Insinuação

Damian suspirou profundamente após ver Syara o abandonando à própria sorte. Ele estava com fome, mas estava ainda mais curioso para olhar cada canto daquela casa, que tinha um toque especial e ao mesmo tempo antigo.

Ela não tinha muitos móveis, mas pensava há quanto tempo ela morava naquele lugar, que definitivamente não combinava com sua personalidade. Em algum momento, enquanto tentava suprir sua curiosidade, Damian logo perguntou a si mesmo quem era a família dela e onde estavam.

Tudo indicava que ela vivia sozinha, sem ninguém para ajudá-la ou mostrar como a vida é mais completa quando se tem uma família unida. Sequer havia porta-retratos ou algo que pudesse mostrá-lo quem ela realmente era. Mas a quem iria enganar? Ele mesmo carregava um fardo doloroso, não lembrar do que viveu era torturante, sentia-se perdido e abandonado.

Já que não tinha mais nada para fazer além de tentar se intrometer na vida pessoal de Syara, o mesmo ouviu sua barriga roncar, e então pensou no quanto aquela mulher era malvada por fazer isso com ele, preso em uma cadeira de rodas por causa de uma perda engessada.

Tão logo foi averiguar o que tinha de interessante na geladeira para aplacar sua fome, e não encontrou nada menos que algumas vasilhas plásticas com comida pronta para esquentar. Uma delas tinha o seu nome escrito, o que significava que Syara preocupou-se o bastante para não deixá-lo com fome o dia todo.

Uma pontada de felicidade o atingiu por saber dos seus cuidados que não queria demonstrar. Enquanto esperava pacientemente os segundos passarem até sua comida estar quente e convidativa para devorar, ele ficou a observar a cozinha que era bem organizada e repleta de utensílios interessantes.

Em um momento de distração, Damian logo teve um flash de memória, fazendo-o sentir uma leve pontada em sua cabeça, seguido de uma tontura passageira. Foi tempo suficiente para que o microondas anunciasse que a comida estava quente e a campainha tocasse insistentemente.

— Sou eu! Juliet! — A voz acolhedora daquela senhora atrás da porta o deixou um pouco aliviado, mas ele não entendia o porquê de ter sentido uma sensação estranha a lhe consumir, e que não era agradável.

Quando ele abriu a porta, ela lhe mostrou um grande sorriso, seguido de uma grandiosa torta de frango recém assado que deixou o local inteiramente cheiroso. Ambos foram até a cozinha e a senhora Jú lhe fez companhia enquanto saboreavam aquela refeição.

Ao mesmo tempo, os ânimos estavam acirrados com a família Lynn. Niamh, amigo e secretário de Damian descobriu há alguns dias sobre o trágico acidente do melhor amigo, mas não contou nada para a família até então. Ele sabia que se contasse sobre isso, logo a família da noiva abandonada iria descobrir em que hospital ele estaria e quem sabe o que fariam.

De qualquer forma, nem ele mesmo sabia o que estava acontecendo, não teve mais nenhum rastro de Damian até então, mas soube que ele teve alta do hospital em que esteve internado por vários dias. Niamh queria ir mais afundo nisso pessoalmente, mas temia que seus passos também estivessem sendo rastreados.

Por outro lado, ele não sabia se deveria contar para a família o que estava acontecendo, era um risco que ele não sabia se deveria contar. Mas o mesmo tinha certeza que o patriarca estava cada vez mais irritado e decepcionado com o filho por abandonar tudo sem avisar a ninguém, temia que o desconsiderasse como parte da família.

— Tenho certeza que meu irmão não faria isso sem um bom motivo — Amely se intrometeu na conversa entre os seus pais, que estavam cada dia mais discutindo por causa de Damian, isso chamou a atenção de Niamh, que estava observando a situação a todo instante.

— É mesmo? E o que você sugere? — Koen, que estava a todo momento em silêncio, também decidiu se intrometer, mas fez isso apenas por se sentir ameaçado, era o que pensava.

— Não estou querendo sugerir nada, mas conheço o meu irmão melhor do que muitas pessoas próximas — respondeu ela como se estivesse sendo desafiada, ela conhecia Koen muito bem, sabia o que ele estava pensando. — Ele é um homem de caráter, eu sei que ele amava a Anika. Se ele fugiu, tem um motivo plausível. E talvez ele não queira que saibamos o real motivo justamente porque teme as intenções da família Zraa.

— O que está dizendo, Amely? — O patriarca levantou-se abruptamente da cadeira onde seu filho costumava se sentar quando estava a frente da empresa. — Está insinuando que a família Zraa é uma ameaça para nós?

— De onde você tirou isso, minha querida? — Em choque, a senhora Lynn aproximou-se de sua filha mais nova, tocando em seus ombros e a olhando nos olhos para saber se aquilo veio com sinceridade, pois confiava em sua filha mais do que tudo no mundo.

— Posso não ter provas em minhas mãos, mas sei que o meu irmão investigou a família Zraa há algum tempo. Ele me contou o quanto ficou desconfiado de Anika naquela época e temia que ela o estivesse enganando, mas não quis me contar em detalhes. De alguma forma, ele esqueceu da investigação até o momento do casamento. Não acham isso suspeito? Porque ele fugiria se não soubesse de algo revelador?

Niamh olhou sorrateiramente para Amely e ficou bastante surpreso com seu comentário, então lembrou-se do quanto Damian era próximo dela, é claro que ele iria comentar algo a respeito de suas desconfianças para com Anika. Mas como ela sabia sobre a investigação? Era só questão de tempo até ela descobrir tudo.

— São conclusões precipitadas, Amely. — O patriarca suspirou, sentando-se novamente. Ele conhecia a família Zraa há muito tempo e era demais desconfiar deles neste momento. — Não podemos confirmar algo sem provas, esperemos seu irmão retornar e veremos o que podemos fazer.

Com o assunto encerrado, todos se retiraram, exceto pela senhora Lynn que permaneceu no escritório para ajudar seu marido com os documentos que necessitavam de ajuda. Tinham muito trabalho a fazer agora que o filho continuava desaparecido.

— Achei que fosse contar ao papai sobre mim — Koen comentou enquanto estava no elevador com sua irmã, Amely.

— Eu deveria ter feito isso, talvez assim ele acreditaria em mim. — Amely bufou, já não bastante proteger Koen, agora tinha que provar que estava falando a verdade sobre Damian.

— Não faça isso, não seja tão má! Você sabe que foi apenas um caso, eu não me envolvi mais com ela desde aquele dia. — Koen parecia nervoso, então suplicava para sua irmã mais nova esquecer o assunto.

— Será mesmo? Agora me sinto pior por esconder isso do meu irmão, ele não merecia isso, principalmente de você. — Amely o repreendeu, mas também estava repreendendo a si mesma mentalmente todos os dias por lembrar disso.

— Foi um erro, eu sei. É culpa minha, eu sei que sou um canalha, mas estou pedindo misericórdia. — Novamente, Koen implorou para que ela não contasse nada disso a ninguém, sabia que isso resultaria em um escândalo.

— Peça misericórdia aos nossos pais e ao nosso irmão. Mas reze para que eles não saibam, isto é, se Damian já não souber — disse Amely, devidamente enfurecida com tudo isso. — O que será que vai acontecer quando ele voltar? O que ele está planejando? Tomara que volte o quanto antes.

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