Capítulo 15

Ele não é nada meu! E vamos mudar de assunto.. a tia Milla irá passar hoje o dia com vocês.

Falo querendo tirar toda essa sensação que o Fernando deixou aqui no meu peito. Mas é impossível esquecer ele.. com o Juca toda hora perguntando por ele.

—" Ele é muito irado milla"

— "Quando eu crescer quero ser assim, que nem ele, todo fortão e bonitão"

— " Ele me falou que vai me ensinar a andar de moto"

(...)

Acabo nem indo para a faculdade. Hoje eu fiquei o dia inteiro cuidando do Juca, aproveitei e até ensinei a Paulina á fazer doces.

— Quer saber? Como hoje é sexta, porque vocês não dorme lá em casa? Vamos fazer seção pipoca.

E todos eles me olham sem acreditar, e pulam de alegrias.

— Mas a sua casa é muito pequena Milla.. E o Juca é muito baguceiro. Se ele quebrar algo?

— Eu não vou quebrar nada.

Juca fala dando língua para a irmã.

— Oh Paulina, já tenho o smurf lá para quebrar todas as minhas coisas.

Falo brincando e olho ao redor do ambiente.

— Acho que podemos levar essas almofadas aqui e fazer um ambiente bem de cinema mesmo.  Minha casa é bem pequena, mais vai caber todo mundo!

— Milla.. mais você não tem faculdade hoje?

— Tenho.. mais não quero deixar seu irmão e nem vocês sozinhos hoje! Agora, vamos logo! Para vocês escolherem o filme.

Falo sorrindo.

— Deixa eu só pegar algumas roupas nossa Milla!

E assim que chegamos em casa, já vejo a dona Maria, fazer uma careta quando olha para as crianças.

— Nossa.. que crianças são essas..

— Não é da sua conta velha fofoqueira.

E eu não sei a onde enfiar a cara quando ouço o Juca falar o que eu sempre tive vontade de falar para ela. Eu até tento esconder uma risada.

— Mas que criança abusada e mal educada!

— Me perdoa senhora! Juca, pede desculpas para ela.

Paulina fala apertando o braço do irmão.

— Eu não.. não falei nenhuma mentira.

— Ele está certo Paulina.

E o Michael fala caindo na gargalhada.

— Crianças... vamos entrar! E com licença dona Maria.

O rosto dela está vermelho de raiva e assim que entro em casa, eu morro de rir junto comigo as crianças.

— Menino.. depois dessa ela com certeza vai me expulsar dessa casa!

— Não tem problema tia Milla! Você pode ir morar com a gente. Eu ia amar.

Juca fala todo carinhoso e eu beijo a testa dele.

— Oh meu amor, mais isso não vai acontecer não. Tomara Deus! Agora vamos fazer uma pipoca?

— Olha Milla.. o smurf está todo sujo!

Paulina fala carregando ele no colo enquanto ele não para de latir.

— É.. provalvemente deve foi uma blusa minha que ele destruiu com a sua boca.

Faço a pipoca e o Juca está ligado no 220, não para de pular no sofá e gritar.

— Juca.. cuidado! Você pode cair.. E você ainda não está muito bem.

— É que esse sofá é muito bom tia Milla! Aaaah.

E ele grita pulando.

— Juca.. para de graça!

Paulina fala, me ajudando na cozinha.

— É Juca..  pode parando! Não estamos em casa.

Michael fala pegando ele no colo, e eu continuo rindo. Como a minha cozinha é americana, dá para eu ver tudo o que acontece na sala.

E a campanhinha toca mais uma vez.

— Ué quem será?

— Deixa que eu atendo tia Milla..

E o Juca sai correndo pela porta e eu franzo a testa.

— Quem é Juca?

— Ah é a veiá.. quer dizer.. Aquela mulher.

— Onde está a Camilla?

E pela voz.. já fico nervosa. É a dona Maria.

— Paulina.. fica aqui vendo as pipocas e o brigadeiro.

Falo limpando as minhas mãos e caminho até a porta.

— Dona Maria.. o que deseja?

Falo forçando simpatia.

— Para vocês fazer menos barulho! Não estou conseguindo ver as minhas novelas.. E daqui a pouco os vizinhos também irão reclamar.

E eu tento não revirar os meus olhos.

— Claro dona Maria.. não se preucupe. Boa noite!

Falo fechando a porta na sua cara, e eu suspiro fundo.

— "Ain.. porque eu estou vendo as minhas novelas"

Juca fala imitando ela.

— Juca.. por favor.. tenta fazer menos barulho mocinho.. essa mulher além de ser dona dessa casa, gosta de arrumar pretexto para tudo.. E não vamos deixar ninguém estragar a nossa noite? Ok?

Falo fazendo cócegas nele e ele sorri. Mas paro.. já que novamente estamos fazendo barulho. Argh.. como eu queria não ter vizinhos! Ainda mais uma velha chata e sistemática.

E depois de fazermos pipoca, brigadeiro, sucos, só que natural por causa do Juca, eu monto uma bandeja linda para eles, apesar de tudo eu sempre gostei de ter as minhas coisinhas. A maary fala que queria ter a criatividade que eu tenho para arrumar as coisas e também paciência para gostar de coisas de casa. ela já não liga muito.

Nos sentamos na sala para ver o filme. E eu escolhi um que sempre mexeu muito comigo.

" Superação/ o milagre da fé"

Porque a mensagem do filme é tão linda, que merece ser passada para todos. Pois para mim a vida é feita de superação, principalmente depois de todas as coisas ruins que passamos ou vivenciamos. A vida é um milagre! Acordar, respirar. E essas crianças são uma forma de superação para mim também. Pois apesar de tudo, eles são irmãos tão unidos! Um cuidam do outro e morrem de medo de se separarem.

E as crianças ficam maravilhados com o filme, principalmente depois de ver como uma vida, a beira da morte pode voltar a viver!

— Meu Deus Milla.. que filme incrível! Estou emocionada.

Paulina me olha.

— Sim, a fé da mãe desse menino é surreal! Em nenhum momento ela deixou de acreditar que ele sairia daquele hospital. E o que eu quero dizer para vocês é; Nunca tenham dúvidas que vocês podem sim mudarem de vida e de situação! Sempre tenha a esperança, nunca perde ela. Se vocês são preciosos demais para a mim, imagina para Deus?

— Milla..você também sente saudades do seus pais igual a gente?

Juca fala me olhando.

— Eu parei de sentir quando eu deixei Deus se tornar um pai para mim.. É claro que as vezes o passado quer me fazer parar, que me fazer lembrar e sentir raiva dos meus pais.. mais eu não permito! Não é fácil.. mais quero dizer para você, não pertubarem o coração de vocês. Pois ainda que vocês virem órfãs de mãe e pai, ou esquecido por eles, Deus nunca se esquece da gente. Ele é o melhor pai que alguém poderia ter.

Falo limpando as lágrimas do meu rosto.

— Tia Milla será que se eu pedir para Deus ser meu pai, ele aceita?

E eu sorrio em meio às lágrimas para o Juca e abraço ele.

— É claro que ele aceita meu amor!

E ele fecha os olhinhos e começa a falar com Deus.

— Deus, a parti de hoje eu queria muito ser o seu filho e que você se tornasse o papai que eu sempre quis ou então que me desse o pai que eu nunca tive. 

E aquilo me emociona de uma forma e seus irmãos também ficam sem palavras, embora tímidos.

E ele abre os olhinhos e sorri.

— Eu tenho certeza que Deus ouviu a minha oração.

— Ele ouviu sim meu amor.

Falo colocando ele em meu colo e beijando a sua bochecha.

E depois eu coloquei outro filme para eles verem e pedi pizza, mais tadinhos.. o Juca e o Michael  foram os primeiros a dormi.. Eu peguei o meu colchão de casal Box e coloquei na sala para os três dormirem juntos, enquanto eu dormi no sofá. E como meu coração ficou quentinho essa noite.

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