No refeitório.

"Um lobo pode se vestir como homem e até andar no meio deles, mas ele nunca deixará sua natureza selvagem."

Vermelha.

Um pedaço de peito de peru se entalou na minha garganta quando Rony pôs a mão na minha perna, os dedos explorando os contornos da minha coxa.

Tossi e arranquei a garrafa de água da mão dele para, em seguida, dar um tapa nos seus dedos abusados.

— Está tentando me matar?

Engasguei.

— Controle a mão boba.

Rony abriu a boca para responder, mas, em seguida, levantou-se e olhou para trás. Virei-me de costas.

Deni estava no centro do refeitório, observando nossas mesas com uma expressão que ficava entre a curiosidade e o medo.

— Acho que você tem razão, Red.

Disse Rony.

— Aquele garoto precisa de algumas dicas. Parece que ele quer vir aqui.

Deni deu um passo hesitante na nossa direção. Seu olhar estava fixo em mim, fascinado. Estremeci e joguei o que restava do sanduíche no saco de papel.

Melissa riu dissimuladamente.

— Nossa, que olhar apaixonado. Parece que o novato está a fim da Vermelha. Não é fofo? Tadinho do humano...

Essa combinação de medo e prazer estava se

tornando familiar sempre que eu pensava no garoto e me perguntava o que ele achava sobre mim. Rony resmungou:

— Acho melhor eu ter uma conversa com ele sobre como funcionam as coisas por aqui… E o lugar dele nessa escola.

Ele fez menção de sair da mesa. Eu não poderia deixá-lo ir até Deni.

— Não, Rony, por favor. Ele não passa de um humano. É um coitado.

Agarrei-o pelo braço, puxando-o para a

cadeira.

— Dê a ele mais um dia. Ele acabará

aprendendo como tudo funciona. É sempre assim.

— É isso o que você quer?

Perguntou ele a meia-voz.

— Que eu o deixe em paz?

— Não devemos nos misturar com os humanos.

Argumentei.

— Se você o confrontar, vai chamar muita

atenção. Ele tirou minha mão do seu braço e entrelaçou os dedos nos meus.

Fiquei nervosa, mas não resisti.

Tudo bem, podemos dar as mãos. Dar as mãos não faz mal... Não tem importância.

Mas meu coração batia como se eu estivesse prestes a terminar uma maratona. Detestava não conseguir me controlar ao lado de Rony, e o fato de eu precisar me controlar.

O restante do grupo, sintonizado com a súbita agitação dos seus alfas, cessou as conversas e voltou a atenção para o estranho.

O grunhido baixo que emitiram

provocou um calafrio na minha coluna. A reação defensiva foi o primeiro movimento comum entre os jovens Liosgate e Yakimas.

Somos uma alcateia.

Ao ser bombardeado por vinte olhos, Deni

estremeceu. Olhou ao redor do refeitório e encontrou o grupo com quem trabalhara na aula de biologia.

Então caminhou rapidamente até a mesa deles, lançando-me um rápido olhar arrependido.

Rony riu de forma diabólica.

— Pelo visto, você tinha razão, Red. Acho que ele está começando a entender a mensagem.

Sorri, sem vontade, e amassei o saco de papel do meu almoço, frustrada ao ver Deni se afastar.

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