— Cem voltas, não pegou pesado com eles não? — Estava na beira da pia lavando os legumes enquanto Mildred caminhava de um lado para outro com as demais ômegas, cada uma realizando a sua tarefa.
— Olha só a audácia, ficou com dó deles filhote? Pode ir correr também… — Mildred se colocou ao meu lado espirrando água em minha direção e segurei a risada.
Seguia a movimentação naquela imensa cozinha e percebi que a comida ali não era apenas para a casa do alfa, a alimentação era distribuída por toda matilha em uma espécie de jantar coletivo. Minha mente vagou para a tarde de hoje antes de Addy e James romperem as portas chorando.
Era incrível como me sentia mais leve na presença dela, claro que ainda sentia meu sangue congelar quando ouvia sons diferentes que levavam meu subconsciente para aquela torre, mas estava trabalhando nisso e descobri que as crianças eram uma ótima fonte de terapia, enxerguei aquelas crianças como se fossem minhas irmãs e irmãos menores.
A maneira como as ômegas obedeciam Mildred eram sem igual, até parecia que ela era a lua daquela tribo.
— Sabia que originalmente quem seria a Lua desta tribo era eu? — Mildred parou ao meu lado depois de secar as mãos em um pano e nesse momento meus olhos se arregalaram em sua face.
— O antigo alfa, o pai de Emir, era meu prometido. Nunca me imaginei sendo lua, talvez uma luna… — Ela começou a falar e nesse momento a confusão tomou meu semblante.
— Existem quatro grandes tribos, norte, sul, leste e oeste. Imagine assim, quatro países e dentro deles as cidades, é assim que as tribos são divididas. Cada grande tribo tem suas cidades, e essas cidades têm os alfas que comandam e suas esposas são chamadas de lunas, acima delas está apenas a esposa do alfa supremo que chamamos de Lua, tipo nossa rainha . O que ensinam para os filhotes de hoje em dia, ein? — Ela me explicou e quando viu que a clareza agora banhava meu olhar ela retomou sua história.
— Meus pais achavam que seria uma honra ser a escolhida para desposar o alfa supremo do norte, Finn Balan. Fui enviada para cá quando ainda era muito jovem, esperava encontrar um alfa rabugento, e um lugar mal cuidado, mas o que encontrei foi um lar. Finn, embora não acreditasse no casamento arranjado, ele não me destratou e nos tornamos amigos. — Ela interrompeu a história quando uma ômega entrou afobada correndo atrás de James que pegava um bolinho e sai correndo pela casa.
— Quando encontrei meu companheiro, Finn não se irritou, ele me apoiou e até mesmo ajudou a enfrentar a minha família que me mandava rejeitar o pai de Kyle e assim me casar com Finn. Quando eles viram que não iria fazer isso, eles viraram as costas para mim e se não fosse pelo Alfa Balan, eu seria uma loba sem casa e sem família. A tribo norte me acolheu e quando Finn encontrou Emir e sua mãe, fui a primeira pessoa a aceita-los e apoiar a união dele. — Mildred falava baixo enquanto seus olhos treinados passavam por cada detalhe que as ômegas faziam.
— Então Emir não é filho biológico do Alfa Balan? — perguntei de maneira baixa enquanto acompanhava a mais velha.
— Não. A mãe dele foi expulsa ainda grávida de sua tribo natal, e quando ele nasceu os dois estavam prestes a saltar de um penhasco. Finn adotou Emir como seu filho e fez dele seu herdeiro, com o tempo foi revelado que a mãe de Emir era a verdadeira companheira de Finn e sendo ninguém nunca questionou a origem de Emir. — A porta da cozinha se abriu com violência por onde a figura de Kyle e Emir entravam todos suados e cansados.
— Pela deusa, vocês estão fedendo! — Tampei meu nariz assim que ele entraram e Mildred apenas olhou para os dois.
— Esperava o quê? Corremos cem voltas ao redor da tribo, sem contar a ida e a volta para casa… — Emir foi que respondeu depois de cruzar os braços em seu peito.
— Vão tomar banho! — Apontei para a porta e Kyle deu dois passos em minha direção com os braços abertos.
— Não se atreva! Não, nem sonhe com isso! — Gritei ao me esconder atrás de Mildred que já tinha fechado a mão ao redor da tábua de cortar legumes.
— Kyle. — Apenas a voz de Emir soou pela cozinha enquanto todos ficaram em silêncio.
— Sua mãe já tem o péssimo hábito de jogar as coisas em nós, quer mesmo que ela ensine para Cassandra sua tática samurai de nunca errar o alvo? — Emir mal terminou de falar e os dois dispararam para o andar de cima. Mildred tinha um olhar orgulhoso no rosto depois de suavizar seu aperto na tábua. Nem mesmo minha mãe era tão protetora assim comigo.
— Onde estava? Ah sim lembrei, como pode ver as crianças órfãs são mal vistas por todo o lugar, Emir quis mudar isso, ele fechou o orfanato e trouxe as crianças para morar aqui depois que assumiu como Alfa. Antes disso ele já cuidava do lugar, mas o orfanato ficava fora do território, uma espécie de zona morta e sempre era atacado por selvagens e renegados. — Mildred retomou sua história, porém sentia que havia algo mais escondido por trás de sua voz.
— Sinto que não é tudo… tem mais para contar? — Minha pergunta voluntária a fez sorrir.
— Gosto da sua perspicácia. Mantenha isso, sempre. — Mildred virou as costas para buscar os pratos enquanto as demais ômegas começaram a distribuir a comida pela porta lateral. O som de vozes se tornou mais alto e quando caminhei até a janela da cozinha havia uma imensa mesa montada para acomodar toda a tribo ali.
— Como estou? — Emir perguntou assim que surgiu na porta da cozinha, ele usava uma camisa social cinza e uma calça social da mesma cor, seus cabelos loiros estavam penteados para trás seguros com gel.
— A julgar que já vimos seu lado maltrapilho, está apresentável. — Mildred respondeu segurando o sorriso.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Marcia Cristina Carneiro
29/12/24/éla é demais kkkk
2024-12-29
2
JÉSSICA CRIZANTON ALVES LIMA
eu quero aprender esse método em kakakakakakak amando a leitura parabéns autora
2024-11-03
2
JÉSSICA CRIZANTON ALVES LIMA
Achei fofo Kakakakak
2024-11-03
1