era acostumado com muito contato físico, mas engoliria meus desgostos pelo bem maior.

— Não acredito...

Olhei para trás e encontrei Carter parado no fim do corredor. Sua boca estava aberta demonstrando sua surpresa ao me ver tão íntimo da fada do sol.

— Não é o que parece! — Falei e puxei minhas mãos.

— Ei! Seja mais educado! — Nealie reclamou e também notou Carter. — Devan, ele é seu amigo? Ele é bonzinho como você ou come fadas?

Por que ela insistia nesse assunto!? E como assim eu era bonzinho!? Ela não me conhecia nenhum pouco pelo visto.

Eu a olhei estranho quando ela se escondeu atrás de mim e lembrei que ela estava só de pijama. Francamente, ela não tinha nenhum pudor ao sair dessa forma.

— Carter, eu apenas estou a ajudando, ela não sabe nenhum feitiço — Esclareci para o meu amigo.

— Certo... — Carter me olhou sugestivo. — Eu não vi nada, apenas continuem.

— É sério... Nealie! — A repreendi quando ela segurou minhas mãos novamente.

— Um elfo de nível tão alto como você ainda tenta enganar uma pobre fada como eu? — Ela me olhou irritada. — Temos um trato, você dorme comigo e eu o ajudo amanhã.

Olhei apavorado para Carter que agora estava de olhos arregalados. Tentei consertar a situação, mas ele apenas me olhou com aprovação e estalou os dedos se teleportando para outro lugar.

Fiquei frustrado. Eu não estava namorando aquela fada! Eu não era como esses elfos imorais que se relacionavam com qualquer povoado, eu era um príncipe de respeito!

— Nealie — Eu a chamei irritado.

Ela não me respondeu e eu belisquei seu rosto.

— Aí!

— Vamos para o quarto logo.

— Vamos.

— Nealie, eu preciso que me solte.

— E se você fugir? Você não pareceu muito confiável agora a pouco — Ela me olhou desconfiada.

Suspirei cansado. Socializar me cansava, luz me cansava, fadas me cansavam, contato físico me cansava e principalmente fazer a vontade dos outros me cansava.

Fiz ela relutantemente soltar minhas mãos e então segurei uma de suas mãos entrelaçando nossos dedos.

— Está bom assim? — Perguntei mal-humorado. Nealie segurou o riso. — Qual é a graça?

— Você parece estar odiando isso, mas faz mesmo assim, você é engraçado.

— Eu já disse que nada é de graça, vamos.

Ela assentiu e voltamos para o meu quarto. Pelo menos eu não precisaria dormir em um lugar que eu não estava acostumado.

Só lembrei que Nealie ainda estava vestida de forma inadequada quando ela pulou na minha cama e sua camisola subiu um pouco.

Me senti estranho, mais quente que o natural. Bom, parece que eu finalmente estava sentindo o que ela sentia.

— Durma e pare de brincadeira — Falei irritado e a cobri. — Aliás, não pule na minha cama.

— Desculpe, Devan.

— Não, me chame de senhor supremo, eu gostei disso — A corrigi.

Nealie revirou os olhos antes de fechá-los e estender sua mão para mim. Respirei fundo e sentei no espaço livre da cama antes de segurar sua mão.

— Você vai dormir?

— Para você tentar me matar? De jeito nenhum — Retruquei.

— Quem disse que eu quero matar você?

— Desculpe, acho que entendi errado sua ameaça hoje cedo... Como você disse? Que tinha "meios" de lidar comigo.

— Ah... — Ela exclamou e notei seu cabelo brilhar novamente.

Não sabia o que esse brilho significava e anotei mentalmente que eu deveria acrescentar o comportamento das fadas do sol em minhas pesquisas.

— Esqueça, você é só uma fadinha, posso lidar com seus truques.

Ela fez uma careta de desagrado e eu sorri minimamente. Suas expressões eram um pouco engraçadas.

— Boa noite.

— Para quem — Resmunguei e me encostei na cabeceira da cama. — Noite.

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