O Otávio estava no carrinho perto assistindo desenho e melindroso, como quem estava sentindo que tinha algo errado, quase sempre quando eu chorava ele ficava mais próximo a mim carinhoso, mamava me fazendo carinho, sempre um grude.
A Joana estava perto de nós, em pé na pia, preparando a comida, começou ficar nervosa picando legumes, me disse que eu conhecia o Tariq melhor do que ela, que ela não sabia nem o que me aconselhar a fazer, porque a minha situação era nitidamente difícil e só eu sabia oque seria certo, que as consequências eram minhas. Ela quase cortou o dedo, falou que eu precisava me acalmar, foi pegar água bebeu e me serviu também, tomei um copo de uma vez, peguei o Otávio no colo, falei com ele o encarando
- Seu pai precisa de nós. O que eu faço meu filho? Se ao menos sua tia Layla pudesse me ajudar.
Ele me abraçou e ficou quietinho, pediu pra mamar, já era tarde da noite e o Tariq estava fechado no escritório a horas, coloquei o Otávio deitado em meu colo, comecei amamentar, pensando em silêncio
" Layla oque você faria "
A Amara estava na sala deitada no sofá até com um cobertor, assistindo um filme repetido pela quarta vez na semana, era de princesas Barbies e ninguém mais aguentava assistir, por causa do presente do Paulo, ela amava aquele filme e até havia decorado as falas das Barbies todas.
Quando o Otávio terminou de mamar dormiu, falei para a Joana que eu ia fazer algo, ela me olhou apreensiva e concordou positivamente com a cabeça. Respirei fundo tomando muitaaa coragem, fui no quarto, arrumei a cama, coloquei o Otávio e rápido, arrumei a minha bolsa, com documentos, uma troca de roupa, olhei o celular e não tinha nada do Paulo. Sai do quarto apreensiva tentando me acalmar, tremendo suando frio, caminhei ensaiando mentalmente oque iria dizer, fui até o escritório, bati e esperei uns segundos para entrar, o Tariq estava sentado digitando no computador, super sério, não me olhou continuou mexendo lá, perguntou oque eu queria, falei que precisava falar com ele, encostei a porta, e fui me aproximando da mesa, ele respondeu levantando o olhar até mim
- Então agora você resolveu falar comigo Kamile?Oque foi? Quer alguma coisa? Oque aconteceu?
Respondi tensa mal conseguindo o encarar
- O pai do Paulo faleceu hoje!
Ele respondeu rápido voltando olhar no computador e em seguida pegando o celular
- Tá, mais idaí? Oque eu tenho a ver com isso Kamile?
Falei apreensiva
- Ele não estava bem de saúde. Você não tem nada a ver, é lógico. Eu preciso ir pra lá! É importante.
Ele respondeu bravo afastando a cadeira da mesa
- Kamile, estão faltando dois dias para o nosso casamento e você quer simplesmente ir viajar, para ficar com seu ex?
Falei que eu ia no velório, dar um apoio, que o Paulo era meu amigo acima de tudo, pai do meu filho, ele respondeu
- Ahhhhh Kamile por favor, você nem gostava do pai dele. Amigo? Esse cara te deixou sozinha a gravidez toda. Ou não? Estou mentindo? Você precisa amadurecer! Apreender se pôr no seu lugar.
Falei irônica quase chorando nervosa
- E você? Gosta de julgar a todos, mas e você? Seus erros? Você ameaçou eles, já estão sofrendo muito. Pela Layla, eu preciso ir!
Ele falou levando a mão no rosto e fechando os olhos
- Se você sair dessa casa agora Kamile, acabou tudo, noivado, casamento, contrato, e eu juro, que eu mesmo vou dar um jeito de ajudar eles perderem tudo de novo. Você escolheu isso! Venho tolerando a dias sua má vontade aqui, essa rebeldia sem causa. Você não é criança, chega de ser fraca! Isso precisa parar. Você não vai. Vamos nos casar !
Respondi chegando mais perto da mesa
- Você está ficando louco Tariq, não respeita nada nem a ninguém, por isso vive sozinho amargurado, acha que é dono do mundo? Nunca se dá por satisfeito? Comprou uma mãe pra sua filha e não uma esposa de verdade, o meu coração é dele e mesmo se não fosse eu iria, você não tem carinho, compaixão, é um monstro frio e doente, uma má pessoa, tenho aversão a você.
Ele falou levantando
- Para Kamile, já chega. Você não vai !
Falei me afastando, indo em direção a porta rápido com medo
- Eu vou sim Tariq, você querendo ou não, te dou a minha palavra de que no sábado vou estar aqui para cumprir com o nosso acordo, diferente de você tenho palavra e sou honesta.
Ele disse novamente que se eu fosse, estaria tudo acabado, começou falar que o pai da Layla era uma pessoa muito ruim, que a maltratava, que nunca deu amor e nem se importou com ela, chegou falar que a Layla fugiu dele, falei que não importava, ele disse que eu estava inventando desculpas pra ver o Paulo, tentei não discutir mais com ele, falei que estava indo pelo Paulo e não pelo Cícero, repeti
- É o pai do meu filho, você já me tem, Tariq?
Ele se alterou respondeu super grosso, que eu ia acabar fazendo ele perder a cabeça, respondi no mesmo nível alterada
- Vai me bater de novo? Vai me prender aqui dentro? Não me faça escolher entre vocês, eu amo ele e você sabe disso, eu vou!
A Amara entrou no escritório chorando pedindo pra gente não brigar, acabou vomitando de tanto chorar nervosa, silenciamos, me aproximei fui tentar pegar ela, ajudar, mais ele não deixou, tomou a frente, pegou ela no colo e subiu, se trancou no quarto dele, ouvi que ela parou de chorar, corri no meu quarto, comecei arrumar a bolsa do Otávio às pressas, eu não podia deixar ele justamente lá com o Tariq daquele jeito, a Joana logo subiu nervosa, ficou olhando com um olhar de desaprovação, me julgando, falei pra ela
- Vai, pode falar o que está pensando. Não concorda comigo?
Ela respondeu sem jeito baixinho
- Aproveita oque está acontecendo agora menina, pra decidir com qual dos dois você vai ficar, se você for o Jinn sua escolha, ele não vai te aceitar de volta. E se você não for, o Paulo nunca mais vai te perdoar e voltar ter algo com você. Isso chegou já longe demais, eu não sei nem como posso te ajudar. Quer que eu pegue alguma coisa? Vou com vocês?
Falei cheia de pressa
- Claro que vai, pega suas coisas rápido, põe no carro, precisamos sair daqui. Eu vou ir e vou voltar, se ele não me aceitar, a escolha é dele.
Desce o Otávio por favor e fica com ele perto, eu já estou descendo, fiquei quieta pensando nas consequências, arrumei as coisas, pensei em ir falar com o Tariq.
Mandei uma mensagem para o João, perguntei como eles estavam, dei meus pêsames, ele respondeu rápido, contou oque aconteceu certinho, comentou que o Paulo não estava dormindo comendo a dias, e perguntou se eu ia me casar com o Tariq, falei apreensiva baixinho com medo do outro ouvir do corredor
- Vou, o Paulo te falou isso? Oque ele te disse? Ele falou de mim?
Ele respondeu chateado
- É, ele falou que você está com ele, que já deve fazer tempo até. Não é verdade, né Kamile? Que você e ele, tão juntos a muito tempo?
Falei sentida
- Não João, eu não tenho nada com ele, só aceitei casar por causa da Amara e de dinheiro. É muito complicado e eu achei que o Paulo não ia voltar, eu amo seu irmão mais que tudo, estou morrendo pouco a pouco, longe dele.
Ele perguntou se eu ia, já afirmando, falei que sim, perguntei quando e onde seria o velório, ele me passou tudo e disse que não ia falar nada para o Paulo, porque ele já estava muito mal, desliguei rápido, sai espiar no corredor, ver se o Tariq estava trancado no quarto ainda com a Amara, ouvi que o chuveiro estava ligado até.
O enterro ia ser lá na cidade deles, na hora do almoço na sexta feira, pedi para o João não falar pra ninguém de que a gente tinha conversado e que eu ia.
Falei para a Joana que íamos dormir lá, deixamos tudo pronto pra viajar cedo, eu fiquei com medo do Tariq, mas não falei nada pra Joana, ela me incentivou a conversar com ele antes de ir.
Fomos deitar, o Otávio já estava apagado, eu não consegui dormir nada, fiquei me revirando na cama, impaciente no meio da madrugada fui tomar leite, decidi ir pra sala, liguei a televisão, estava passando um filme antigo, sobre uma mulher que se mudou para a cidade grande e se casou com um milionário por engano, achei uma grande ironia do destino aliás e fiquei com raiva de vê-la se sentindo insuficiente pra aquele marido, que a queria de coração, mais que não a aceitava de fato, me vi em algo parecido e fiquei pensando, que se fosse o Tariq em luto, o Paulo não ia me tratar tão mau, porque ele era mais humano e gentil, com todos, me perguntei como eu pude deixar alguém como ele escapar de mim. Todo um filme começou passar na minha cabeça, como se eu fosse morrer longe dele e era a sensação que eu tinha, que meus dias estavam simplesmente contados.
Deixei a televisão baixinha, mandei mensagem para o Paulo perguntando se ele precisava de algo e ele não respondeu nada. Fiquei sentada encolhida no sofá com uma manta e almofada de Layla, pensando muito nela e pensando em tudo, eu só queria ela de volta e a opinião os bons conselhos de minha grande amiga, as vezes eu tinha a sensação de sentir a presença dela, mais nunca fui muito de acreditar nessas coisas e não era religiosa também. Nem chorando eu não estava mais, ouvi barulho na cozinha, até assustei, mais não fui ver, era o Tariq que desceu sorrateiro como uma serpente, sem eu nem notar, com certeza achou que eu estava falando com o Paulo, ele se aproximou, abaixei o olhar, evitei ficar fazendo contato visual, voltei olhar para a televisão, senti medo dele eu confesso, ele se sentou no mesmo sofá e falou exultante com as mãos no rosto, de olhos fechados
- Oi, está mais calma?
Falei chateada engolindo o choro a seco
- O que você acha? Como posso me acalmar Tariq? Que pergunta.
Ele respondeu do mesmo jeito com a voz firme e calma
- Por favor. Como posso deixar você ir Kamile? Você entende o que está me pedindo? Vamos nos casar e esse homem, nem era alguém importante a você. Ou vai dizer que era? Poxa, eu venho tentando e muito, mais você Kamile...
Respondi interrompendo
- Não é o falecido que vou ver e você sabe disso. Por favor, digo eu. Tariq vou voltar a tempo, se eu quisesse fugir teria ido antes, você sabe que não pode me obrigar a seguir em frente, eu te peço respeita isso, os meus sentimentos, a minha vida, eu não sou um objeto, já não basta me comprar? Ameaçar? Tariq, olha pra mim. Ninguém tem que pagar pelas minhas escolhas, é o pai do meu filho, tio da sua filha e ela vai crescer e saber de tudo isso, pode ter certeza. Pode brigar e lutar o quanto for, é a vida dela, a família da Layla, você já não fez muito? Todos estão cansados de sofrer! Eu preciso ir! Tariq ?
Ele ficou quieto alguns instantes, se levantou tranquilamente e foi fumar no quintal, sem dizer uma palavra, comecei chorar e falei com a Layla
- É minha amiga, você com certeza não esperava que eu fosse passar por isso. Queria sua ajuda, esse homem não é alguém com quem eu possa contar e seu irmão, é o oposto dele. Preciso de uma luz na minha vida!
O filme entrou no comercial e começou passar uma propaganda de uma novela, que tinham cartas e pistas, de um assassinato, fiquei prestando atenção e me lembrei dos diários da Layla, eu guardei alguns e outros ficaram com o Tariq, ela fez questão de praticamente os lacrar e embrulhar, eram lindas embalagens, eu não sabia ao certo quantos ela fez e me deu vontade de descobrir, se tinham realmente para a família dela e se o Tariq tinha guardado ou dado sumiço, a certeza que eu tinha era de que ela fez alguns para a Amara, para a esposa do Tariq e para os pais, irmãos, e um pra ele, alguns tinham datas certas pra serem abertos.
Levantei fui na cozinha, coloquei água pra ferver, para preparar um chá de erva doce para acalmar meus nervos, fui no quartinho que ele guardava as caixas, com coisas da Layla, pensando em mexer pra caçar os diários.
Ouvi ele entrando pela sala, corri de volta para a cozinha, fiquei olhando a água fervendo, ele se aproximou falou encostando no balcão de braços cruzados, me encarando super sério
- Você pode ir, desde que deixe o Otávio aqui comigo, como garantia.
Desacreditada, olhei pra ele, falei com os olhos cheios de lágrimas
- Tariq você não é meu dono, não quero ir brigada e tentei conversar com você da forma mais correta possível, não quero sentir medo de você, pra que isso tudo? Está ameaçando meu filho? Eu vou voltar, te juro, te dou a minha palavra. Mas saiba que prefiro morrer, do que ceder às suas chantagens e largar meu filho pra trás, é algo que nunca vou fazer, tá ouvindo. Cada vez mais eu vejo o quanto você é ruim e não entendo o que a minha amiga via em você, acho que era tudo uma grande mentira, ela devia ser sua prisioneira também. Eu vou voltar a tempo e se você quiser desistir e desmarcar tudo o direito é seu, a vontade de se casar é só sua mesmo.
Coloquei o chá na caneca e subi para o quarto chorando, deixei ele lá com aquela cara de maluco e aquele olhar que transmitia irá.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 141
Comments
Carmen Borges de Oliveira
tá certa ela, tem que se impor, não se deixar mandar
2024-10-23
1
Lenna Lopes
eles se gostam tem que ser kamile e Paulo juntos
2024-09-07
1
larissa rodrigues
Coitado do paulo
2023-08-02
2