Damian engoliu em seco quando Syara abriu os olhos repentinamente, percebendo que ele a observava com uma expressão duvidosa. O mesmo limpou a garganta e virou o rosto para o outro lado, na expectativa de evitar essa situação vergonhosa.
Por outro lado, Syara se ajeitou na poltrona em que estava sentada, e não conseguiu formular uma frase ou alguma palavra para dizer a ele. Aliás, sentiu-se tão intimidada com aquele olhar que até esqueceu o que veio fazer ali. Mas essa situação não poderia continuar assim, ela precisava conversar com ele.
— Bom… dia? Eu sou a Syara. E o senhor deve ser Damian… — Um pouco receosa, ela conseguiu pensar em algo útil a dizer, já que era a primeira vez que se encontram após o acidente.
— Sim, o que você quer? — perguntou, ríspido. Mas logo Damian arrependeu-se por falar dessa forma, e então olhou para ela na expectativa de que ela não tenha se incomodado com isso.
— Eu soube que o senhor preferiu não abrir uma queixa contra mim, então… eu vim agradecer. — Ela levantou-se e sorriu para ele, que por um momento esqueceu do que ela tinha dito. — De qualquer forma, estou em dívida com o senhor. O que eu posso fazer para compensar o prejuízo?
— Você quer mesmo me compensar? — Ele perguntou, e após vê-la balançar a cabeça confirmando, ele pensou por um curto momento. — Tudo bem, você pode me compensar cuidando de mim.
— O quê? — Syara arregalou os olhos, ela não soube o que responder de imediato, aquele era um pedido que sequer sabia que poderia cumprir.
— Quero que cuide de mim, eu não tenho família. Não sei para onde eu estava indo, ou o que iria fazer, resumindo, perdi a memória. Você é a única que pode se responsabilizar por mim, pelo menos por enquanto.
Damian esperou por uma resposta, aliás, por uma confirmação dela. O mesmo não permitiria que ela negasse isso, afinal, descobriu que a mesma tinha causado o acidente, então ela não tinha motivos para recusar isso, mesmo que quisesse.
— Então? Não vai me dizer nada? — Damian olhou para ela fixamente, de alguma forma, ele estava causando arrepios na mesma pelo tom autoritário. — Eu posso mudar de ideia em relação ao meu depoimento, se assim desejar.
— Não! Eu aceito! — Temendo o seu futuro, Syara concordou com o seu pedido sem pestanejar, ela não queria parar na cadeia ou pagar alguma indenização, pois isso custaria sua casa e bens que ela mal tinha, principalmente sua reputação caso viesse a precisar de um emprego futuramente.
...…...
Algum dias se passaram desde então, Damian ficou no hospital até se sentir melhor e fora de perigo. Syara ficou ao seu lado para ajudá-lo no que fosse preciso, afinal, tinha prometido que cuidaria dele até o mesmo se recuperar por completo.
Daniel não gostou muito da decisão que ambos tomaram, pois isso envolvia muitas coisas, principalmente a atenção dela. Damian era um desconhecido, então estava bastante preocupado com a segurança de sua melhor amiga. Mas ele não pôde impedi-los, ela era uma adulta e sabia o que estava fazendo. Por outro lado, também não queria que ela fosse para a prisão, pois sabia de suas condições financeiras caso optasse por pagar a indenização.
De qualquer forma, Daniel prometeu que sempre iria ajudá-la em tudo que precisasse, com a desculpa de que iria ver o estado do paciente sempre que possível. Obviamente, Damian não gostou muito disso, pois sentia-se vigiado por pensarem que ele faria algum mal a Syara.
Na verdade, Damian sentia-se perdido com o estado em que se encontrava, estava com medo por não saber que caminho seguir já que não se lembrava de nada, muito menos de sua própria família. A única coisa que ele sabia era o próprio nome, mas isso não era suficiente para ajudá-lo. Por sorte, conheceu Syara, e mesmo que estivesse praticamente forçando-a a cuidar dele, o mesmo sentia-se ansioso por isso.
Durante os dias que ela cuidou dele, Damian começou a simpatizar com sua simplicidade, admirando-a em segredo pelo esforço que ela fazia. E quando ela recebeu alta, quase não o deixou sozinho, voltava para casa apenas quando necessário. Mas dessa vez, foi a vez dele receber alta para retomar sua vida.
— O que está esperando? — Damian perguntou percebendo que Syara estava imóvel após ouvi-lo dizer que ambos iriam para casa naquele momento. — Vamos logo para casa.
Assim como Damian, ela se acostumou com sua presença, e agora ele não era mais um desconhecido que era obrigada a cuidar. Poderia dizer que agora eles eram conhecidos próximos, mas não era para tanto, afinal, não se sentia totalmente confortável. E ouvi-lo dizer que agora ela precisava levá-lo para sua casa era demais para entender.
— Eu não sabia que precisava levá-lo para minha casa, não me prepararei para isso. — Ela sorriu, mas ao mesmo tempo estava preocupada com tudo isso.
— Porque? Para onde acha que vou neste estado? Não conheço mais ninguém confiável além de você. — Por um momento, Damian cogitou que ela iria abandoná-lo à própria sorte e desistisse do acordo que fizeram. Afinal, ele entendia a situação mais do que alguém poderia imaginar. — Com o que está preocupada? Por acaso tem namorado? É casada? Sua família é contra isso?
— O quê? Não! — Syara balançou as mãos, negando todas as suposições. — Não é nada disso, estou apenas preocupada… — Ela suspirou, virando-se de costas para ele como se quisesse desviar do assunto.
— Com o quê? Céus! Eu estou usando cadeira de rodas, não sei ao menos quem eu sou ou de onde venho, o que acha que eu iria fazer? — Sentindo-se ofendido, Damian cruzou os braços como uma criança, estava totalmente chateado. — Não precisa continuar com isso, se não quiser. Não era minha intenção forçá-la a cuidar de mim em troca de sua liberdade. Eu não iria acusá-la de nada, de qualquer forma.
Syara ficou em silêncio, surpresa com o que acabou de ouvir. Neste caso, ela lembrou-se dos dias que passou cuidando dele. Para ela, o mesmo não parecia ser uma pessoa ruim. No entanto, ela apenas imaginou algo assim, pois Daniel a alertou disso. Não era como se a mesma fosse tão ingênua para não pensar sobre isso, mas conhecendo-o melhor, tinha certeza que não faria mal levá-lo para sua casa por um tempo.
— Está bem, então vamos para casa. — Com um sorriso meigo no rosto, ela aproximou-se e começou a empurrar a cadeira de rodas em direção a saída.
— Não quero. — Damian interviu, continuava chateado com ela por quase dizer que ele poderia fazer algum mal a ela caso o levasse para sua casa. Para ele, apesar de ambos não se conhecerem tão bem, isso era uma grande ofensa.
— É mesmo? Então devo deixá-lo aqui à própria sorte? Se me lembro bem, o senhor comentou que não iria me acusar de nada, então… — Syara o deixou para trás para ver sua reação, e em tão pouco tempo ele começou a segui-la pelo corredor. É claro que ele não iria ficar sozinho.
Quando adentraram no elevador, Syara ficou em silêncio. Ela não tinha mais nada a dizer, exceto que em seus pensamentos muitas coisas estavam preocupando-a. Pensar que agora iria conviver com um homem desconhecido a fazia quase delirar, ela não esperava por isso. Tudo que menos queria era parar na prisão, mas ela tinha que pensar pelo lado bom, agora não ficaria mais sozinha naquela casa onde a única pessoa que se importa com ela como filha lhe acolheu, e que tinha falecido recentemente.
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Atualizado até capítulo 34
Comments
Evania Pimentel
que legal
vc voltou
2023-06-07
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