Nossa nova morada é aconchegante mas sem muito conforto, tem um quarto para cada um de nós que já é uma privacidade. As crianças terão que compartilhar o mesmo banheiro, na casa só tem dois banheiros, que para mim já é um luxo.
A cozinha cercada por bancadas é para uma pessoa, a não ser que fique bem apertado ou bem agarrado, como sou grande em proporções se eu entrar todos tem que sair.A sala é grande eu a fiz conjugada com a copa. É uma casa alugada que conseguimos em uma imobiliária pela internet, o caminhão de mudança veio a nossa frente com poucas coisas que conseguimos tirar da antiga morada que construimos juntos com requinte, espaço e muito conforto. Digno de um engenheiro renomado como o César.
Depois de colocarmos as coisas no lugar eu deito um pouco pois a viagem e o desgaste que estou passando fez com que me sentisse um pouco abatida.
Meu braço ainda dói, lateja e me avisa que não tenho que ficar chorando ou triste pelo fim do meu casamento.
Mesmo assim me pego pensando quando foi que tudo começou a desandar?
E por quê chegamos a esse ponto? ...
Eu pensei que seria para a vida toda, nunca me imaginei sem ele, era para vermos nossos netos juntos, hoje não quero vê-lo nem em sonhos e imaginar as humilhações que passei sinto um grande desconforto e me apavoro.
Durmo um sono e acordo com uma forte dor em meu peito e o meu corpo coberto por um suor frio e muita falta de ar.
Com dificuldades chego até a cozinha para pegar uma água. Lucas está na sala assistindo a tevê e Elisa está no quarto.
Minhas vistas escurecem e só ouço meu filho gritando e Elisa ligando para emergência.
Sou levada para o hospital com um princípio de infarto.
Meus filhos choram e estão apavorados.
__ A mãe de vocês terá que fazer alguns exames e ficará internada por no mínimo três dias.
__ Mas doutor, acabamos de chegar na cidade, isso pode ter sido pelo cansaço... Não temos como custear esses exames e o hospital.
Elisa fala apavorada, não temos emprego ainda e nossas economias ficará no hospital pelo visto.
__ Me chamo Davi e não precisam se preocupar, aqui é uma cidade pequena e acolhedora, as pessoas se ajudam mutuamente. E o hospital é público e tudo será custeado pelo setor. Ela precisa apenas ficar aqui quietinha que logo, logo estará em casa.
Sinto que meus filhos ficaram um pouco aliviados, eu já nem tanto. Preciso estar no colégio onde consegui uma vaga de professora substituta por seis meses.
__ Eu sinto muito doutor Davi, mas não posso ficar aqui, eu tenho que me apresentar no colégio daqui a dois dias, é o prazo que me deram para ocupar a vaga.
__ Não se preocupe dona Heloísa, se me obedecer direitinho eu a deixo sair depois dos exames.
Ele percebe que estamos aflitos e que estou muito angustiada.
__ Não me chame de dona, por favor somente Heloísa.
Falo séria pois estou começando uma nova vida e não quero mais ser tratada como uma velha, gorda e desajeitada.
__ Está certo, Heloísa! Agora me conta o que houve com o seu braço?
Ele fala pegando com cuidado em meu braço e retirando o curativo.
Fico sem graça e um nó forma em minha garganta, olho para os meus filhos e. eles saem do quarto já percebendo o constrangimento.
__ Foi uma violência doméstica, meu ex marido...
__ Tudo bem! Já entendi. Agora descansa e vou pedir a enfermeira para fazer um novo curativo e limpar esse ferimento que pode ter sido a causa da sua arritmia.
Ele sai do quarto e meus filhos voltam. Elisa está nervosa e anda de um lado para o outro até que não aguenta e solta o que está lhe incomodando:
__ A senhora não disse a ele que foi meu pai, disse?
__ Calma, Elisa! A mãe está doente.
__ Calma? Essa situação está como está por culpa dela que não fez nada para segurar seu casamento, agora meu pai é visto como um criminoso.
Eu fico sem reação, é a minha filha, que acompanhou de perto tudo que passei nas mãos do seu pai e ainda o defende.
A enfermeira entra no quarto e avisa que eles não podem ficar, Lucas me beija na testa e diz que me ama, Elisa sai sem dizer mais nada, está revoltada pois sempre foi ligada ao pai e apegada a ele, que em tudo a tratava como uma princesa.
César não foi um pai ruim ou ausente, ele ama os filhos e o problema dele é comigo. O relacionamento quando acaba deixa muitas cicatrizes abertas, os filhos sofrem com a separação por fazerem parte do processo e precisam aprender a conviver com o novo rumo que a vida dará a cada um. Eles unem o casal de alguma forma e muitas vezes relevamos os conflitos por causa deles mas chega um ponto em que não dá mais e quando eles são adultos não precisamos mais ter medo de traumas ou revoltas, e não vou me importar com birra de uma mulher feita e continuar morrendo todos os dia ao lado de uma pessoa tóxica e que estava me matando aos poucos.
A enfermeira faz o curativo e pede com carinho que eu descanse e que são ordens do doutor Davi.
Ele é um homem muito bonito aparentando cinquenta anos e com seus cabelos grisalhos e seu olhos verdes e a pele morena e sua barba bem feita. Sua roupa branca parece ter saído da loja de tão bem arrumado, sua esposa deve ser cuidadosa e muito dedicada.
Sou do tipo que julgo o homem bem casado pela roupa bem cuidada pois fui assim uma vida inteira. Por mais que tivéssemos empregada eu sempre cuidei das roupas e coisas pessoais do meu marido e dos meus filhos. Minha mãe me ensinou que a mulher deve ser zelosa e cuidadora.
Solto um ar preso no pulmão... Do que adiantou? Procurou na rua com a desculpa de que não tinha mulher em casa.
Viro meu rosto e no choro encontro o desabafo até dormir.
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Atualizado até capítulo 66
Comments
Beth Silva
manda ela de volta pra casa do pai. já que ela está te culpando da separação e maus tratos
2025-03-27
2
Sara Martins Martins
já que o pai é bom pra ela devia ficar com ele
2025-02-03
1
Elis Regina
Deveria ter ficado com o papai querida, odeio essa frase "ela não soube segurar o casamento dela" como se a culpa fosse só dá gente, fazemos de tudo até o limite uma hora ñ dá mais...
2025-02-01
3