CAPÍTULO 08

Chegando em casa, encontrei o Matheus na cozinha preparando um lanche para ele. Fui até lá e o abracei. Ele devolveu o abraço e perguntou pelo meu irmão.

— Pensávamos que ele estava evoluindo, mas os remédios começaram a não fazer mais os efeitos esperados. Além disso, ele não está conseguindo se alimentar adequadamente. Estou tentando convencê-lo a voltar ao hospital.

— Sinto muito! E o processo da inseminação? A Duda me falou que você estava tendo algumas reações por conta do tratamento.

— Sim, tive um pouco enjoada por conta dos hormônios. Amanhã farei a inseminação.

— Sua cunhada vai com você?

— Não! Ela disse que não poderá faltar ao trabalho. Então irei sozinha.

— Como assim, ela não poderá ir? É o filho dela, você estar fazendo isso por eles. Ela simplesmente deixará você ir sozinha?

— Sei parecer absurdo isso, mas não queria causar uma cena com meu irmão presente, e nem vou desistir por conta disso. Estou fazendo pelo meu irmão, não por ela.

— Irei com você então! — Ele disse um pouco irritado, acreditei que pelo fato de minha cunhada não se esforçar para me acompanhar até a clínica onde faria a inseminação.

— Não precisa, Matheus. Sei que você não estar confortável com tudo isso.

— Vou por você, Bianca! Posso não estar confortável com tudo isso, mas não permitirei que você passe por isso sozinha.

Fui até ele e o abracei mais uma vez. Ele me beijou e eu retribui o beijo. Sei o quanto seria difícil para ele, por ele não querer que eu estivesse fazendo aquilo, mas ainda assim, ele estava disposto a me apoiar naquele momento. Acreditei que isso poderia contar como uma prova do quanto ele gostava de mim.

Por outro lado, eu me sentia um pouco culpada, porque depois que revelei o que pretendia fazer, não demos mais continuidade ao nosso noivado. Voltamos a amizade com benefícios. Como ele me falou que não sabia se conseguiria continuar ao meu lado depois do procedimento, achei melhor não tocar no assunto, mas isso não queria dizer que o que sentíamos um pelo outro, seria esquecido.

Sei que ele continuava a gostar demais de mim, e estava sofrendo devido à minha decisão, e eu estava sofrendo por não o ter ao meu lado, pois estava totalmente apaixonada por ele, mas não poderia decepcionar meu irmão após ter lhe dado tantas esperanças.

Decidimos assistir a um filme, aproveitar aquele momento, juntos. Preparei um lanche para mim e fomos até a sala. Após o filme acabar, resolvemos ir para seu quarto, lá seria mais confortável para nós. Sentei entre suas pernas, com minhas costas apoiadas em seu peito, enquanto ele estava sentado com as costas na parede, seus braços me abraçavam, enquanto suas mãos faziam pequenos círculos em meu abdome. Vez ou outra ele beijava o lóbulo da minha orelha.

— Você está certa de sua decisão? — Ele me perguntou.

— Não posso retroceder agora, Matheus! Já dei esperanças ao meu irmão, não desistirei de minha decisão.

— Mas certeza você não tem, é isso?

— Não é bem isso, estou com medo, confesso, e tenho algumas desconfianças a respeito da relação do Gabriel e da Katie.

— Como assim, desconfianças?

— Sei lá, Matheus, posso estar julgando errado, mas me pergunto se a Katie realmente deseja ser mãe. Fico me perguntando se ela de fato tenha algum problema para engravidar ou se ela apenas não queria engravidar. Talvez ela esteja fazendo isso apenas pelo meu irmão.

— E ainda assim você deseja prosseguir? Por que você não conversa com seu irmão a respeito?

— Meu irmão já estar numa situação delicada, Matheus. Já imaginou eu chegar agora para ele e dizer que não quero fazer mais o procedimento? A única esperança que ele tem de ser pai, acabou. Pior ainda, se eu disser que suspeito que a mulher com quem ele estar casado há alguns anos, na verdade, pode não ter o desejo de ser mãe. Isso seria uma grande decepção para ele. Ele iria desejar nunca vê-la mais na sua vida. Não duvido que ela goste dele, eles estão juntos há quase uma década, mas tenho dúvidas que ela queira um filho.

— Bianca, queria aproveitar esse nosso momento para falar com você sobre aquela proposta que recebi do exterior. — Ele mudou de assunto, e reparei que ficou tenso, então me virei e olhei para ele. — Resolvi aceitá-lo. Existe a grande possibilidade de eu crescer na minha área de atuação. Pensando como profissional, isso é tudo que mais desejo, e ainda existem as possibilidades de participar de algumas pesquisas que estão sendo realizadas na neurocirurgia.

— Matheus, essa é a oportunidade que todo médico espera receber na vida profissional. Fico muito feliz por você! Não duvide disso. Te desejo todo o sucesso do mundo, e esse era seu objetivo, nada mais justo que aceitar.

Essa era uma oportunidade única, que nem sempre apareciam em nossas vidas. O queria comigo, mas não poderia ser egoísta ao ponto de pedir que ele desistisse, ainda mais quando não desistir do que estava prestes a fazer, por ele.

— Eu tinha uma única esperança, antes de aceita. — Ele falou pensativo ainda.

— Que esperança é essa que te faria desistir de algo tão maravilhoso assim?

— Você quer que eu seja sincero? — Ele me perguntou.

— Não espero menos de você! — Falei o encarando.

— Eu tinha esperanças que você desistisse de tudo por mim. Que pudéssemos viajar juntos, e construir nossas vidas em Toronto. Seria uma ótima oportunidade para você também, porque eles têm uma vasta área de pesquisa também na cardiologia.

— Eu não posso fazer isso, Matheus! Sinto muito! Eu te amo, não tenha dúvidas quanto a isso, mas amo meu irmão também, ele precisa de mim, e estar doente, nem sabemos exatamente quanto tempo ele tem. Queria ter você comigo, mas essa é uma oportunidade única e não posso ser egoísta ao ponto de pedir que você fique. Você fez bem em aceitar a proposta, e peço que não desista por mim. Se um dia tivermos que ficar juntos, vamos nos encontrar novamente.

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