| É Inevitável Não Chorar

Daiane: Acordo cedo, coloco uns travesseiros para Bruna não cair da cama em volta dela, pego um café e sigo até a área externa. Ligo para o Milton.

(Dr. Milton, Neurocirurgião. 32 anos)

📱Milton: Oi!

📱Daiane: Não apareceu na fazenda para o almoço em família.

📱Milton: Pelo amor de Deus Daiane, não enche, logo você filha de médico vai me cobrar almoço em família? Estava em cirurgia!

📱Daiane: Encher o saco Milton? Sou a sua noiva.

📱Milton: Daiane estou sem tempo, nos falamos depois.

📱Daiane: Estou remando um barco furado?

📱Milton: Se vai começar a avaliar o nosso relacionamento é melhor desligar. Não sou seu paciente Daiane. Relacionamentos não são perfeitos e não sou o seu pai!

📱Daiane: Foi um dia parecido com ele Milton. Eu entendo que tem trabalhado muito e está crescendo agora. Mas, temos um ano de noivado e mal nos vemos. Chega em casa tarde, sai cedo e nas viagens em família me deixa sozinha. Nem se quer avisou que não viria!

📱Milton: Tenho que ir, mas voltaremos a conversar. Está certa Daiane, estou estressado com tanto trabalho e cobrança nunca foi meu forte. Não se esqueça que te amo.

Daiane: Milton desliga e fico pensando se esse noivado não foi precipitado. Milton era tão presente no começo do nosso relacionamento, bastou o meu pai da um cargo no hospital e ele simplesmente mudou.

Marlene: Está tudo bem filha?

Daiane: O Milton não vem.

Marlene: Gosta dele filha?

Daiane: Não mais, eu acho. Não sei, estou frustrada, por nunca ser uma prioridade. Estou sendo mimada não é mesmo mãe? Seja sincera, ele tem um trabalho stressante e só fico cobrando atenção.

Marlene: O seu pai é o melhor cirurgião geral do país, ele ganhou inúmeros prêmios e é dono do maior hospital de Seattle. Me viu alguma vez me cobrar atenção dele? Não viu filha, porque antes disso tudo para o seu pai vem a família. Se está cobrando atenção do Milton é porque ele está falhando e não estou dizendo isso porque sou a sua mãe, estou dizendo porque sei a mulher incrível que você é. Não acho que é uma mulher mimada, sabe o que quer e estou certa que já entendeu o que está acontecendo com o seu relacionamento com o Milton.

Daiane: É, está certa mãe. Vou tentar ter essa conversa com ele o quanto antes.

Marlene: Faça isso antes do seu pai, ele pode ser um homem amoroso e carinhoso com a família, mas sabe que não dá segundas chances aos que ferem quem ele ama!

Beijo o topo da cabeça da Daiane e entro, não irei falar sobre isso ainda com o Bruce, Milton não é um homem ruim ou abusivo, só é um homem ambicioso que dá mais valor ao que tem do quem está ao lado dele.

Daiane: Mando uma mensagem ao Milton pedindo para ele vim aqui amanhã, apenas para termos uma conversa e ele reponde com um joinha. Entro e encontro a Bruna sentada na cama de cabeça baixa.

Está tudo bem?

Bruna: Fiz xixi, a mamãe não tá aqui.

Daiane: Mas, eu estou. Não tem problema. Vou trocar o forro de cama rapidinho. Já tinha feito xixi na cama antes?

Bruna: Não. Tava apertada, chamei e a mamãe não veio.

Daiane: Eu não te ouvi chamar, desculpa. Mas, a mamãe está se recuperando e logo ela vai cuidar de você. Está com fome?

Bruna: Uma fome bem grande titia.

Daiane: A cama é alta, Bruna fez xixi porque não conseguiu ir no banheiro sozinha. Provavelmente chamou e ninguém ouviu. Levo ela para o banho, peço que troquem o forro de cama e a minha mãe chama ela para fazer panquecas. Vejo ela animada pela primeira vez e me pego sorrindo feito boba com a felicidade dela.

Maurício: Entro na cozinha e vejo a Bruna brincando com a farinha sorrindo. Ficamos todos encantados com a alegria dela com algo tão simples. Ela ganhou o coração de toda a família, sem esforço, apenas com a doçura e inocência dela. Noto ela mais a vontade com a minha mãe e a Daiane, comigo e com o meu pai ela fica desconfiada, imagino que devido ao maldito Edgar. Nem vou intitular aquele monte de merda como pai, não merece esse título. Volto até a Melissa para trocar a sonda dela, seguro a mãos dela e sinto ela mexer. Mas, ela não abre os olhos.

Melissa: Sinto uma mão segurar a minha, tento e não consigo abrir os olhos.

Maurício: Se estiver me ouvindo tenta apertar a minha mão outra vez Melissa.

Melissa: Consigo com esforço mexer a mão, tem algo me incomodando muito na garganta e tento tossir.

Maurício: Sinto a Melissa mexer a mão e noto ela rejeitando o tubo. Tiro o tubo dela e a saturação não cai, ela está respirando por conta própria o que é ótimo. Limpo o rosto dela e seguro a sua mão outra vez.

A Bruna está bem e estão seguras. Te encontrei na estrada.

Melissa: Escuto tudo e continuo tentando abrir os olhos. Finalmente consigo abrir os olhos e é inevitável não chorar, é mesmo o homem que me encontrou.

Maurício: Está tudo bem, estão seguras. Está na fazenda dos meus pais, não chamamos a polícia e somos todos médicos. Precisou fazer uma cirurgia e ainda não pode se mexer.

Melissa parece estar tentando assimilar tudo.

Melissa: Bru...

Maurício: Tirei uma foto dela agora fazendo panquecas com a minha mãe. Vou te mostrar para ficar mais tranquila, ela ainda não veio aqui porque está muito machucada Melissa.

Mostro a foto da Bruna e a Melissa chora, seco as lágrimas dela com cuidado.

Melissa: Obrig...

Maurício: Não se esforce e nem agradeça, fizemos o que qualquer um deveria fazer. Me escute, sei que não me conhece, mas quero que saiba que cuidaremos de vocês duas. Terão proteção aqui e não precisa ter medo!

Melissa: Tento não chorar, mas é inevitável. Foi mais de 5 anos sofrendo nas mãos do Edgar e ouvir que não preciso ter medo, me da esperança que as coisas vão mudar. Vivi apavorada, sofrendo com a ira de um homem totalmente descontrolado que me tinha como uma propriedade particular e agora talvez finalmente tenha a minha liberdade de volta.

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