Destino

"Aprendi a lutar sozinha. Nem sempre você terá pessoas te apoiando. Há lutas que só você pode enfrentar."

Vermelha.

Corri para a sala assim que o sinal tocou. Lina, que se sentava atrás de mim, não

perdeu tempo:

— Conta tudo, Vermelha.

— Foi uma experiência interessante.

Falei, deslizando na cadeira.

O Sr. Raul pigarreou:

— Vamos lá meninos. Peço um pouco do seu precioso tempo.

Perdi o ar quando, subitamente, Lina cravou as unhas no meu braço.

— Lina, o que foi?

Lina tinha os olhos fixos na entrada da sala. As conversas cessaram.

— Agradeço muito.

Disse o Sr. Raul num tom grave que invadiu a sala.

— Hoje ganhamos um novo aluno na Wolf School.

Virei-me e fiz uma careta, certa de que perdera um pedaço de pele depois do beliscão de Lina. Em seguida, congelei ao sentir o perfume de uma brisa de primavera

repleta da luz do sol.

Não, não poderia ser. Mas era. Ao lado da mesa do Sr. Raul, encabulado, estava o

garoto que eu salvara um dia antes.

— Esse é Denilson Andros.

Continuou o professor, com um sorriso para o garoto, que se sentia claramente

desconfortável.

— É Deni. Podem me chamar de Deni.

Disse ele em voz baixa.

— Seja bem-vindo Deni.

O Sr. Raul passou os olhos pela sala.

Meu coração gelou quando ele mirou a mesa vazia à direita da minha.

— Há um lugar ao lado da senhorita Vermelha Yakima.

Lina chutava o pé da minha cadeira insistentemente.

— Quer parar?

Reclamei, virando-me para ela.

— O que quer que eu faça?

— Qualquer coisa.

Apesar de baixa, a voz de Lina era de alarme.

Experimentei o horror e o prazer de revê-lo.

Mesmo sem poder controlar o turbilhão de emoções, tinha noção do desastre que aconteceria quando ele me reconhecesse.

Pus os cabelos para a frente na tentativa

de esconder o rosto.

Por que nunca estou com meu casaco vermelho de capuz quando preciso dele?

Deni caminhou lentamente até a mesa que o

professor lhe indicara, e me deparei com seus olhos claros pálidos segundos antes de desviar o olhar.

Não restava dúvida: ele sabia quem eu era. Tive medo, óbvio, mas o medo também trazia um certo prazer.

Nos poucos segundos em que nossos olhos se encontraram, vi seu espanto. Ele achara que eu fazia parte de um sonho e, de

repente, eu era real.

A mochila escorregou das suas

mãos. Canetas rolaram pelo chão entre nossas carteiras.

Engoli um gemido e levei a mão ao rosto, como se quisesse me proteger. Parecia que meu estômago pegava fogo. Lina voltou a chutar minha carteira, dessa vez com tanta força que a moveu alguns centímetros.

Entrei em pânico e corri para a saída. O Sr. Raul deu vários passos para trás ao me ver avançando a toda em sua direção.

— Náuseas, preciso ir ao banheiro.

Sussurrei.

O Sr. Raul me entregou um passe de saída.

Corri pelo corredor para o banheiro feminino. Por sorte, estava vazio. Agachei até o chão, trêmula. A porta do banheiro se abriu.

— Vermelha.

Lina sussurrou e ajoelhou ao meu lado.

Provoquei o destino e ele está me caçando. Deveria ter deixado o urso matá-lo.

Mas a ideia de vê-lo machucado me tirava o fôlego.

— Ele não poderia estar aqui.

— Eu sei.

Lina me abraçou.

— Ele deve ser alguém importante. Quero dizer, no mundo dos humanos. Se não, por que teriam transferido ele para cá no último ano? Isso nunca acontece.

— Meu Deus, Lina.

Levantei o rosto até então coberto pelas mãos.

— Será que os Defensores já sabem?

Lina negou.

— Não, eles não sabem. Quando há algo errado, nosso mestre assume o controle imediatamente. Você está a salvo.

— Tem razão.

Levantei e andei até a pia.

— Eles não sabem.

Olhei para ela pelo espelho.

— Quem é ele?

— Deve ser filho de um banqueiro rico ou de um senador importante, como os humanos que estudam aqui.

Disse Lina.

— Para nós, não é ninguém.

Sou uma idiota. Minhas pernas ainda vacilavam. Não acredito que o salvei.

— Use isso. Você está pálida.

Lina tirou um blush da bolsa.

— Ninguém sabe o que aconteceu, além de nós três. E provavelmente ele nem acredita no que viu. Quero dizer, quem acreditaria? Finja que nada aconteceu.

— Está bem.

Engoli o pânico ao descobrir que, na

verdade, desejava reencontrá-lo. Lembrei da sua boca tocando meu braço e estremeci.

O estresse da união está finalmente me atingindo. Estou perdendo o controle.

Decidi faltar ao restante da primeira aula, mas sabia que me esconder de Dani Andros não era uma opção realista.

Considerando que havia apenas trinta alunos do último ano, obrigatoriamente eu o reencontraria mais tarde

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