Ele apenas me olhava, analisando cada reação minha, mas estava sendo sincera, apesar de que por dentro estava doendo bastante. Me levantei e disse a ele que precisava trocar de roupa e ir à casa do meu irmão dar a notícia da gravidez. Entrei no meu quarto e fui direto para o banheiro. Estava novamente com aquele bolo no meio da garganta e precisava colocar aquilo para fora, antes de sair de casa. Retirei a roupa e entrei no chuveiro e minhas lágrimas se misturavam com a água que caia.
Tudo que queria naquele momento era que o Matheus me apoiasse, mas desde o início ele havia sido claro comigo, não era justo agora pedir para que ele ficasse. Quando sair estava mais leve, mas meus olhos estavam bem inchados, não tinha como sair daquela maneira. Coloquei uma roupa mais leve e me deitei na cama, pegando num sono reconfortante.
Quando acordei, percebi já ser noite. Não queria encontrar o Matheus naquele momento, porque sabia que minha tristeza voltaria com força, então permaneci no meu quarto. Quando a fome bateu, tive que sair de meu esconderijo, mas não o encontrei no apartamento. Enquanto estava preparando um sanduíche, a porta da sala foi aberta, sentir meu coração acelerar, mas não me comportaria como uma criança, me escondendo novamente no quarto, porém, para meu completo alívio, foi apenas a Duda.
— Oi, Bia, como você estar? Estou em uns plantões tão loucos, que mal tenho visto você! Como estar seu irmão e o processo da gravidez? — Ela me metralhou de perguntas.
— Calma, amiga, é muita pergunta de uma vez só. Estou bem e ligeiramente grávida. Quanto ao meu irmão, ele tem ficado cada dia mais debilitado, e vez ou outra passa muito mal, com fortes dores, mas ainda se recursando a voltar para o hospital.
— Caramba! Sinto muito pelo seu irmão! Calma, você estar grávida? Quer dizer que tudo correu bem?
— Sim, amiga! Estou grávida. — Respondi sorridente, passando a mão na barriga
— Nem sei o que dizer nessa situação. Parabéns!? Ou apenas fico feliz por tudo dar certo, já que o bebê não é seu?
Comecei a sorrir, enquanto ela me abraçava. Nossa amizade era assim, mesmo não nos encontrando sempre, uma ficava feliz pela realização da outra. Então ela me olhou com calma.
— Você estava chorando? — Ela perguntou.
— Você sempre consegue me analisar. É complicado...
— O que é complicado, amiga? Você queria tanto que tudo desse certo e quando deu, te vejo chorando e triste.
— No processo pedir o Matheus, Duda. Ele irá trabalhar em outro hospital no exterior, precisamente em Toronto.
— Mentira que ele estar indo embora por conta disso. — Ela perguntou estupefata.
— Ele recebeu uma proposta, amiga. Quantos de nós torcemos para que o mesmo nos aconteça? A oportunidade de se destacar fora do país, ainda mais na área dele, com a possibilidade de fazer parte de uma excelente pesquisa de estudo em neurocirurgia. Não seria justo eu pedir para ele ficar. Inclusive ele me convidou a ir com ele, mas eu teria que desistir do procedimento, o que não concordei. Fiz minha escolha e ele fez a dele.
— Mas, a gravidez dura cerca de 9 meses e não uma vida toda. Você não estar pedindo para ele criar um filho de outro homem.
— Em nove meses pode acontecer muitas coisas, inclusive nada, Duda. Fui a primeira a incentivar ele a ir, é uma grande oportunidade e não sabemos se daqui a nove meses ele terá outra. Eu o amo, e apenas por isso estou sofrendo, mas estou feliz pela conquista dele, pela oportunidade que ele recebeu.
— Só penso que ele estar sendo um tolo por perder a mulher que ama por medo. Porque ele teve essa mesma oportunidade assim que nós nos formamos, mas negou o convite. Ele já sabia estar apaixonado, e resolveu ficar por você. Justo no momento que você precisará dele, ele resolveu partir? Ele estar sendo um escroto. — Quando a Duda acabou de falar, o Matheus chegou, escutando o final da nossa conversa.
— Quem foi o cara que te deixou tão chateada para você o estar chamando de escroto, Duda? — Matheus perguntou sem nem se dar conta que ele era o protagonista de nossa conversa, e eu sabia que aquilo não terminaria bem. A Duda era uma maravilhosa amiga, mas muito sincera, e sinceridade demais sempre tende a machucar as pessoas.
— Você, Matheus! Você está se revelando um cara totalmente escroto. — Matheus me olhou sem entender nada. Olhou para a Duda como esperando que ela continue a falar o motivo de chamá-lo por aquele nome. A fisionomia descontraída dele logo mudou e ele ficou sério, encarando nós duas.
— Você já tinha recebido essa proposta de trabalho em Toronto, meses atrás, Matheus? — Resolvi confirmar o que minha amiga havia falado.
— Sim, Bianca!
— E por que você não aceitou? — Perguntei sem conseguir entender.
— Porque eu desejava construir uma família com você! Porém, agora tudo mudou, então resolvi aceitar o convite que deixei em suspenso anteriormente.
Olhei para a Duda, e ela simplesmente deu de ombro, como falando “eu te disse”. Então olhei novamente para o Matheus, e não conseguia mais enxergar aquele cara que eu enxergava anteriormente.
O fato de eu ter engravidado para realizar o sonho do meu irmão que poderia simplesmente morrer a qualquer momento, interferiu no sonho que ele tinha para gente? Eu carregava no ventre um filho que não seria meu, com a esperança de realizar o sonho da vida do Gabriel, meu irmão, eu não me deitei com outro homem e estava pedindo para ele assumir a criança.
Seriam apenas 9 meses, não uma vida inteira. Ali enxerguei um cara diferente daquele que eu havia conhecido e notei no olhar dele, pela primeira vez, um certo preconceito, não era apenas medo que existia ali. Então simplesmente deixei a cozinha, sem nem provar meu sanduíche, minha fome passou, dando lugar a decepção que eu estava sentindo.
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Atualizado até capítulo 86
Comments
Neide Lima
eu falei que era preconceito 🤔e Ele nunca adotaria uma Criança 😠
2025-03-30
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Anilda Alves da Cruz
o melhor é Matheus partir mesmo.
2025-01-13
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Marcia Santos
Nossa como ele é preconceituoso
2025-01-10
0