Progresso

Damian estava deitado no sofá, pensativo e curioso para entender como tinha acabado naquela situação. Ele não poderia negar que estava gostando de conviver com Syara, apesar de ter sido o primeiro dia. A forma como ela o tratava era única e diferente.

Ele olhou para a porta do quarto de Syara e ficou imaginando se ela estava dormindo e se estava com fome. Damian sentia a necessidade de agradá-la a todo custo, então repentinamente a porta se abriu, revelando uma mulher de pijama com um colchão nos braços. 

Damian ficou observando seus movimentos, até ela se aproximar do sofá em que ele estava, e que não era tão desconfortável como ele havia imaginado. Syara colocou o colchão próximo ao sofá, seguido de um lençol que supostamente ela estava usando.

— O que houve? — perguntou ele sentando-se no sofá, ele não esperava por isso. 

— Eu sei, eu deveria estar em meu quarto dormindo tranquilamente. Mas não consigo dormir imaginando que você está nesse sofá desconfortável e sozinho — respondeu ela com sinceridade. 

— Isso quer dizer que está preocupada comigo? — perguntou com um sorriso estonteante estampado em seu rosto. 

— Eu não disse isso, apenas não me sinto confortável. É isso. — Syara ficou um pouco ruborizada, mas logo tentou mudar de assunto. — Você está com fome? Aceita um chocolate quente? 

— Eu adoraria — respondeu. 

Damian ficou a observar a mesma preparando o chocolate quente, então um pensamento surgiu em sua cabeça, após lembrar-se das roupas que estava usando agora, e que não parecia ser feminino, por ser largo demais e não combinar nem um pouco com ela, além disso, eram antigas.

— Porque você tem roupas masculinas? — perguntou, devidamente curioso.

— É estranho usar roupas masculinas? — questionou com um sorriso travesso no rosto, para ela, era estranho conversar sobre coisas aleatórias com alguém, já que fazia algum tempo que estava morando sozinha.

— Não me diga que… são suas? — surpreso, ele perguntou, imaginando que poderia ser de alguém que ela conhecia, ou até mesmo de Daniel.

— É claro que sim, de quem mais seria? — Ela terminou de preparar o chocolate quente e se sentou no colchão, oferecendo para ele também. — Já sei, pensou que poderia ser de Daniel?

Damian não respondeu, apenas fingiu que não tinha ouvido isso. Mas ficou um pouco aliviado, ele não queria usar nada de ninguém, por mais que fosse estranho usar roupas de uma mulher, mesmo que fosse peças masculinas.

— Não se preocupe, amanhã iremos comprar algo para você — ela disse, então lembrou-se da pergunta que fez mais cedo, quando ele disse que não se lembrava de nada que fosse importante, apenas alguns flashes que ele não entendia, mas que chamou muito a atenção dela. — Do que você gosta? Roupas escuras, mais claras… coloridas?

Damian pensou por um momento, então sorriu por pensar que algo mais simples e escuro fosse combinar melhor com sua personalidade. Mas decidiu não contar isso para ela, deixaria que ela escolhesse o que quisesse.

— O doutor Daniel é o seu namorado? — perguntou Damian, ele estava interessado demais em saber o que ele era para Syara, já que ele tinha um cuidado imenso com ela, pelo que viu quando estavam no hospital.

— Porque você quer saber disso agora? Você não respondeu a minha pergunta. — Desconfiando do rumo daquela conversa, Syara fixou seu olhar para ele para saber o que ele queria, afinal, ninguém simplesmente mudava de assunto a toa, principalmente quando algo se tornava intrigante.

— Está bem, eu não me importo com as cores das roupas que comprar para mim. Afinal, eu não posso exigir demais de você. — respondeu, para ela ele parecia realmente um anjo agora, mas não saber o que ele pretendia antes de fugir do lugar de onde veio a deixava hesitante. — Satisfeita?

— Sim, acho que sim. E… Daniel e eu não temos nada. Somos amigos agora — Syara pareceu incomodada em mencionar o doutor dessa forma, fazendo com que Damian também desconfiasse que tinha algo mais em tudo isso. — Ok. Ele era o meu namorado, terminamos há dois anos.

— Isso explica muitas coisas… — Damian sorriu de canto, de certa forma estava mais feliz em saber que eles não tinham nada, pois agora poderia aproveitar sua estadia sem se preocupar se ela estava comprometida com alguém, pois, para ele, conviver com alguém assim era estranho e desrespeitoso. — Mas… ainda sente algo por ele?

— Antes de responder essa pergunta, vou fingir que estamos nos conhecendo e quem sabe podemos nos tornar amigos próximos futuramente — disse, e isso pareceu diverti-lo, pois ela tinha uma maneira única de conversar e compartilhar suas próprias coisas. — Então, não. Eu não sinto mais nada por Daniel. 

— Isso é bom — sussurrou enquanto se acomodava um pouco mais no sofá, já tinha terminado o seu chocolate quente e finalmente deitou-se para descansar. — Digo, eu me sentiria incomodado em trazer uma mulher para minha casa caso a envolvesse em um acidente, isso se eu tivesse uma namorada. Não é como se você fosse trair a confiança de alguém que gosta, mas não é estranho? Muitas pessoas são capazes de coisas inimagináveis, mas você… você é diferente, Syara. 

Por um momento, Syara pareceu tocada com suas palavras. No começo, isso pareceu confuso, mas ele estava apenas falando a verdade, de como se sentiria se isso acontecesse com ele. Mas em todo caso, ele parecia lembrar de algo que o incomodava, mas Syara tirou isso de seus pensamentos, afinal, sabia que suas memórias ainda não tinham voltado.

— Vamos dormir, precisamos acordar cedo amanhã — ela disse, e então se acomodou no seu colchão, sentindo-se bem melhor agora que ele não estava sozinho na sala. 

— Obrigado, por confiar em mim quando sou apenas um desconhecido se aproveitando de sua bondade — sussurrou, mas ele tinha esperança de que ela não tivesse escutado, pois disse tudo isso mais para si mesmo do que para ela. No entanto, ela ouviu claramente, não era como se tivesse um barulho ao redor para abafar suas palavras. Mas ela sorriu com isso, em saber que ele poderia ser realmente confiável.

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