"O medo faz o lobo maior do que ele realmente é."
Vermelha.
Andei em direção ao garoto. Minhas orelhas se moviam para a frente e para trás. Ele se esforçava para respirar, o rosto tomado pela dor e pelo pavor.
Cortes profundos marcavam a coxa e o peito, onde o urso havia enfiado suas garras. O sangue ainda escorria e eu sabia que ele não estancaria.
Rosnei, frustrada pela fragilidade do corpo humano.
O garoto parecia ter a minha idade: dezesseis, talvez dezessete anos. O cabelo castanho com leves reflexos dourados caía desordenadamente sobre o rosto.
O suor cobria alguns fios sobre a testa e as bochechas. Era alto e forte, parecia ter facilidade para andar pela montanha, e,
claramente, era o que havia feito.
Aquela área era acessível apenas por uma trilha íngreme e difícil.
Ele exalava medo, aguçando meus instintos de predadora. No entanto, era possível sentir outros odores.
Da primavera, de folhas novas, de terra molhada pelo sereno que cessou a pouco. Cheiro de esperança, de possibilidades.
Sutil e tentador. Dei outro passo adiante. Sabia o que eu queria, e bastaria um segundo para fazê-lo: a maior violação das Leis dos Defensores.
Ele tentou recuar, mas gemeu de dor e desabou sobre os joelhos.
Meus olhos se concentraram naquele rosto. O queixo definido e as maçãs salientes estavam transfigurados pelo sofrimento.
Mesmo com as caretas de dor, ele era
lindo, com músculos tensionados que revelavam o físico forte, a luta do corpo contra o colapso iminente, conferindo uma aura sublime ao seu suplício.
Fui consumida pelo desejo de ajudá-lo.
Não posso vê-lo morrer.
Transformei-me antes de perceber que tomara minha decisão.
O rapaz arregalou os olhos quando o lobo branco que o observava se transformou de fera para uma garota de olhos dourados e cabelos vermelhos.
Parei ao lado dele e me ajoelhei. Seu corpo estremeceu. Tentei tocá-lo, mas vacilei, surpresa ao ver que meu corpo também tremia. Eu nunca sentira tanto medo.
Um som áspero me despertou do devaneio.
— Quem é você?
O garoto me encarava. Seus olhos
eram azuis-escuros, como a cor escura do céu, um tom delicado entre o cinza e o azulado.
Fiquei atônita por um momento, perdida nas
perguntas que suplantavam a dor e vagavam naquele olhar.
Levei meu antebraço à boca e revelei voluntariamente meus caninos. Cravei-os na minha pele e esperei pelo sabor do sangue. Em seguida, estendi o braço.
— Beba. É a única coisa que pode te salvar
Minha voz era baixa, mas firme.
Ele tremia ainda mais agora. Fez que não com a cabeça.
— Precisa beber.
Disse num rosnado, revelando os
caninos ainda afiados como lâminas depois de abrirem a ferida no meu braço.
Desejei que minha performance como lobo o tivesse aterrorizado o bastante para deixá-lo
submisso. Mas sua expressão não era de horror.
Ele estava fascinado. Fraquejei, tentando não me mexer. Meu sangue escorria do braço, caindo em gotas vermelhas sobre o solo coberto de folhas secas.
Seus olhos se fecharam e ele se contorceu, tomado por uma nova onda de dor. Pressionei meu braço ensanguentado contra seus lábios entreabertos.
A eletricidade do toque queimou minha pele e invadiu meu sangue. Engoli um gemido de fascínio e de medo, causado pela sensação estranha que me penetrava.
Ele recuou, mas o imobilizei, envolvendo-o pelas costas, até ter certeza de que o sangue caíra na sua boca.
Segurá-lo, aproximá-lo de mim, deixou meu sangue ainda mais quente.
Senti que ele queria resistir, mas não lhe restavam forças. Um sorriso surgiu no canto da minha boca.
Mesmo que meu corpo agisse de forma imprevisível, eu sabia que poderia controlar o dele.
Estremeci quando suas mãos agarraram meu braço, pressionando minha pele. A respiração do aventureiro ficava mais tranquila. Lenta, regular.
Uma dor profunda fez meus dedos tremerem, quis percorrê-los sobre a pele dele. Deslizá-los por suas feridas, que em breve sarariam, para conhecer os contornos dos seus músculos.
Mordi o lábio, lutando contra a tentação. O que é isso, Vermelha? Você é mais esperta que isso. Essa não é você.
Afastei meu braço. Um gemido decepcionado escapou da garganta dele. Não consegui ignorar o sentimento de perda que nasceu em mim quando já não o tocava.
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Atualizado até capítulo 104
Comments
Mary Lima
É vermelho Deni é e será seu amor./Heart//Heart//Heart/
2024-07-26
0
Lucia Moura
nossa ele é o amor dela e pq ela não pode o transformar e ficar com ele?
2023-08-06
2
Maria Izabel
e surge um ❤️ que seja infinito enquanto dure 😍
2023-08-05
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