"Os lobos podem perder os dentes, porém sua natureza jamais."
Vermelha
Eu monitorava os limites do bosque, e meu ponto de vantagem na beira do abismo perdera a utilidade.
O vento forte soprava montes espessos de folhas secas que varriam minhas pegadas.
Um cheiro forte invadiu minhas narinas e o bicho saiu por de trás dos arbustos carregando um garoto na boca.
O rugido do urso tomou meus ouvidos. O bafo quente da fera impregnou em minha mente, despertando meu desejo por sangue.
Eu podia ouvir o arquejo exausto do garoto. O som do desespero fez minhas unhas se cravarem na terra.
Voltei a rosnar para o predador, duas vezes maior que eu, desafiando-o a cruzar meu caminho.
— Que m*rda estou fazendo?
Arrisquei um olhar para o garoto e meu pulso se acelerou. Ele tinha a mão pressionada sobre um corte profundo na coxa.
O sangue escorria entre seus dedos, molhando o jeans até o deixar ensopado.
A camisa rasgada mal cobria as feridas ensanguentadas. Deixei escapar um
grunhido.
Agachei-me junto ao chão, músculos tensionados, pronta para atacar. O urso-pardo se ergueu sobre as duas patas traseiras. Não me intimidei, mantive-me firme.
— Vermelha!
O urro de Lina ecoou.
Uma ágil loba marrom surgiu do bosque, atacando o urso furiosamente. O urso se virou, aterrissando sobre as quatro patas.
Uma golfada de saliva saltou da sua boca enquanto procurava o atacante invisível. Lina, ligeira, esquivou-se dos golpes,
escapando dos braços enormes e peludos da fera, sempre um segundo à frente.
Aproveitou sua vantagem sobre o animal e lhe mordeu violentamente mais uma
vez.
O urso estava de costas para mim e saltei sobre ele, arrancando-lhe um pedaço do calcanhar.
O animal se virou e me encarou, com os olhos alterados pela dor.
Lina e eu nos movimentávamos furtivamente, cercando a enorme fera. Seu sangue aqueceu minha boca.
Meu corpo era pura tensão. Continuamos numa dança circular interminável, os olhos do urso nos acompanhando.
Farejei sua insegurança, o medo
crescendo nele. Soltei um latido curto e ameaçador, mostrando os caninos.
O urso bufou, recuando, e, com um movimento desajeitado, correu de volta para o bosque.
Ergui o focinho e uivei, triunfante. Até que um gemido me trouxe de volta à realidade.
O garoto nos encarava com olhos arregalados. A curiosidade me atraía a ele. Eu
traíra meus mestres, infringira todas as leis.
Tudo por ele. Por quê?
Baixei a cabeça e farejei o ar. Seu sangue escorria até o chão e o odor penetrante de ferrugem produziu uma névoa intoxicante na minha consciência.
Lutei contra a tentação de prová-lo.
— Vermelha?
O alerta de Lina desviou minha atenção.
— Saia daqui.
Mostrei os dentes para ela, que se abaixou e se aproximou de mim.
Depois ergueu o focinho e lambeu a parte inferior da minha mandíbula.
— O que você vai fazer agora?
Perguntaram seus olhos extremamente claros.
Ela parecia aterrorizado. Por um instante, achei que ela suspeitou que eu mataria o garoto por diversão.
Culpa e vergonha pulsaram nas minhas veias.
— Lina, você não pode ficar aqui. Vá embora.
Agora.
Ela gemeu, queixando-se, mas se afastou lentamente, escondendo-se sob a copa dos pinheiros.
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Atualizado até capítulo 104
Comments
Mary Lima
Vamos Vermelha faça o certo/Smug/
2024-07-26
0
Maria Eduarda
verdade
2023-04-25
9
Maria Eduarda
uau consigo imaginar a cena
2023-04-25
6