Capítulo Treze

NEALIE

Meu primeiro beijo... Meu primeiro beijo havia sido com o Devan! E o pior, eu havia gostado!

— Céus, Nealie, você está louca? — Falei sozinha e me joguei na cama.

Ironicamente, o quarto do Devan era o lugar mais seguro para mim no palácio. Ninguém ousava entrar aqui... Ninguém além dele, pelo menos.

Eu estava confusa. Eu gostava do Aaron há tantos anos e definitivamente não gostava do Devan, mas seu beijo havia sido tão bom... Até ele estragar tudo ao dizer que me perdoava.

Eu não passava de uma piada, ele apenas me beijou para me punir já que eu era sua esposa. O que mais ele faria comigo? Tentaria cultivar o prazer?

Fiz de tudo para esquecer essa situação, eu ia fingir que nada aconteceu e agir normalmente, isso talvez deixasse as coisas mais leves.

Tomei banho, jantei e depois fiquei no quarto tentando me aquecer em vão. Porcaria, eu não podia pedir a ajuda do Devan de nenhum jeito agora, afinal eu tinha mesmo quebrado minha parte do acordo.

— Nealie.

Olhei assustada para Devan que estava na porta do quarto. Sentei na cama e puxei a coberta até o meu pescoço.

— O que você quer?

Devan entrou no quarto e fechou a porta. Meu coração acelerou quando ele caminhou até a cama e sentou ao meu lado.

— Desculpe, eu não queria castigá-la, apenas agi por impulso.

Pisquei. Devan estava me pedindo desculpas!? E confessando que me beijou por vontade própria!?

Lembrei da história do Devan impostor... Será que Bryana havia se enganado!? Não era possível que o príncipe herdeiro da lua me pedisse desculpas!

— Devan, você é mesmo quem diz ser? — Perguntei curiosa. — Você pode falar comigo, eu não sou do clã da lua de qualquer forma.

— Devan impostor... — Ele sussurrou e me surpreendi com suas habilidades de dedução. — Você acha que sou um impostor?

— Não me leve a mal, mas você está pedindo desculpas e também me beijou então...

— Certo, são atitudes incomuns vindas de mim — Ele me olhou diferente. — Mas acho que uma fada incomum exige ações incomuns.

Meu cabelo começou a brilhar pelo constrangimento que eu estava sentindo. Era mesmo o príncipe? Se fosse então eu estava mais confusa do que antes.

— Eu compartilhei minhas lembranças com você, como eu poderia fazer isso sem ser o Devlhan?

— Você tem razão — Falei timidamente. — É você mesmo.

— É claro, se não acredita... Me dê sua mão.

Deixei que ele segurasse minha mão, apesar de estar um pouco hesitante. Sorri instintivamente ao sentir sua pele quentinha e contive a vontade de me agarrar em seu corpo.

Devan riu baixo enquanto desenhava com seu dedo algo na minha palma.

— O que é isso? — Perguntei curiosa.

— Um feitiço com o meu nome, nomes são poderosos, é impossível que você me invoque se esse não for meu nome — Ele explicou. — Se precisar de mim, basta fechar sua mão e repetir meu nome duas vezes.

— Você vai aparecer!? — Perguntei maravilhada enquanto olhava o símbolo na minha mão.

— Imediatamente.

Sorri. O Devan podia ser um pouco chato, mas era bom ter sua proteção caso algo ruim me acontecesse.

— Obrigada — Agradeci.

— Tudo bem — Ele sorriu. — Estou desculpado?

— Você realmente não me beijou para me castigar? — Perguntei e ele negou com um aceno de cabeça. — Por que me beijou?

— Você não é a minha esposa? — Ele retrucou. — Além disso, eu quis lembrar sua posição e título, não pense demais nisso.

— Ah... Você poderia apenas ter falado...

Isso era constrangedor. Ele era tão possessivo ao ponto de me beijar para lembrar que eu era sua esposa!?

— Já disse que agi por impulso, Nealie — Devan suspirou cansado. — Você me desculpa ou não?

— Tudo bem, está tudo esclarecido... Mas não me beije novamente.

— Como se você não tivesse gostado.

— Eu não gostei!

— Não foi o que pareceu — Ele sorriu convencido. — Bom, só vim esclarecer as coisas, boa noite.

— Onde você vai?

Nosso acordo era ele compartilhar seu calor comigo, como ele podia me abandonar já no segundo dia?

Além disso, ele estava em dívida por ter me beijado sem perguntar antes.

— Dormir.

— Mas...

— Você não cumpriu sua parte do acordo, lide com isso.

— Mas eu vou morrer de frio! — Retruquei.

— Eu quase morri de tanto tédio por esperá-la — Ele deu de ombros. — Até amanhã.

Eu o olhei irritada, mas ele não se intimidou e seguiu para a porta. Eu não tinha forças para impedi-lo, precisava pensar em algo para convencê-lo.

Minha mente trabalhou rápido ao lembrar do feitiço que ele havia me ensinado e eu fechei minha mão a colocando em cima do peito.

— Devan, Devan, Devan, Devan...

Fiquei repetindo sem parar até que gritei quando Devan surgiu magicamente na minha frente.

— Nealie, você pode por gentileza não repetir meu nome tantas vezes? — Ele sorriu com ódio. — Sua voz ecoa como um grito por toda a minha mente quando você usa esse feitiço, seja mais responsável.

— Oh... Eu não sabia que era tão poderoso — Sorri animada.

— É algo meu, é claro que é poderoso — Ele retrucou. — Diga logo o que você quer ou vou achar que não consegue se separar de mim.

— Eu de fato não consigo, Devan, eu tenho um probleminha com temperatura.

— Eu já disse que você não cumpriu sua parte, posso dormir aqui amanhã dependendo do seu desempenho.

— O que eu preciso fazer? Vamos fazer agora!

Era melhor ficar acordada trabalhando do que acordada morrendo de frio.

— Agora não é uma hora oportuna.

— Você não está facilitando para mim.

— Não fique irritada, você que quebrou o acordo.

Suspirei com irritação e Devan sorriu. Meu estresse devia diverti-lo, psicopata.

— Você me beijou, precisa se redimir — Tentei a sorte.

— Tudo bem — Ele se aproximou quase encostando seu nariz no meu. — Você pode me beijar assim ficamos quites.

Meu coração acelerou e eu fiquei olhando seus lábios por mais tempo que deveria. Devan fechou os olhos e foi diminuindo mais ainda a distância.

Quando senti seus lábios tocarem de leve nos meus, caí na real e o empurrei.

— Você disse que não iria mais me beijar!

Eu estava mais irritada por quase aceitar seu beijo novamente do que pelo beijo roubado.

— Você que quis me beijar!

— Eu não disse isso — O olhei brava. — Esqueça, se você vai brincar comigo pode ir embora, eu prefiro morrer de frio.

Devan suspirou irritado e começou a tirar seu casaco.

— O que... O que está fazendo!?

— Indo dormir — Ele tirou suas botas e deitou ao meu lado. — Boa noite.

— Mas...

— Amanhã cedo vamos cultivar juntos, durma logo, pois não tolero atrasos.

— Eu vou pegar um cobertor e fazer uma barreira entre nós.

— Você se acha demais, quem quer tocar você durante a noite? Durma logo.

Eu o olhei desconfiada, mas ele estava até de costas para mim. Talvez eu pudesse confiar já que na noite passada ele havia agido normalmente.

— Certo, estou confiando em você.

— Me sinto honrado — Ele disse ironicamente.

Virei de costas para ele decidida a dormir, mas não conseguia me esquentar muito bem apesar do calor que emanava do Devan.

— Devan?

— O que foi agora?

— Mão.

Ele resmungou irritado, mas logo senti sua mão tateando meu braço antes de finalmente entrelaçar seus dedos nos meus.

— Obrigada — Sorri me sentindo quentinha.

— Não me agradeça, me pague amanhã.

— Sim, senhor! Serei uma cultivadora exemplar.

Devan riu baixo e eu fechei meus olhos já sentindo o sono vir.

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