| Dormindo Ela Até Parece Um Anjo

Cecília: Vou descer e perco o equilíbrio, caio do parapeito nos braços do Lucas. Nem mesmo vi ele se aproximar. Ele me coloca no chão sem desviar o olhar do meu, é tão profundo a forma que ele me olha que sinto que ele lê a minha alma. Volto ao meu escritório e noto o Lucas pensativo, queria muito saber o que se passa na cabeça dele. Peço o almoço para Luana, ela trás a comida e o Lucas prefere comer na copa. Não insisto, como sozinha sentada, descalça no chão perto do sofá. A sensação de angústia volta, quando estou sozinha é pior, acabo nem terminando de comer e volto ao trabalho.

Lucas: Volto a sala da Cecília, ela quase não comeu. Noto ela inquieta e fico apenas observando.

Luana: Senhora Cecília, o seu check-up é hoje a tarde.

Cecília: Eu tirei da agenda, não precisa remarcar por enquanto Luana. Obrigada.

Luana: Tudo bem.

Lucas: Cecília é teimosa e até imaginei que ela não iria fazer esse check-up.

Cecília: Lucas, vou viajar, tenho que ir às nossas filiais em New York. Tem disponibilidade para me acompanhar? Eu sei que temos um contrato, mas imagino que tenha uma vida, então não precisa obrigatoriamente me acompanhar.

Lucas: Irei à viagem.

Cecília: Vamos sair amanhã pela manhã. Tenho um evento importante em New York, vou alugar os trajes por lá, poderia me acompanhar?

Lucas: Como o seu guarda-costas?

Cecília: Sim e não, serei honesta com você e conto com a sua descrição. Tenho crises de pânico desde o meu primeiro sequestro, estavam controladas até ontem, mas quando almocei hoje sozinha, senti todas as sensações que acompanham uma crise, consegui evitar essa mudando o foco, mas nem sempre consigo evitá-las. Ir sozinha a um evento dessa magnitude pode ser algo difícil, talvez se estiver comigo, consiga lidar melhor. Não tem obrigação nenhuma de ir e nada vai mudar se não for. Não o quero ultrapassar nenhum limite Lucas, só não quer ter que expor isso a outra pessoa. Pelo que pude notar é um homem observador e acredito que já me conheça muito bem, para tentar esconder algo de você.

Lucas: Não quero ir a esse evento como o seu acompanhante Cecília. Sou o seu guarda-costas e isso pode ser ruim para sua imagem e também pode prejudicar a carreira que pretendo seguir. Sobre ser discreto, não se preocupe que não irei falar nada a respeito.

Cecília: Como eu te disse, nada vai mudar. Obrigada pela descrição Lucas.

Lucas: Cecília não muda mesmo, nem mesmo a expressão. Ainda que muitos a chamem de diabo, ela é uma mulher justa e mesmo tentando fazer parecer o contrário se preocupa com todos a sua volta. Não iria a esse evento com ela, não posso me aproximar mais dela do que já me aproximei.

Camila: Boa tarde!

Cecília: Oi Mila.

Lucas, pode aguardar do lado de fora.

Camila: Noto as trocas de olhares entre a Cecília e o Lucas, fico até sem jeito com a forma profunda que eles se olham por alguns instantes.

Como está se sentindo?

Cecília: Muito bem.

Camila: Não acredito, mas sei que não vai me contar nada mesmo. Ontem não quis conversar e entendi, mas não pensa que precisa se abrir com alguém?

Cecília: Irei marcar um especialista se achar necessário, não se preocupe. Que cara é essa?

Camila: Fui uma tola e dei uma chance ao Theo.

Cecília: Porque pensa que foi uma tola se o ama?

Camila: Acredita que amá-lo é o suficiente depois de tudo? Fico pensando se não deveria deixá-lo livre, talvez não consiga perdoá-lo. Eu sei que ele era solteiro, mas essa mágoa está aqui e não sei se um dia, vou conseguir esquecer.

Cecília: Ele acabou de voltar, é recente, está machucada, mas o tempo é o melhor remédio para tudo. Se perdoá-lo vai esquecer e nada disso vai importar. Olha a minha mãe e a tia Cinthia. São provas que o amor é capaz de curar tudo.

Camila: Isso é verdade. Sabia que precisava de cinco minutos com você. Agora, seria ótimo se pegasse os seus conselhos para você mesma.

Cecília: Descidi que não quero mais me envolver com ninguém. Baixei a minha guarda e isso literalmente, quase me custou dedo. Posso ser a tia legal, a madrinha dos casamentos e a amiga solteira que está disponível quando precisarem.

Camila: E vai ficar sem sexo?

Cecília: Um grande CEO pode contrar prostitutas não é mesmo? Posso contratar um prostituto de luxo!

Camila cai na gargalhada e acabo rindo com ela.

Camila: Isso seria muito engraçado.

Cecília: Noto a Camila preocupada.

O que te preocupa?

Camila: Pedi oito meses ao Theo, sem me tocar e sem tocar outra mulher. Acredita que ele consegue?

Cecília: Por você? Acredito que ele faria qualquer coisa.

Camila: Acredita que ele me ama de verdade?

Cecília: Ele sempre te amou, pensou que poderia superar e não conseguiu. Voltou e acredito que te ver fez ele entender o quanto te amava.

Camila: Ele disse que me amava e o que falei para ele, foi que sentia nojo dele.

Cecília: Está magoada e com raiva, mas não justifica o uso da palavra nojo Mila, é muito forte e mágoa.

Camila: Não falei com ele desde então, ele me ligou e não atendi. Estou sem jeito e não paro de pensar nisso.

Cecília: Tem nojo dele?

Camila: Não!

Cecília: Então fale para ele. Ele vai entender que falou na hora da raiva, mas se não falar, essas palavras vão ficar ecoando na cabeça dele.

Camila: Ele está na empresa?

Cecília: Está sim.

Camila: Vou passar lá e falar com ele. Não quero nem olhar a cara da secretária dele, espero que não seja uma dessas secretarias bonitas e safada.

Cecília: Vai sofrer Mila, pense numa delícia... Multiplica e o resultado, já sabe!

Camila: Você é cruel Cecília.

Cecília: Depois quero saber o que achou.

Camila sai brava da sala e acabo rindo dela. Lucas entra e fica parado na porta. Volto a trabalhar focada e acabo concluindo tudo mais tarde do que imaginava.

Podemos ir Lucas.

Lucas: Cecília organiza a mesa, se despede da Luana e descemos pelo elevador privado. O silêncio é ensurdecedor, seguimos o caminho assim e a Cecília acaba pegando no sono no carro. Dormindo ela até parece um anjo.

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