| Sinto Que Estou Sendo Seguida

Camila: Termino de organizar tudo na empresa, dispenso a minha turma e vou até o meu escritório pegar as minhas coisas. Treino as meninas da faixa etária de dezoito anos e eu treino desde pequena. Depois do sequestro da Cecília, todas tivemos que treinar e faço isso a oito anos. Tomo um banho rápido e sou a última a sair, estou chegando na minha moto, quando sinto que estou sendo seguida, respiro fundo e caminho como se estivesse distraída, só esperando uma oportunidade perfeita. Assim que a pessoa que me segue, me alcança, acerto uma cotovelada nela, me viro e vejo a sombra de um homem, é tudo muito rapido, acerto a bolas dele com força e a garganta. Ele cai no chão e levo um susto vendo o Theodoro se contorcendo se dor.

Theodoro?

(Theodoro, 25 anos)

Theo: Queria... me... matar?

Camila para e me olha com um olhar frio, ela cruza os braços e levanta a sobrancelha.

Camila: Não sabia que era você. Mas, com isso, quem sabe, não aprenda a não se aproximar de uma mulher em silêncio, a noite e em estacionamento vazio.

Theo: Me levanto com dificuldade, gemendo de dor, tentando recuperar o fôlego.

Me deu uma surra Mila!

Camila: Foi melhor que imaginei.

Theo: Queria me bater?

Camila: O que você quer Theodoro? Não ia chegar amanhã?

Theo: Vim antes, porque sei que hoje é um dia difícil para você.

Camila: Um dia difícil foi quando o meu pai foi baleado Theodoro! Difícil foi vê-lo seis meses em coma e ouvir o médico falar para minha mãe que ele não tinha atividade cerebral e estava na hora de desligar os aparelhos. Ainda mais difícil, foi vê-la desmaiar e ter consolar a minha mãe aos prantos com apenas dez anos. E tudo isso, tentando falar com o meu melhor amigo e sendo bloqueada e ignorada, porque ele, mesmo sendo mais maduro do que eu, não soube separar as coisas. Então, se quer falar de dia difícil depois de oito anos, essa conversa veio tarde.

Pego o meu capacete coloco, subo na minha moto e saio em alta velocidade.

Theo: Fico parado no estacionado ainda sem reação por tudo que ouvi da Camila. Ela está perfeita, mais linda impossível e ainda montada naquela moto gigante, com aquela bunda empinada, me deixou sem ar.

Que merda que você fez Theodoro!

Camila: Entro em casa e vou direto até a minha mãe.

Mãe...

Claudia: Filha, entra. Como você está?

Camila: Bem, o Theodoro voltou!

Cláudia: E está tudo bem?

Camila: Não vou deixá-lo me quebrar outra vez mãe.

Cláudia: Ele sabe o que passou nos últimos oito anos?

Camila: Não, mas não quero que saiba. Ele saiu daqui para estudar e entendi isso, não me magoou, fiquei triste porque sabia que ele faria falta. Mas, depois me bloqueou e nunca mais falou comigo, se quer me respondeu mãe.

Claudia: Fala como se sentiu para ele filha.

Camila: Não mãe. Foi terrível tudo que aconteceu com o papai e lidar com tudo sem ter o meu melhor amigo para conversar foi pior ainda. Sem contar, que depois fui idiota, ficava acompanhando ele nas redes sociais, vendo eles nas festas, curtindo, bebendo, saindo em site de fofoca agarrando mulheres diferentes toda semana. Ele não é quem eu idealizei e não o vou deixar ele saber, que fiquei igual uma boba, por sete anos chorando por ele.

Claudia: Ainda gosta dele filha?

Camila: Só tem um ano, que descidi esqueçer ele de vez e ainda me lembro. Tinha acabado de completar dezessete anos, quando ele saiu naquela reportagem nadando pelado com uma modelo russa, ali decidi que não choraria mais por ele e arranquei ele do meu coração. Ele quebrou ele tantas vezes, que não aceito mais entre. Nem se quer tinha alto estima, vendo eles com aquelas modelos lindas me sentia feia, imatura e pensava que ele nunca olharia para mim. Mas, isso passou, cuidei mais da minha aparência, do meu corpo, me valorizei e não vou me diminuir para caber em lugar nenhum.

Claudia: Vou te apoiar no que decidir, o Theo me decepcionou muito. Mas, você sabe o que é melhor para você meu amor!

Ângelo: Oi minha princesa.

Camila: Pai! Estava aonde?

(Cláudia, 40 anos e Ângelo, 44 anos. Eles tem a história contada na obra "O Viúvo Impiedoso E A Babá". A foto é só para recordarem dos personagens).

Ângelo: Caminhando.

Camila: Não correu não é pai? Sabe que não pode!

Ângelo: Eu sei minha princesa. Só caminhei mesmo.

Camila: O meu pai me beija e abraço ele apertado. Hoje é um dia muito triste para todos nós. O meu pai perdeu amigos, quase morreu e teve que se aposentar. Ele ficou em coma seis meses e quando o médico disse que ele não tinha atividade cerebral, avisou que iriam desligar os aparelho e nos deixou nos despedir dele. Deitei no peito dele em prantos implorando para ele não nos deixar e senti ele mexer a mão, o médico disse que era impossível, e quando desligaram os aparelhos ele continuou respirando e acordou. Foi o maior milagre da minha vida e ele contou que ouvia tudo. Depois disso a reabilitação foi difícil, ele teve dificuldade de aceitar a realidade. Começou a vida a partir dali tendo que reaprender a falar, comer e andar. Olho a cicatriz da traqueostomia dele e vejo um filme passando pela minha cabeça. Ele teve depressão e ficou uma fase fechado, não podia voltar a trabalhar, teve sérias complicações porque o tiro atingiu o coração e agora não pode fazer esforço. Essa fase passou, ele aceitou a realidade e voltou tudo ao normal. Agora é o CEO da empresa e apesar de não poder treinar os homens, ele instruí eles e lidera a empresa que está em primeiro lugar no ramo de segurança.

Eu amo vocês. Agora preciso ver a Ana, ela não está bem.

Ângelo: Os reportes pegaram pesado.

Camila: Desculpa a palavra pai, mas são uns idiotas. Verdadeiros abutres, como disse a Cecília.

Ângelo: Concordo com você. Não volte tarde mocinha.

Camila: Não vou voltar pai. Até mais tarde.

Vou até à casa da Ana, a Júlia me deixa entrar e encontro a Ana encolhida na cama.

Ana: Oi...

Camila: Odeio te ver assim. Te amo tanto!

Ana: Estava falando com a Cecília, ela me ligou e depois parece que aquele dia voltou.

Camila: Eu sei que aquele dia deixou muitas dores em todos nós, mas passou.

Ana: Sinto falta do Maicon.

Camila: Eu também, ele estava em todo o lugar, era tão divertido e carinhoso.

Ana: Viveu e morreu por essa família.

Camila: Ana chora e abraço ela.

Ele não ia querer te ver assim.

Ana: Eu sei, tinha sempre um doce no bolso e me dava escondido quando estava chateada.

Camisa: Verdade, até hoje não sei da onde saia tantos doces.

Acabamos sorrindo.

Ana: A Cecília está sofrendo e não se abre, isso me mata.

Camila: Vi ela também, ela sofre, mas está bem. Ela é um exemplo de força!

Ana: Tenho medo, porque ela não lida com nada e um dia isso pode ter um preço para o psicológico dela.

Camila: Posso estar errada, mas acho difícil algo derrubar a Cecília, porque ela lida do jeito dela e é uma mulher implacável!

Ana: Ai Mila, obrigada por vim aqui. Estava mal pensando só besteira.

Camila senta comigo e conversamos um pouco. Ela volta para casa e vou dormir.

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