Liam Narrando:
Trabalhar no mundo humano é chato, às vezes complicado, mas quando se trabalha num grande jornal é comum que sua rotina mude de repente. Assuntos novos surgem a todo momento por isso o departamento encarregado a mim tem três pessoas, e comigo quatro, apenas para organizar as matérias que vão ao grande público.
Eu sou responsável em analisar a veracidade dos fatos e passar eles para todo o estado, às vezes também viro repórter correspondente quando a matéria é recente ou extremamente importante. Todos me questionam como eu chego tão rápido a fonte, isso tem sido meu ponto forte no currículo desde Shanghai. O lado bom é que ninguém desconfia de que seja magia, o ruim é que não é bom utilizar sempre magia para coisas mundanas como me deslocar de um ponto para outro, por isso muitas vezes dispenso o trabalho de fazer um link.
[Liam]
– Estou saindo! – Falava num tom sério e apressado.
[Edward]
– Tenha um bom dia! – Sair recebendo um bom dia dele já virou um hábito, mas apenas agora que percebi isso.
Edward ainda estava terminando de retirar a mesa do café da manhã quando parei um pouco antes de calçar os sapatos e sair e fiquei o observando. Também não havia reparado antes em como ele fica concentrado quando está ocupado e em silêncio, é realmente… Bonito.
(Talvez eu devesse apresentar ele a algumas colegas.¹)
Terminei de calçar os sapatos, e chamei o elevador, ainda tinha tempo para chegar no trabalho. Enquanto descia pensava no que aconteceu ontem novamente, uma sensação estranha formigou nos meus lábios, e pareciam até que não eram meus que estavam sendo beijados por alguém, o que seria no mínimo estranho. Assim que o elevador se abre para o saguão do prédio, um frescor me atinge e a essa altura eu já havia afrouxado minha gravata e meu blazer agora estava no meu braço, estava um forno, acho que a ventilação desse elevador precisava de uma limpeza.
Depois de andar um pouco até uma rua pouco movimentada, mentalizo o prédio do jornal enquanto conjurava o octograma. E assim que atravessava o portal desaparecia atrás de mim dando lugar a uma parede de concreto e um beco dando de frente para o enorme prédio espelhado com a logo iluminada pelo sol. Todos os dias milhares de pessoas entravam e saiam daquele prédio.
Lembro de quando cheguei aqui fiquei completamente perdido, muitos seguranças me zoaram por ser chinês e achavam que eu não entendia o que eles falavam. Meu chefe os demitiu assim que soube dessa história, ele é descendente de chineses, então meio que nos tornamos, como ele prefere dizer, irmãos. Apesar de algumas vezes ele ser bastante explícito em me achar melhor que os outros jornalistas do meu setor, ele também cobra bastante do meu trabalho jornalístico.
Como de costume, ele sempre deixa uma caixa de rosquinhas e um copo de café na minha mesa assim que sabe que cheguei ao prédio, isso virou uma espécie de bom dia entre nós dois. E hoje novamente quando cheguei lá estava, mas ele também estava sentado em frente a minha mesa.
[Liam]
– Senhor Han, bom dia!
[Han]
– Oh my goddess, quantas vezes já te disse pra não me chamar de senhor nem pelo meu sobrenome! – Ele era um pouco mais velho do que eu, questão de 4 anos, então eu me forçava a seguir o que ele pedia, mas às vezes a força do hábito não permitia que eu o chamasse de Irmão ou apenas Richard na frente de todos.
Apesar dele ter herdado o jornal de seu avô, Richard tem um intelecto alto e raciocínios rápidos, provavelmente proveniente da educação que ele teve antes de se tornar dono do Jornal. Era elegante também, apesar de muitos dos meus colegas falarem que ele não tinha senso de moda antes que eu chegasse aqui. Minha primeira impressão dele foi que era excêntrico e um riquinho filho de papai, mas os cafés da manhã e a forma como vem me tratando mudaram essa minha impressão dele ao mesmo tempo que ia conhecendo seu lado mais extrovertido.
[Liam]
– Ok, aconteceu alguma coisa? Você ficou aqui me esperando com tanto trabalho pra fazer. – Falava deixando minhas coisas na cadeira e já ia olhando as pastas e papéis em cima da mesma tomando até o espaço do meu Notebook.
[Han]
– Na verdade, eu queria te ver. Foi um longo final de semana, como foi? – Ele falou se virando para mim ainda se apoiando na mesa, sorrindo para mim como se isso fosse me fazer falar tudo.
[Liam]
– Ah, nada mal! Meu gato tem dado trabalho, mas nada que eu não resolva… – Respondi apenas por formalidade.
Richard ficou me olhando por um longo tempo enquanto eu esperava o programa iniciar, os olhos dele ficaram vagando pelo meu blazer até voltar a olhar meu rosto, e ele nem tentou disfarçar que estava me encarando.
[Han]
– Incrível! – Ele se estende para alcançar a minha gola, mas eu desvio e ele recua. – Você não ter pelos nas roupas, seu gato deve ser incrível. Mas com um dono como você por perto obviamente é bem cuidadoso com o que é seu!
Eu ri no início, mas depois fiquei pensando em como realmente cuidei do Edward desde que ele chegou em casa. Foram as semanas mais longas da minha vida desde que me mudei para Nova York.
[Liam]
– Ele é realmente diferente. – Falava dando um sorriso breve e finalmente me concentrando no meu notebook.
[Han]
– Será que ele se importaria se eu apresentasse a Genneviv a ele? – Ele falava enquanto se inclinava aos poucos contra a mesa, me olhando de baixo pra cima.
(Admito as vezes ele me assusta)
[Liam]
– Er... Eu não sei, as vezes ele é muito arisco a outros gatos, tenho medo de que sua gatinha não se dê muito bem com ele. – Falava olhando para ele novamente.
[Han]
– Ah não tem problema, posso conhecer ele primeiro! Que tal um jantar na sua casa? – Han se afasta dando a volta em minha mesa e ficando ao meu lado. – Eu vou ter o cheiro da Genneviv em mim então se ele se acostumar comigo pode se dar bem com ela!
[Liam]
(Acho que ele vai odiar ter ambos em casa.)
– Eu não sei Han- Richard… – Ele me interrompe.
[Han]
– Fora que me lembro que você mencionou uma vez que sabia fazer um macarrão maravilhoso, desde então estou curioso para provar! – Ele estava cada vez mais perto, o que já estava sendo o bastante para mim.
[Liam]
(Que bela desculpa! Tudo isso para fazer sua gata ficar com o Edward? Será que eu conto?)
– Eu não sei, acho que… – E ele me interrompe novamente.
[Han]
– Além disso, posso ter uma proposta de promoção pra você! Pode virar meu assistente executivo e fazer as matérias diretamente comigo. E então? – Han se curva apoiando uma mão no encosto da minha cadeira e com a outra me oferece o café, mas seu sorriso e seu olhar continuam no meu rosto.
Em momentos nossos olhares se cruzavam e o sorriso dele se alargava mais e isso me irritava, não igual ao Edward me irrita quando faz isso, mas de uma forma que sentia vontade de simplesmente deixar de existir na frente dele. Apesar de tudo, no fim ainda era sobre trabalho.
[Liam]
– Tudo bem então, porque não conversamos sobre isso melhor mais tarde?
[Han]
– Perfeito! Vamos naquela cafeteria de sempre na Times Square, às quatro da tarde? – Eu não me lembrava de qual das 40 cafeteiras ele estava falando, até ver o selo da Dino's no protetor do copo de café.
[Liam]
– Certo, às quatro. Eu estarei lá! – Pegava o café da mão dele, mas ele segura minha mão com as duas mãos dele antes de soltar.
[Han]
– Ótimo! Então bom trabalho hoje, irmão! – Ele empurrou a caixa de rosquinhas recheadas para mim e saiu caminhando por entre as outras mesas do setor cumprimentando os outros jornalistas de forma mais profissional.
Ele é completamente estranho, mas é um cara bom apesar disso.
[Danieel]
– E ai, como foi a bajulação de hoje Liam? – Uma jovem com um coque afro adorando por uma caneta prata e um sorriso largo no rosto se aproxima da minha mesa deixando mais algumas pastas.
[Liam]
– Cada dia mais esquisito Dani... Então o que temos? – Falava analisando as pastas as espalhando pela minha mesa.
Daneel era "a garota do café" pelo menos ela se chamava assim apesar de ser assistente administrativa pois só era chamada para entregar café. Foi contratada algumas semanas depois que cheguei aqui e fui um dos primeiros a ter uma proximidade com ela, aos poucos ela deixou de ser só “a garota do café”. É uma mulher bem gentil, e engraçada mas com uma personalidade forte apesar de bem reservada.
(Talvez ela combine com o Edward...)
[Liam]
– Dani, desculpe perguntar, não precisa responder se não quiser, mas... Você tem namorado? – Ela olhou em volta antes de se aproximar e sussurrar comigo.
[Daneel]
– Não deixe o Senhor Han ouvir você perguntando isso para as mulheres daqui!
[Liam]
– Por que? Eu fiz alguma pergunta indecente? – Perguntava sussurrando para ela.
[Daneel]
— Dizem que a Roxane foi demitida por te trazer café, acharam que ela estava dando em cima de você e você estava afim dela. – Ficava surpreso depois de saber disso, e me senti culpado mas não justificava a demissão. – Além disso, sou lésbica e tenho uma namorada.
[Liam]
– Espera! O que o senhor Han tem a ver com isso? – Falava um pouco mais alto, mas logo Daneel faz sinal para que eu voltasse a falar baixo.
[Daneel]
– Não faço ideia! Dizem que ele não gosta de outras mulheres perto de você. Nunca percebeu que sou a única que fala com você por aqui?
Pouco mais de um ano havia se passado desde que cheguei, já havia notado que não tinham muitas mulheres próximas a minha mesa mas nunca imaginei que seria por causa do Han. Giselle era uma assistente de comunicação, ela e eu nos esbarramos na cantina uma vez e ela derrubou meu café, em compensação ela ofereceu um café e rosquinhas. Depois daquele dia não a vi novamente e o senhor Han tem me deixado café e rosquinhas na mesa desde então.
[Liam]
(E eu achando que era alguma espécie de bom dia.)
– Não dá para acreditar…
[Daneel]
– Acho melhor ter cuidado, se ele souber que está afim de alguém mesmo fora daqui, vai acabar com ela por estar no seu caminho! – Ela fala olhando na direção da sala dele e em seguida se afasta. – Enfim, se cuida! Mais tarde eu volto…
[Liam]
– Dani… Espera, volta aqui! – E saiu apressada, sem olhar para trás.
Eu ainda estava raciocinando porque ele fez aquilo, e não me falou até hoje. Parecia um bolo de carne com recheio podre que só fazia crescer e eu precisava tirar essa história a limpo antes que mais alguém fosse demitido por simplesmente me dar bom dia.
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Atualizado até capítulo 31
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