Capítulo 10

Liam Narrando.

Enquanto comíamos, eu permaneci calado enquanto Edward não parava de elogiar a comida toda vez que colocava os fachis na boca, talvez numa tentativa boba de tentar puxar assunto.

[Edward]

– Caramba! Você deveria ser chef de cozinha em vez de jornalista! – Eu não respondi, apesar de tudo, ainda estava bravo com ele, o que fez ele parar e ficar me olhando por bastante tempo até começar a tagarelar novamente. – Por que bloqueou seus pensamentos?

Eu olhei para ele e ele para mim, ambos com um olhar irritado. Terminei de engolir a comida e finalmente o respondi.

[Liam]

– Não quero você bisbilhotando minha mente também.

Edward se encostou na cadeira, cruzando os braços e apertando os olhos ainda me encarando. Eu continuei comendo sem olhar para ele novamente.

[Edward]

– Eu tô morando com você há dias e nem nos conhecemos direito. Eu… Eu tenho que saber com quem eu tô convivendo, né?

Parei de comer, deixei os talheres de lado no prato e encarei ele de volta encostando na cadeira também. Tirei o desenho do meu bolso colocando em cima da mesa e fiquei observando sua reação.

[Liam]

– Nunca te ensinaram a perguntar?

Ele não respondeu quando perguntei e o silêncio durou até mais do que eu esperava, em vez disso ele ficou encarando o desenho, mas não parecia que estava pensando nele.

[Edward]

– É difícil ser ouvido quando você cresce acostumado a ser ignorado. Sabe como é viver com várias crianças na sua casa?

Eu não sei realmente, mas não deve ser muito diferente de ter crescido praticamente sozinho a vida inteira. Mas ainda, sim, não entendo a dificuldade em simplesmente perguntar antes de sair mexendo em tudo.

O silêncio permaneceu por mais algum tempo, e isso finalmente estava me incomodando. Resolvi tentar dar mais uma chance para ele, mas não antes de falar o que penso.

[Liam]

– Você poderia ter me perguntado sobre qualquer coisa em vez de apenas sair bisbilhotando por aí.

A expressão dele passou de triste para confuso, e então parecia interessado e um pouco eufórico, tudo isso em um instante.

[Edward]

– Sério? Qualquer coisa?

Eu acenei com a cabeça enquanto ele me olhava, sinceramente tinha medo do que isso poderia ocasionar, mas eu precisava fazer isso pelo bem do nosso trabalho.

[Edward]

– Então… Por que você ficou tão afetado por um desenho?

Meu olhar saiu dele para o desenho em cima da mesa, relembrando um dos momentos mais caóticos da minha infância.

Quando eu vagava pelos lares adotivos, acabei com uma senhora louca por gatos. A casa era enorme e cheia de gatos, porém era estranhamente limpa e eu poderia considerar um lar bem aconchegante, se não fosse por um gato preto que salvou a minha vida. O gato do desenho se chamava Lin Hua, o espírito de um garoto de rua morto pela senhora que me adotou. O caso era que essa senhora era uma Megera, uma bruxa que atraí as crianças para se alimentar do seu corpo e suas almas ficavam aprisionadas em gatos que ela “resgatava” e mantinha cativos para outros rituais. Graças a Lin Hua, consegui fugir e ainda salvar sua pós-vida, libertando sua alma do gato que ele estava possuindo. A Megera provavelmente continuou atraindo outras crianças, infelizmente, e eu não pude salvar os outros gatos, também nunca mais ouvi falar dela ou daquela casa depois que fugi de lá. Ela desapareceu como se nunca tivesse existido.

[Liam]

– Esse gato… Ele salvou a minha vida.

[Edward]

– Então, você já teve seu familiar?

Não consegui evitar e soltei um sorriso sarcástico.

[Liam]

– Olha só quem andou estudando! Pensei que soubesse já que xeretou a minha vida.

Edward suspirou pesadamente e se projetou para frente novamente, colocando os cotovelos na mesa.

[Edward]

– Tá bom! O que você quer? Um pedido de desculpas escrito a mão e autenticado em cartório? – Ele virou o rosto para o lado cortando o contato visual, deu um suspiro e continuou. – Eu entendo que você não me queria aqui, eu também não iria gostar de ter um estranho igual a você morando comigo do dia para noite, mas antes de você ou eu temos um trabalho.

[Liam]

– Eu sei.

[Edward]

– Mas isso não vai funcionar se você ficar me ignorando, que merda Liam! Eu só… sei lá.

Achei podermos ser amigos?

Eu já ia chegar nesse ponto. Realmente não dei espaço para ele nesses dias que convivemos, mas não sei o que acontece comigo, simplesmente não consigo aceitar qualquer pessoa diretamente na minha vida (Mas talvez eu devesse começar de alguma forma). Eu estendi minha mão para Edward, e ele voltou seu rosto em minha direção e olhou do meu rosto para minha mão umas duas vezes.

[Edward]

– O que é isso?

[Liam]

– Estou tentando recomeçar. Vai me deixar assim?

Um pouco mais de tempo e Edward finalmente apertou minha mão e foi como se uma corrente elétrica passasse por nós dois. Edward deu um sorriso grande e sacudiu munha mão.

[Liam]

– Muito bem, eu prometo tentar ser menos indiferente com você!

[Edward]

– Nossa, você realmente precisa aprender como pedir desculpas. Mas por enquanto, essa da para engolir! Igual sua comida.

[Liam]

– Agora é assim?

Ambos rimos da situação, soltamos as mãos e logo Edward terminou de comer.

Após conversarmos mais um pouco, percebi que nós dois tivemos infâncias difíceis, cada um a seu grau. Na minha opinião Edward conseguiu superar bem suas dificuldades, mas sempre com apoio de alguém. Quando contei minha história ele quase começou a chorar, mas segurou até o fim, talvez estivesse com medo que eu brigasse com ele de novo, mas evitei entrar em mais detalhes até porque não tinha toalhas de papel (precisava realmente ir ao mercado).

Edward me ajudou a tirar a mesa, não que fosse algo que precisasse de ajuda, mas ele nem perguntou, apenas foi fazendo então nem questionei.

[Liam]

– Pode ir dormir, eu vou arrumar o resto!

[Edward]

– Tem certeza? Eu dormi bastante, não tô com son- – E o próprio corpo dele refuta seu argumento insonio com um bocejo longo. – Droga!

[Liam]

– Vai dormir!

Acabava soltando um risinho e depois começava a lavar os pratos. Edward não me obedeceu e preferiu ficar sentado na bancada me interrogando até que começasse a pegar no sono.

[Edward]

– Onde aprendeu a cozinhar?

Ele tinha uma voz até animada para quem estava com um rosto estampado de sono. Imaginei que o que ele precisava era uma boa história para dormir de vez.

[Liam]

– Eu tive que me virar. Sempre que eu conseguia, parava para observar os restaurantes ao ar livre ou programas de culinária que passavam nas casas. Quando eu podia, tentava fazer alguma coisa, mas eu errei bastante antes de acertar.

[Edward]

– Ah, então você não é tão perfeito assim!

[Liam]

– Nunca disse que era!

[Edward]

– Mas você é tão nerd que passa essa impressão, parece que você nasceu sabendo fazer qualquer coisa. – Aquilo era realmente engraçado de ouvir. Já fui chamado de nerd de várias formas diferentes, mas dessa vez eu não tinha certeza, mas era um elogio. – Isso é demais, sabia?

[Liam]

– Você sempre começa a falar besteira antes de dormir? – Perguntava rindo um pouco.

[Edward]

– Não é besteira! Tô sendo sincero. Queria ser que nem você, parece que nada te afeta. Deve ser muito legal, fora que isso te deixa mais atraente e intimidador.

A essa altura Edward já estava com a cabeça apoiada nos braços e os olhos completamente fechados, a voz que antes parecia animada, agora estava sonolenta. Ele resmungou alguma coisa antes de cair completamente no sono. Terminei de lavar a louça enquanto observava ele dormir calmamente. Após guardar tudo considerei acordar ele para ir para o quarto, mas pensei novamente e podia muito bem deixar ele dormir no sofá só essa noite…

(Não, eu não sou desses.)

Tentei acordar ele, mas isso só resultou em mais um resmungo e uma virada de cabeça. Sacudir então, quase levei um tapa. Minha opção foi forçar sua transformação em Neko e levá-lo para a cama. Chegando ao quarto, deixei ele de um lado da cama em cima do travesseiro e me sentei do outro lado, com Edward naquela forma tinha espaço suficiente para nós dois dividimos a cama sem invadir o espaço um do outro.

Olhei para ele e parecia profundamente adormecido, então desliguei as luzes e me deitei do outro lado me cobrindo até metade do peito. Estava quase pegando no sono quando senti algo pesado na barriga que me fez acordar num sobressalto.

[Liam]

– Ah, não… –Ele logo parou de rodopiar e deitou bem no meu peito. – Jura? Você está ronronando?

(E depois quer gritar que não é um gato? Tá bom!)

Eu não ia brigar, nem tinha energia para gastar brigando com ele na forma de um gato. Até tentei empurrar ele para o lado, mas ele cravou as unhas no meu ombro e depois de um tempo ele deixou a cabeça tombar no meu pescoço. Então essa foi a forma como dormi nessa noite. Do peito para baixo coberto pelo lençol, e do peito até o pescoço coberto por um Neko territorialista. (Eu só queria dormir na minha cama de novo…)

Apesar disso ainda consegui dormir tranquilamente, mais do que em vários meses antes, o que era esquisito.

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Comments

Mille☆

Mille☆

estou morrendo de amores!!!! /Sob//Heart//Heart//Heart/

2024-01-06

3

Mille☆

Mille☆

achei que ele iria dizer que precisava ir a terapia.../Chuckle/

2024-01-06

1

Mille☆

Mille☆

/Applaud//Applaud//Heart/ que fofinhos!!! céus.../Heart/

2024-01-06

1

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