Capítulo 18

Ouvi o Otávio resmungando, fui no quarto verificar, ele tinha acordado com o nosso barulho,  peguei ele no colo o acalmei, ouvi a Amara me chamando, fui lá ver o que ela queria, ela pediu o leitinho com chocolate que eu ofereci, desci fazer com o Otávio no colo, sozinha desabei a chorar, ele sempre ficava como o bonzinho e só pensava nele, sem dar a mínima para oque eu sentia, fiquei super chateada com ele, com a situação, limpei as lágrimas e subi, dei o leite pra ela, perguntei se estava tudo bem, ela respondeu

- Obrigada tia Ka, fica aqui comigo até eu dormir? Quero ficar com você e meu pai.

Deitei com eles, com a total certeza de que ele tinha falado pra ela me pedir aquilo, ela estava no meio assistindo desenho, um filme novo de dragões que virou o preferido dela naquela semana, o Otávio queria mamar começou chorar irritado com sono, deitei meio de costas para eles, comecei amamentar, o Tariq falou levantando

- Vou tomar banho pra você ficar mais à vontade.

Ele deixou o celular carregando, vi que tinha uma chamada perdida recente de um número restrito, fiquei com mais raiva ainda achando que era mulher.

Quando ele saiu a Amara estava quase dormindo, ele pegou roupa e voltou se trocar no banheiro, quando ele deitou, eu já fui levantar, ela despertou e pediu pra eu ficar, olhei pra ele daquele jeito cheia de raiva, assim que ela dormiu, falei pra ele

- Você não pode ficar usando ela pra me manipular, tá cada vez mais difícil conviver com você. 

Levantei fui saindo do quarto, ele disse que não tinha falado nada pra ela, não respondi, fui para o meu quarto, dormi super mal, levantei bem cedo às 6:00, fiz as minhas malas, quando eles levantaram já estava quase tudo no carro, a Júlia chegou para trabalhar, fez a mala da Amara e o café da manhã, subi trocar a Amara, não coloquei uniforme e descemos pra ela comer, ele estava tomando café da manhã, bolachas com leite, quando o Tariq viu a roupa dela, perguntou se ela não ia pra escola, falei que não, ele respondeu

- Porque não? Eu posso levar ela e conversar com a professora. Ela não está bem?

Falei saindo da cozinha 

- Ela não vai hoje Tariq, vamos sair !

Peguei a bolsa, coloquei o que faltava no carro, ele não viu porque estava na cozinha, vi que a Amara tinha terminado de comer, estava sentada no colo dele de chamego, falei pra ela

- Amara se despede do papai e da dona jujuba, nós vamos sair passear.

Ela beijou ele falou tchau, ele não gostou, perguntou onde íamos, fui saindo com as crianças, ele levantou foi atrás, respondi colocando eles no carro

- Preciso de um tempo, vou pra minha casa .

Ele respondeu segurando a minha porta enquanto eu prendia o Otávio na cadeirinha

- Não Kamile, vocês tem que ficar aqui. Ontem perguntei se você queria ir, você disse que não, vamos conversar, eu vou tirar o dia de folga para ficar em casa, podemos levar a Amara no parque ou cinema que ela adora.

Parei em pé bem perto dele e falei o encarando nos olhos 

- Não tô bem aqui, não tô pronta pra conversar e não tô suportando ficar perto de você, ontem você fez oque quis, saiu sem dizer nada, chegou de madrugada bêbado, cuidei de você desde que voltamos de viagem e na primeira oportunidade foi sei lá eu pra onde, me deixou naquela situação horrível da reunião, está sendo negligente com a Amara.

Meus olhos já estavam cheios de lágrimas, respirei fundo pra não chorar, fiquei olhando pra ele decepcionada, ele respondeu se afastando da porta

- Tá bom vai lá, só me avisa quando chegar por favor e não saia de casa. A gente vai se falando?

Falei que sim, entrei no carro, ele abriu o portão deu tchau pra gente, me senti mais aliviada só de estar indo pro meu canto, a Amara falou curiosa

- O tia Ka, porque meu pai não vai passear com a gente também?

Falei que ele não podia, por causa do trabalho, ela respondeu toda inocente

- É, meu pai precisa trabalhar bastantão né? 

Falei que sim, quando cheguei desfiz as malas, liguei pra Joana ela disse que precisava mesmo falar comigo, já foi pra lá rapidinho, ela chegou fazendo perguntas, perguntou pelo Tariq, falei pra ela

- Estamos sozinhos, ele ficou lá, aconteceu alguma coisa?

Ela respondeu me entregando um envelope grande de papel pardo

- Essa semana o Paulo me procurou, deixou isso comigo e pediu pra eu te entregar. Eu não quis te falar por celular, sabe. Tá tudo bem?

Respondi

- Aham, tudo. Como assim? Ele disse algo? Porque você não me ligou? 

Ela disse que ele fez questão de falar pra ela não me avisar nada, só pra me entregar quando eu estivesse em casa e sozinha, já fiquei mexida, dei o Otávio pra ela, abri o envelope tinham algumas chaves de casa, um papel de transferência bancária e um envelope de carta comum, falei pra Joana

- Vou no quarto pra ler tá? Fica com as crianças, por favor?

Ela me abraçou, pediu pra eu ficar calma, fui para o quarto sentei na cama, estava suando tremendo frio, abri a carta e comecei ler

" Desde que te conheci fui covarde com você e sinto muito por isso, não posso dizer que me arrependo de ter ficado com você, acho que nunca vou sentir isso que carrego comigo, com um outro alguém. No começo achei que eu era digno de você, do seu amor, mas quando você engravidou e soube da verdade de quem eu era, tudo começou mudar e você sabia disso, mas quis insistir em nós, acho que pelo Otávio ou talvez porque não sabia muito bem oque sentia por mim ainda. Acho que você vai ficar com raiva e não vai entender os meus motivos, assim como não sou capaz de entender os seus, vejo que vocês não precisam de mim pra nada e decidi não atrapalhar mais sua vida. 

Você está casada, agora vai ter tudo o que eu nunca pude te dar e tenho certeza de que ele não vai me querer por perto, o Otávio é pequeno, ele já nem sabe quem eu sou mesmo, me estranha toda vez que o vejo, vocês vão estar melhor sem mim. Já me mudei do sítio, as chaves estão aí, também depositei o restante do dinheiro que faltava e adiantei a pensão, vou continuar pagando tudo certo, cumprir com as minhas obrigações, só não quero fazer parte da sua nova vida, porque isso está acabando com a minha. Espero que um dia você consiga me perdoar por tudo.  "

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