CAPÍTULO 04

Não queria dizer em voz alta, mas existia o risco de meu irmão não viver por muito tempo. Eu queria que esse desejo de ser pai que ele tinha, fosse realizado. Sei que poderia de gerar essa criança. O Matheus sabia o quanto meu irmão era importante para mim, então acreditei que ele me apoiaria também.

— Você tem certeza disso, Bianca? Não quero que você se sinta compelida a aceitar por conta da minha situação. Podemos dar um jeito nisso depois.

— Nada me deixaria mais feliz do que carregar meu sobrinho, ou sobrinha. — Falei rindo. Nesse momento meu irmão tinha lágrimas nos olhos e me puxou mais uma vez para abraçá-lo.

— Obrigado, irmã! Você estará realizado um grande sonho meu. Espero que essa doença não me leve antes de poder carregar meu filho, ou filha em meus braços.

— Você vai superar isso, e irá carregar seu filho nos braços, Biel. Agora descanse!

Na verdade, eu precisava acreditar naquilo. Mesmo que as chances ainda fossem baixas. Mas eu não poderia pensar na possibilidade de perder meu irmão. Saí da cama e meio que deitei no sofá pequeno que existia ali. Peguei meu celular e enviei uma mensagem para o Matheus.

📱(Bianca): Amor, como está seu plantão?  Meu irmão está um pouco melhor. Passarei a noite aqui e a Katie amanhã me renderá. Matheus, tenho algo muito importante para conversar com você.

📱(Matheus): Oi, meu amor está um pouco corrido aqui, mas caso queira eu te ligo ou passo aí para conversarmos.

📱(Bianca): Não é necessário amor! Podemos nos falar amanhã. Sei que você está de plantão, então se concentra aí. Eu te amo!

📱(Matheus): Diga a seu irmão que teremos tempo de nos conhecer em breve. Eu também te amo!

Aquele era um assunto muito delicado que não deveria ser falado por telefone e aqui era nosso ambiente de trabalho. Não queria misturar nossa vida pessoal com a profissional.

...MATHEUS REYNARD...

Conheci a Bianca por meio de uma amiga em comum. Estava procurando um quarto que pudesse alugar, então essa amiga me informou haver alugado um apartamento com outra amiga e que havia um quarto vazio. Aceitei na hora.

Teria um quarto apenas para mim, e isso significava mais privacidade. Mal nos encontrávamos em casa. Porém, certo dia, enquanto estava estudando na sala, uma garota entrou. Ela estava tão distraída que nem me viu ali, mas reparei o quanto ela era linda.

Ela foi direto para seu quarto, depois de um tempo voltou de banho tomado e enrolada com uma toalha, entrou na cozinha, ainda sem me notar na sala. Apenas quando ela retornou com um sanduíche e um copo de suco em mãos, foi que ela me reparou ali. O susto que tomou foi tão grande que deixou tudo em suas mãos cair no chão, e foi pedaços de vidros para todo lado.

— Acho melhor você ir trocar de roupa enquanto cuido disso aqui. Não tive intenção de lhe assustar. Me desculpe!

— Aí, meu Deus, não foi culpa sua. Eu, que devo pedir desculpas aqui, estava tão distraída que nem vi você sentado estudando. Colocarei uma roupa e volto para te ajudar.

Depois desse dia, começamos a nos encontrar com mais frequência no apartamento, e, após algum tempo, aconteceu nosso primeiro beijo. Ela foi bastante clara desde o início, quando falou não querer um relacionamento sério para poder se concentrar nos estudos. Assim, cultivamos uma "amizade com benefícios" que durava quatro anos, abrangendo um período da faculdade e especialização.

Ela em cardiologia, eu em neurologia. Quando já estávamos empregados, resolvi fazer o pedido de casamento e ela disse sim, o que me deixou mais do que feliz. Agora faltava apenas comunicarmos as nossas famílias. Sei que será um choque para todos, porque nunca assumimos um namoro e agora simplesmente iriamos casar.

Depois da situação com o irmão de Bianca, imaginei que as coisas ficariam um pouco mais difíceis. Tenho certeza que ela iria pedir para esperarmos que o irmão dela finalizasse o tratamento, e eu até compreendia. Quando ela falou que precisava conversar comigo, imaginei que fosse sobre isso.

Porém, quando a Bianca falou que o irmão e a cunhada haviam dado entrada na clínica de fertilização e que ela pretendia gerar a criança deles, não estava preparado para escutar aquela informação. Não direi que não imaginei algumas vezes a Bianca grávida, mesmo não tendo rolado sexo ainda entre nós, mas a imaginei carregando um filho nosso. Toda aquela história era demais para mim.

— Como você decidiu isso, sem nem se quer conversar comigo antes? Bianca, estamos em um relacionamento e isso é uma decisão que precisa ser conversada, porque também irá afetar a minha vida.

— Mas Matheus, pode ser que meu irmão não tenha muito tempo de vida. Esse é seu maior desejo, ser pai. O médico disse que a situação dele é complicada, a doença está bem avançada.

— Por isso mesmo que você não deveria ter tomado essa decisão assim, Bianca. Você nem sabe se seu irmão conseguirá aguentar até o final dessa gravidez.

— Ele vai aguentar, Matheus! Imaginei que você apoiaria minha decisão, mas parece que me enganei. — Ela falou com lágrimas nos olhos.

— É uma decisão séria demais para que você tivesse tomado ela dessa forma, no impulso. Você nem chegou a pensar nos prós e contra. Você nem chegou a pensar em como eu me sentiria, Bianca. E sinceramente não sei nem o que pensar a respeito disso. — Nesse momento me levantei e fui para meu quarto.

Estava muito chateado para conversar naquele momento. Precisava de um tempo para digeri tudo aquilo. Não pude acreditar que ela tomou uma atitude tão importante sem me consultar, sem incluir nós dois nessa equação. Entendia que ela poderia estar emotiva, mas não pareceu pensar em como eu me sentiria com ela carregando o

filho de outra pessoa, mesmo que fosse através de uma clínica de fertilização e fosse para o seu irmão. Ela não pareceu considerar os preconceitos que enfrentaríamos e as coisas das quais teríamos que abrir mão.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***