" O Mundo está repleto de lobos... Pronto para devorar a presa a qualquer instante."
Vermelha.
O Sr. Darth se voltou para o quadro.
— O texto trata de teorias filosóficas sobre como o mundo deveria funcionar. O que se pode dizer sobre o princípio de tudo? O que acham?
— Paradisum. Paraíso. Éden.
Rony me lançou um sorriso malicioso.
— Muito bem, Liosgate. O paraíso como a essência da natureza... Talvez sim, talvez não? Os filósofos do Renascimento acreditavam que o Novo Mundo poderia
ser o novo Éden.
O Sr. Darth assinalou a resposta no
quadro.
— O que mais?
— Um suposto céu.
Respondi.
— Isso! Todos nascem com possibilidades infinitas dentro de si. A teoria de Locke ganhou muitos seguidores. Devemos refletir se ela é viável na sociedade contemporânea. Outras ideias?
— Bellum omnium contra omnes.
Todos os não humanos se viraram nas suas cadeiras em direção ao orador da frase. O restante da turma ficou apenas impressionado com o latim, sem compreender seu significado.
— A guerra de todos contra todos.
Deni franziu a testa ao perceber que o Sr. Darth não escreveu a frase no quadro.
— Thomas Hobbes é considerado um teórico
fundamental do estado natural.
Prosseguiu Deni, um pouco mais hesitante. O Sr. Darth se virou, com o rosto pálido ao encarar o novo aluno.
Deni se calou diante da expressão do Sr. Darth.
— Gosto de ler sobre esses assuntos.
— Hobbes não estava nos nossos textos.
Disse alguém friamente. Suspirei, nervosa. Quem falava era Lírio Liosgate, uma
defensora de cabelos louros, propositalmente arrepiados:
a filha única de Ranulf. Ela olhava para Deni com desprezo. Encarei a jovem Defensora. Lírio nunca participava das discussões.
Quase sempre dormia na sala de aula.
— Isso não faz sentido.
Deni manuseava uma caneta entre os dedos.
— Ele está em todos os textos sobre filosofia.
O Sr. Darth olhou para Lírio, que inclinou a cabeça e ergueu as sobrancelhas.
— Ah… Sim… O currículo da Wolf School não
inclui Thomas Hobbes.
O Sr. Darth arregalou os olhos ainda fixos na jovem Defensora.
Deni parecia pronto para subir na mesa e protestar, mas só conseguiu dizer:
— O quê?!
Lírio se virou para Deni.
— Chegou-se à conclusão de que as ideias dele são banais para serem levadas em consideração.
— Quem chegou a essa conclusão?
Os Defensores e os Guardiões voltaram as atenções para Deni. Os humanos pareciam querer se esconder sob as mesas até que o embate terminasse.
Lírio tirou os óculos escuros que usava
independentemente do clima ou do horário.
Assisti impressionada. Aquela deveria ser uma discussão importante.
— Os Regentes.
Respondeu ela como se corrigisse a uma criança.
— Sendo que um deles é seu tio, Deni. E
meu pai e vários outros homens honrados que protegem a reputação dessa instituição.
Meu queixo caiu. Tio?
— E para isso censuraram Hobbes?
Retrucou Deni.
— Nunca ouvi algo tão ridículo.
— Vamos seguir em frente, que tal?
Uma gota de suor escorreu pela testa do Sr. Darth.
— Por quê? Por que não estudam Hobbes?
Ele é certamente o fundador do assunto em questão.
Deni não se conteve.
Meus dedos estavam trincados nas bordas da mesa. Ele acabava de entrar diante de um pelotão de fuzilamento com um alvo pendurado no pescoço.
Não acredito que precisarei salvá-lo outra vez.
— Porque sabemos mais.
Deixei escapar as palavras.
— Podemos evoluir, superar o mundo desastroso de Hobbes e não mergulhar na violência. A guerra é a mestra da selvageria, certo?
O Sr. Darth me lançou um sorriso agradecido e enxugou as sobrancelhas com um lenço.
— Obrigado, senhorita Yakimas. Bela citação de Tucídides. Os teóricos que utilizamos nesse curso têm uma visão de mundo mais otimista que a de Hobbes.
Rony batia dois lápis na mesa como se tocasse bateria.
— Selvageria não me parece nada mal.
Os Guardiões caíram na gargalhada, inclusive eu. Os humanos se encolheram nas cadeiras,
aterrorizados, exceto Deni, que parecia completamente confuso.
Os Defensores sorriam com escárnio e olhares de desprezo para os lobos.
Deni reagiu com frustração e insistiu:
— Hobbes não fala em selvageria, mas sobre a luta incessante pelo poder. A luta que faz o mundo girar. Esse é o verdadeiro estado natural. Não se pode ignorar isso porque alguns manda chuvas consideram a ideia vulgar.
Rony se virou para Deni e observou o novo aluno quase que com admiração, embora cauteloso. Dilan desviou o olhar do seu alfa para mim e, em seguida, para Deni.
Sabine encarou Deni como se a pele do garoto houvesse sido virada do avesso. Com um suspiro, Lírio examinou suas unhas.
Deni lançou um olhar suplicante ao Sr. Darth.
— Podemos, por favor, falar sobre a guerra de todos contra todos? Acho que é o conceito mais importante em filosofia.
As gotículas de suor na testa do Sr. Darth escorriam.
— Bem, creio que...
Ele ergueu o braço para escrever no quadro. Um espasmo nos seus dedos fez o marcador cair no chão.
— Precisa trabalhar melhor seus reflexos, Sr. Darth.
Zombou Rony. Risadinhas nervosas ecoaram pela sala. Nosso professor não respondeu.
Os tremores dos seus dedos se estenderam para o braço. Todo o seu corpo entrou em convulsão. Ele se curvou para trás, se agitou e tombou no chão, se debatendo violentamente.
Espuma saía dos cantos da sua boca e escorria pelo queixo.
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Atualizado até capítulo 104
Comments
Mary Lima
Eita o homem mexeu no vespeiro.
2024-07-26
0
Fatima Leal Oliveira
mataram o veio kkkk
2024-04-20
2
Lucia Moura
CARAMBA QUASE MATARAM O PROFESSOR DE TANTO NERVOSO
2023-08-07
0