Capítulo 3

Fiquei quieta pensativa, primeiro eu não acreditava que o Caio podia ter sido capaz de fazer tudo aquilo com meus pais, também não ia adiantar remexer no passado me arriscar e tudo por nada, porque eles não iriam voltar. Falei pra ele, que não ia deixar de viver com medo do Caio, também que não ia fazer nada contra ele, ele perguntou se eu ainda mantinha contato de alguma forma, falei que não, que tinha trocado de número e não passado a ele, ele respondeu

- Quero que você venha morar aqui antes mesmo do casamento, vou ficar mais tranquilo com você aqui e a Amara está dando muito trabalho, eu venho tentando contornar a situação, mais você melhor do que ninguém sabe, como ela é.

Comecei falar que não ia mudar de cidade, nem largar o meu emprego por causa de um capricho dele, ele respondeu

- Não é nem por mim Kamile, mas sim pela Amara, ela não está evoluindo muito bem na escola, tenho medo de ter ido longe demais com ela e não conseguir corrigir agora. Ela não come bem, não dorme sozinha, não consegue fazer amigos.

Respondi

- Então né, quantas vezes te falei pra impor limites a ela? 

Ele disse que não era fácil falar não, ficar brigando para corrigir, porque um só tinha ao outro, e ela já havia sofrido muito, conversamos bastante sobre ela, ele me contou que ela estava andando na linha sempre na base da chantagem e que ele não podia ficar mais tempo em casa, até porque não iria adiantar, parecendo chateado disse que a psicóloga não via evolução dela a meses, que a professora todos os dias mandava reclamações, que se não fosse pela idade, ela teria sido suspensa até expulsa, falei que o problema dela era ser mimada demais, ele respondeu irônico

- E aí a culpa é minha? A mãe dela fazia de tudo, até oque ela nem pedia, é difícil colocar na cabecinha dela, que aquilo tudo que ela viveu a vida toda, é errado. Eu preciso de você! 

Falei que ela precisa mudar e rápido, conversamos até sobre o Otávio, ele disse que não teria me proposto " aquilo " se tivesse outras opções melhores, me elogiou como mãe, disse que a Layla teria muito orgulho de mim, que uma vez brincando ela comentou que eu seria a substituta perfeita, falei que ia dar o meu melhor para Amara, ele respondeu

- Eu sei, não tenho dúvidas disso! 

Falei irônica

- Mais substituta perfeita jamais, você já deixou bem claro que nunca mais vai amar alguém verdadeiramente.

Ele disse sério 

- Não é simples assim, você vai entender melhor, daqui um ano, você é jovem já deve ter tido vários amores, já eu não. Só tive um e foi do tipo que não vai se repetir. 

Eu estava assistindo série, fiquei quieta, ele acabou ficando perto bastante tempo, paramos de falar daquilo fiquei nitidamente sentida, ele decidiu pedir comida, comprou panquecas e doces, eu estava deitada assistindo, ele me serviu na cama, foi super prestativo ficou com pena, porque fiquei super abalada triste com o que aconteceu em casa, ele ficou sentado na beirada da cama distante, brincou um pouco com o Otávio até, quando já era de madrugada, ele foi para o quarto dele e me deixou dormindo.

No domingo de manhã ele me chamou na porta, perguntou se estava tudo bem, me deu bom dia, foi entrando no quarto, disse que a Amara já tinha ligado cinco vezes, querendo a gente, fui levantando, ele falou que ia ficar com o Otávio pra eu me arrumar, tomei banho e coloquei uma roupa simples meio amassada, eu estava sem disposição alguma para qualquer coisa e ele todo arrumado, barba aparada, cabelo todo certinho.

Fomos buscar a Amara e almoçar com a Samira, logo que chegamos ela me chamou pra ajudar na cozinha, mais queria mesmo conversar a sós, foi logo perguntando o que estava acontecendo entre nós dois, respondi me fazendo de sonsa

- Oque? Como assim?

Ela falou séria

- Não tenho nada contra você, muito pelo contrário, pude te conhecer e hoje eu aprovo esse relacionamento de coração, gosto muito de você.

Falei sem jeito

- Nossa não esperava ouvir isso de você, fico muito feliz.

Ela respondeu irônica 

- Justamente por te conhecer e conhecer melhor ainda o meu primo, tenho certeza de que tem algo errado nesse casamento, essa pressa toda e do nada. Kamile o que ele fez?

Falei que não tinha nada acontecendo, que todos já não tivessem pensado sobre nós dois antes, ela sorriu e respondeu

- Espero estar enganada, não vejo o menor sintoma de amor entre vocês pra ter casamento.

Falei que estávamos sendo mais reservados por escolha nossa, ela disse que discrição nunca foi o ponto forte dele, que não tinha visto a gente nem perto um do outro em anos, mudei o assunto pra evitar falar demais e acabar brigando com ele depois, comecei do que aconteceu em casa e da Amara que estava terrível, chegaram para almoçar alguns familiares do Tariq, eles eram " árabes " a maioria tinham vindo para o Brasil crianças ou já maiores, alguns seguiam mais a risca as tradições, outros nem tanto como o Tariq, mas era de lei que escolhessem esposas que fossem como eles, se casavam entre primos até pra evitar casar com qualquer pessoa, no começo rejeitaram a Layla também, por ela ser mais falante agitada toda fora da casinha, ela mesma tinha me contado isso, quando vi mais gente chegando fui logo ficando de canto apreensiva, cumprimentei todos educadamente, a Samira me apresentou como a noiva do Tariq, a mãe dela disse que eu parecia ser muito nova pra ele e já tinha um filho, que ia ficar louca com a Amara mais o meu bebê, comecei ficar sem graça incomodada, outra prima dele disse que eu era muito corajosa em casar rápido assim, que a Amara ia me colocar pra correr igual fez com a Verônica, eu não queria ser vista como mau educada grosseira já de início, falei que não teria problema algum com a Amara, o Tariq se aproximou de mim colocou a mão no meu ombro acariciou meu cabelo e falou pra elas

- Vocês não viram essas duas juntas ainda, pra valer mesmo no dia a dia. Não tem ninguém no mundo que vai amar e cuidar da minha filha como a Kamile. Podem ficar tranquilas, que a Amara estará em ótimas mãos e eu também. Já a Kamile nem tanto!

Ele beijou meu rosto, fiquei mais sem graça ainda, a Samira começou falar que era verdade, que a Amara me respeitava obedecia e vindo dela, aquilo era algo muito grandioso. Assim que ele beijou meu rosto já se afastou, sai da sala pra amamentar, fui para um quarto sozinha.

Entrei no quarto fechei a porta, o Otávio mamou até dormir, preferi ficar lá sozinha, não estava me sentindo à vontade perto deles, sendo o centro das atenções e criticada por tudo, a Samira foi me chamar pra comer, falei que estava indo mais não fui, a Eduarda me ligou e começamos conversar, ela disse que os pais dela tinham ficado preocupados e tristes pelo o que aconteceu, também por não ter dado certo de me conhecer, respondi

- Vamos ter outras oportunidades, não sei como vai ficar essa semana, tô com um pouco de medo ainda.

Enquanto eu falava, o Tariq entrou no quarto, ele não bateu na porta, pareceu que queria me pegar de surpresa, falei para a Eduarda

- Preciso desligar, depois a gente conversa.

Ele falou pra mim sentando na poltrona muito sério

- Pode continuar.

Ela perguntou se eu preferia vermelho ou lilás, respondi

- Acho que lilás, depende. 

Ela começou falar da roupa das daminhas, do vestido das madrinhas, continuei conversando mais um pouco, falando dos preparativos do casamento, quando desliguei, falei pra ele

- Você já almoçou? 

Ele respondeu me olhando fixamente 

- Sim, se você quiser eu fico com o Otávio pra você almoçar.

Balancei a cabeça que sim, mais continuei sentada com o neném no colo, eu estava olhando admirando a mãozinha do Otávio, reparando que ele estava crescendo rápido demais, o Tariq perguntou

- Você está brava comigo por causa do que fiz lá na sala? 

Balancei a cabeça que não, fui levantando, ele continuou falando

- Desculpa, eu vi que você não estava à vontade e quis ajudar de alguma forma, isso não vai se repetir.

Respondi

- Tudo bem, só quero ir embora logo.

Fomos pra sala de jantar, coloquei o Otávio no carrinho, a Amara estava almoçando, sentei do lado dela comi só um pouco, eram comidas fortes cheias de temperos pimentas, a Samira foi falar pra eu não me intimidar com eles, assim como nunca deixei ela me intimidar, respondi

- Antes eu tinha uma disposição que já não tenho mais hoje, queria provar mostrar a todos quem eu era, hoje acho que não me importo mais com o que pensam de mim.

Ela disse que gostava muito de mim e torcia por nós, agradeci, falei que no começo muitos iam criticar com certeza, ela disse que os mortos iam e a vida continuava para os vivos, não pudemos conversar direito porque sempre tinha gente perto, tentei ser simpática com eles todos, falei que queria todos no nosso casamento. Logo depois do almoço fomos pra casa do Tariq, comecei arrumar as minhas coisas, ele falou pra Amara dizer que queria ficar mais tempo comigo, falei que não podia faltar do trabalho, assim como ela não podia faltar da escola, ele me pediu pra ficar, disse que não podia estar comigo na minha cidade e que não me queria sozinha, respondi chateada, porque eu estava com medo mesmo

- A minha vida está lá, tenho que voltar.

Ele respondeu

- E depois do casamento? Como vamos fazer? Você vai ter que vir pra cá, que diferença faz vir um mês antes? Pede a conta no trabalho e se muda ainda essa semana. 

Fiquei quieta respirei fundo, eu odiava ser pressionada a fazer qualquer coisa, ele disse que só queria me ajudar, falei que ia pensar com calma, no que era melhor pra todos nós, tive que dar um sermão na Amara sobre a escola, ela ficou super sentida chorou pediu desculpas, teve medo de eu não ir morar lá, por causa do mau comportamento dela.

Logo fui embora, no caminho ele mandou duas mensagens perguntando se estava tudo bem, quanto tempo faltava pra chegar, quando cheguei o avisei, a Joana estava em casa arrumando tudo inconformada, fizemos boletim de ocorrência virtual, mais como ninguém viu nada, eles não deram a menor atenção, ela se ofereceu pra dormir comigo, fiquei bem mais tranquila e só pensava no Caio, porque ele ia fazer aquilo comigo, estávamos nos dando muito bem nos últimos meses, aquilo não fazia sentido afinal .

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