Decisões importantes

Consegui um local para a academia, é um cômodo perto da praça, não será difícil a transferência dos alunos para lá e poderei dar aula até em dias de chuva, tudo tem seus benefícios, hoje farei uma reunião com todos os cinquenta e quatro alunos e espero compreensão de todos.

Chego com minha mãe, tia Jussara e o Lucas para a caminhada e todos já estão me esperando, eu percebo que estão um pouco abatidos e desanimados. Dona Cléo é a primeira a falar antes mesmo que eu os cumprimente:

__ Ficamos sabendo que teremos que sair da praça, os vereadores não querem a academia aqui com a desculpa de que estamos tumultuando e obstruindo o direito das outras pessoas.

__ Eu sei dona Cléo, mas é sobre isso que quero falar com vocês. Eu consegui um espaço para continuarmos com os nossos exercícios.

Falo com entusiasmo, pois esse local chegou na hora certa.

__ E teremos uma novidade, faremos caminhada duas vezes por semana nas estradas rurais e trilhas. E ainda teremos uma vez por semana o dia da pedalada, para quem gosta de bike.

Percebo que o entusiasmo voltou e que o sorriso no rosto de todos é espontâneo.

Os levo até o local onde será os exercícios e lhes conto outra novidade:

__Tia Jussara dará aulas de dança de salão e todos foram convidados para uma aula experimental na segunda-feira a noite. O entusiasmo das senhoras é contagiante, nunca vi uma turma tão bem- disposta e cheia de vida. Dona Cléo é o motor que mantém essa turma com disposição, ela põe fogo nas amigas para acompanhá-la.

Já fizemos nossos primeiros exercícios no salão mesmo sem estar pronto, eles animaram o local mostrando que dará tudo certo.

Avisei que não teremos aula durante dois dias para podermos terminar os ajustes necessário, eles se dispuseram a me ajudar a arrumar e vamos inaugurar o local na sexta-feira a noite com um baile.

O local é grande, cabendo pouco mais de cem pessoas. Tudo vira festa com tia Jussara e dona Cléo que estão por conta dos preparativos.

Tia Jussara, quarenta anos de pura disposição e alegria.

A tarde vou atrás dos alvarás e da documentação que preciso para a abertura, Ricardo me ajuda com alguns equipamentos que tinha parado em sua academia e me presenteia com alguns halteres que comprou exclusivamente para mim. Fico surpresa e muito feliz e acabo lhe dando um abraço caloroso. Ele aproveita e me levanta em seus braços apertando em seu peito, me colocando em sua altura.

__ Eu atrapalho?

Meu coração gela com a voz rouca do prefeito atrás de mim.

Doutor Laércio, trinta e cinco anos, prefeito e advogado.

__ Laércio!... Quero dizer, doutor Laércio.

Falo engasgada, não esperava que fosse aparecer alguém e muito menos ele.

__ Assustei vocês? ...

__ Não! Sem problemas, estávamos só comemorando o presente que dei a Elisa para começar a a academia.

__ Presente! ... Que tipo de presente?

__ Esses... Eu encomendei na capital e chegaram hoje. Ela vai precisar para melhorar as qualidades das aulas.

Ricardo fala mostrando os halteres no chão.

Ricardo, vinte e seis anos personal e dono de academia.

__ Elisa, eu posso falar com você?

Laércio fala eu sinto um calafrio percorrer meu corpo.

__ Tudo bem, eu já estava de saída e só vim trazer seu presente.

Ricardo fala pegando em minha mão e beijando meu rosto. Ele sai sem desconfiar de nada mas o rosto de Laércio o condena.

__ Você está com ele? ...

Ele me pergunta se aproximando de mim e me fazendo recuar até encostar na parede.

__ Não, ele é apenas meu amigo.

__ E o que eu sou para você?... Diga-me de verdade o que você sente por mim?

__ Eu não sei. Não tenho como saber, você tem uma noiva e não posso querer nada com um homem comprometido.

Ele está cada vez mais perto até que alguém mexe na porta e ele se afasta.

__ Precisamos conversar, vá na prefeitura hoje a tarde. Vou ficar te esperando.

__ Não sei se posso, estou muito ocupada.

__ Por favor, Elisa... Vá!

Ele sai e encontra tia Jussara e dona Cléo entrando no salão. Ele as cumprimenta e logo sai. Elas me olham com preocupação pois estou aos prantos. Não digo o que está acontecendo de verdade. Falo que são problemas de documentação que tenho que resolver e que estou muito nervosa com inauguração amanhã e muita coisa para resolver.

O dia passa e decido não ir a prefeitura, não vou procurar confusão com minhas mãos e nem ceder aos caprichos do prefeito. Fico até a noite na academia. Fico sozinha fazendo alguns exercícios para ver se esqueço essa paixão, essa loucura, pois já não consigo distinguir esse sentimento.

Elisa, vinte e um anos, personal.

Estou no meio do treino e a porta do salão se abre:

__ Você não foi me encontrar...

__ Eu não pude.

__ Precisamos conversar.

Ele fala já próximo de mim e estou exaurida e com o corpo em chamas. Seu olhar penetrante e sua presença marcante me enche de desejos e me deixa sem razão para confrontá-lo ou ao menos me defender do seu ataque que parece inevitável.

Ele me puxa para o contato com sua boca e me entrego a paixão, ele devora meus lábios com um desejo insano, me prendo ao seu corpo enfiando as mãos por dentro da sua camisa. Ele me pega em sua virilha onde sinto seu membro latejando no meio das minhas pernas úmidas de um líbido jamais sentido. Agora é real e não só um sonho esse contato físico que me deixa louca.

__ Para, por favor!...

__ Seja minha, me deixa ser o único homem na sua vida...

Ele fala beijando meu pescoço e sussurrando em meu ouvido, me deixando atordoada e com as pernas bambas:

__ Você terminou com sua noiva?

Ele para e me olha sem reação e percebo que não.

Saio dos seus braços e o mando embora mais uma vez. Eu não serei a outra de ninguém, não vou ser usada e deixada num canto qualquer.

__ Elisa, eu preciso de um tempo. Eu quero terminar mas tenho que ter certas garantias de que não seremos prejudicados.

__ Prejudicados nós já estamos, agora só me resta te esquecer.

__ Não fale assim! Eu já te dei provas que eu te amo e é você a mulher da minha vida.

Eu não quero mais esse jogo, você é o noivo dela e está preso a ela por algum motivo. Me deixa em paz ou vou ter que ir embora dessa cidade.

Falo já alterada e as lágrimas correm nos nossos rostos. É um ponto final no que poderia ter sido uma linda história de amor.

Ele sai e eu sinto um vazio imenso, caio por cima das minhas pernas e choro meu desabafo e a dor que sinto no peito pois eu o amo tanto...