Os dias passaram rápido. Dois meses voaram que nem percebi. Minha barriga já era notada de tão enorme que estava. Nesses dois últimos meses ela desenvolveu-se bastante. Meus pés começavam a ficar um pouco inchados e comecei a sentir um pouco de incômodo na coluna. Ao chegar a sala de descanso, após uma manhã bem agitada na urgência, encontrei duas colegas conversando.
— Essa história é abominável. — Uma delas comentou.
— Pior que ela não sente um pingo de vergonha. Fica exibindo a barriga no ambiente de trabalho. — A outra ainda teve o cabimento de dizer. Naquele momento minha paciência resolveu dar uma volta, me deixando sozinha.
— Uma dúvida, essa conversa é sobre mim? — Ambas me olharam, mas nada falaram. Sempre assim. Falar por trás é fácil demais, agora falar na frente, já é outro nível. — O silêncio de ambas já responde a minha pergunta. Agora deixe-me explicar as duas pessoas ignorantes na minha frente, mesmo não sendo preciso, porque como funcionárias da saúde, ambas deveriam ter conhecimento. Isso aqui, — Passei a mão na minha barriga — é o que chamam de barriga solidária. Já ouviram falar, né? Pois bem, eu mesma me ofereci para gerar o filho do meu irmão e realizar o sonho dele de ser pai. Não tenho vergonha nenhuma de exibir minha barriga, porque isso aqui, é um ato de amor. Abominável é a atitude preconceituosa de vocês. É a ignorância de julgar sem se informar primeiro. Estou cansada dessas atitudes, então serei bastante clara a partir de agora, não aceitarei mais esse tipo de comportamento e a próxima vez que eu escutar qualquer comentário preconceituoso contra mim, irei diretamente ao RH e registrarei uma queixa. Se ainda assim não for suficiente para acabar com esse tipo de preconceito, irei até os órgãos competentes e registrarei outra queixa, para que esse tipo de preconceito tenha fim. Todos estão avisados!
Estava cansada de sempre tirar por menos e ignorar aqueles tipos de comentários. Sete meses haviam se passado. Era tempo mais do que suficiente para aquele povo ter superado isso. Dei as costas aos demais que continuavam em silêncio e deixei aquela sala, mesmo quando havia acabando de entrar ali.
Fui até a praça que ficava no complexo do hospital e me sentei lá. Era preferível está ali que cercada de gente falsas. Aquilo terminou me irritando muito. Não queria chorar, mas a raiva fazia isso comigo. Encostei minha cabeça no encosto do banco de cimento e fechei meus olhos, tentando me controlar.
— Sabe como se chama o que aconteceu naquela sala? Não era apenas preconceito, mas inveja. Porque nenhuma delas tem a metade da sua capacidade. Nem um terço de sua resiliência. Muitas delas queriam ter a coragem de ligar o foda-se para a opinião alheia. Exatamente o que você fez. Não se estresse por aquilo. — Olhei para aquele médico que eu nem sabia o nome, mas que já havia visto outras vezes pelos corredores. A única coisa que sabia sobre ele, era que todas as mulheres solteiras do hospital o cobiçavam. — Doutor André Almeida, pediatra. — Ele me estendeu a mão.
— Doutora Bianca Bernardes, cardiologista. — Apertei sua mão, o cumprimentando.
— É a primeira gestação? — Ele perguntou, sentando ao meu lado.
— Sim, é a primeira. — Falei, passando a mão na barriga.
— Além de tudo, muito altruísta. Admirável sua atitude. Já sabe o sexo desse neném.
— Ele ainda não nos permitiu saber. Sempre fecha suas perninhas. — Falei mais uma vez, passando a mão na barriga e dando um sorriso, o primeiro do dia.
— Se fosse para apostar, eu diria ser uma menina. — O questionei com o olhar. — É porque menina tende a ser mais geniosa. — Ele disse rindo, o que me fez soltar uma gargalhada.
— Meu irmão ficaria feliz em escutar isso, aposto que ele concordaria com você.
— Seu irmão é um cara sábio, além de sortudo. Tem uma irmã linda, corajosa e inteligente. — Aquilo me deixou sem palavras. — Preciso voltar agora. Plantão pediátrico, mas deixa eu te contar um segredo antes... nada é mais forte e admirável que uma mulher que sabe o que quer e não tem medo de ser quem é. Espero te vê por aí. — Ele se levantou e foi embora.
Fiquei apenas o observando. Pude verificar que por onde ele passava, as mulheres ficavam todas polvorosas. Me perguntei se ele veio até aqui apenas falar comigo, mas isso era algo que eu nunca descobriria. Porém, sendo sincera, me senti lisonjeada com aquele ato dele. Pouco eram os funcionários que trocavam qualquer tipo de palavra comigo, parecia até que eu tinha alguma doença contagiosa.
Assim que deu meu horário, voltei para a urgência. Quando estava chegando a portaria, um carro parou cantando pneus. O motorista desceu as presas e abriu a porta do passageiro, puxando um homem quase inconsciente de dentro, enquanto uma mulher também desceu apressada. O motorista tentou segurá-lo de todas as maneiras, mas o homem terminou ficando inconsciente, enquanto a mulher gritava por socorro. Atravessei correndo e fui a primeira a chegar.
— O que houve? — Ajudei o motorista a deitar o homem ali no chão mesmo e olhei seu sinal vital, mas ele não tinha nenhum.
— Ele acabou de desmaiar, doutora.
Comecei a fazer a massagem cardiorrespiratória ali mesmo, enquanto a ajuda não chegava. Os sinais vitais daquele paciente estavam falhando. Para ele, cada segundo era um sopro de vida. Só parei de fazer as massagens quando o conseguir estabilizar um pouco. Solicitei uma maca, colocamos ele sobre ela e com urgência o levamos a cabine de ressuscitação, depois de duas tentativas com o desfibrilador, conseguimos de fato estabilizar o paciente.
Aquilo foi realmente muita sorte dele, se eu não tivesse chegado naquele momento, não sei se teriam conseguido ressuscitá-lo. Solicitei o eletrocardiograma e um exame de imagem. Após realizar esses dois exames solicitei o bloco cirúrgico. Aquele paciente precisava de uma ponte safena com urgência.
NOTA DA AUTORA:
Olá, meus amores, passando aqui para convidar vocês a me seguirem e interagirem comigo no Instagram. Espero em breve encontrá-los lá! // Instagram: sandrinhadmx //. Vamos fazer essa autora um pouco mais feliz! Beijinhos a todos e uma ótima leitura.
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Atualizado até capítulo 86
Comments
Vó Ném
Autora que livro maravilhoso , e esse tema de preconceito, existe sim é mais do que se pensa ...ela colocou as vadias no seu lugar .
E vejam quem apareceu o pediatra gostosão....
Parabéns ⚘️ autora ⚘️ foi é muito boa na escrura !!💕💕💕💕
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2025-01-26
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Marcia Santos
Bianca, você é uma mulher empoderada e dona do seu nariz, deixa as fofoqueiras recalcadas pra lá e segue sua vida
2025-01-11
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Neide Lima
Autora já vai dar meia noite e tô aqui Lendo 🤔pois tá me prendendo muito e muito interessante a História Parabéns
2025-03-30
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