Crise de ciúmes

A rotina começa na segunda-feira e vai até na sexta-feira, não estou tendo tempo para nada.

Faço os exercícios com os grupos de alunas, minha mãe participa da primeira turma, tive que dividir em dois horários, todos os dias chega mais gente para se exercitar.

Agora tem homens e jovens. Vou ter que abrir uma turma para exercícios a tarde pois não tenho como dar aula para jovens junto com os idosos.

Minha mãe quer que eu junte todo o dinheiro que eu ganhar para futuramente montar minha academia, eu não sei o motivo do sucesso das aulas mas acho que na praça a céu aberto fica mais gostoso se exercitar.

As marmitas também estão dando muito certo, já até contratei um moto boy para fazer as entregas.

Estou na minha terceira aula do dia e vejo Ricardo correndo na pista em volta da praça, já faz mais de uma semana que não o vejo. Continuo com os exercícios e finjo não me importar.

Termino o treino, junto meus materiais e me preparo para sair.

__ Elisa! Podemos conversar?

Ricardo me chama e vem correndo em minha direção, sua camiseta está suada e grudada no corpo.

Ele para a minha frente enquanto eu sento para amarrar meu tênis.

__ Pode falar!...

__ Eu quero te pedir desculpas pelo meu jeito outro dia. Eu nem me apresentei e fui sendo indelicado com você.

__ Desculpas aceitas.

Falo me virando para sair e ele me segura pela mão:

__ Espera! ...Eu gostaria de que fossemos amigos e que pudéssemos conversar com calma e até mesmo sairmos um dia desses. Quero que você tenha uma impressão melhor a meu respeito.

__ Ricardo, eu tenho andado muito ocupada esses dias mas podemos marcar um sábado desses, eu não saio mesmo e será legal poder conversar com alguém.

Ele abre um sorriso lindo, e pega firme na minha mão. Ele beija meu rosto em sinal de paz. Olho do outro lado da rua e o prefeito está passando com o carro quase parando. Fico sem graça, mas Ricardo está tão feliz que nem percebe meu constrangimento.

Ele me acompanha até o portão de casa e nos despedimos. Me senti mais aliviada por não ter inimizade com o concorrente. Mas não posso ser imatura e achar que ele não possa me prejudicar. Vou sondar para saber as reais intensões por trás dessa bandeira branca.

Minha mãe chega toda feliz em casa porque sua amiga da capital virá trabalhar na escola na vaga da professora de português. Elas são muito próximas e vai ser muito bom para minha mãe.

Ela já conseguiu perder peso e está cada dia mais linda e bem disposta. Uma dieta correta e exercícios físicos por si só já melhoram o desempenho e o humor. A pessoa tem a autoestima elevada e a pele rejuvenesce.

Vejo isso todos os dias nos meus alunos e me sinto realizada nos meus objetivos de poder ajudar os outros.

Antes de dormir eu recebo uma ligação do meu pai, ele está triste e chorando muito. Tento acalma-lo mas ele de toda forma quer falar com a minha mãe.

__ Pai!

A mãe não está, ela saiu com uma amiga e não sei que horas volta.

__ Você está mentindo, Elisa. A sua mãe não sai a noite. Chama ela para mim, me deixa falar com ela, por favor.

No mesmo instante a porta da sala se abre e minha mãe vê minha feição triste e pergunta:

__ Quem é minha filha?

... Por quê você está desse jeito?

Faço sinal para ela ficar em silêncio e ela me olha assustada.

__ A sua mãe chegou? Me deixa falar com ela?

Não tive como esconder, ele ouviu a voz dela:

__ É o pai, ele quer falar com a senhora.

Ela pega o telefone da minha mão e o atende:

__ O que você quer César? O divórcio já saiu?

__ Não! Eu não te liguei por isso, é que eu estou com saudades e preciso do seu perdão.

__ César eu te perdoo, se isso vai te fazer me deixar em paz, está perdoado, eu sei que você não estava normal no dia, você havia bebido muito e chegou no seu limite. Mas eu não quero mais te ver, eu não quero contato com você e não espere mais nada de mim.

__ Não diga isso! ...Por favor!... Eu te amo!...

__ César, eu te aconselho a buscar um tratamento para o alcoolismo, para sua agressividade. Procure alguém que te ame de verdade e seja feliz.

__ Você já tem outro? Fala Heloísa?... Quem é o canalha?

__ Eu não tenho que te falar da minha vida, me ligue apenas quando o divórcio sair, no mais adeus.

Ela desliga na cara dele, imagino que ele deva estar furioso.

Ela respira fundo e vejo que ficou abalada com a conversa. Afinal foram mais de vinte anos juntos.

Depois que ela se tranca no quarto e eu me sinto culpada por vê-la passando por isso.

Levantamos cedo e fizemos nossos exercícios, dou aula a manhã toda e estou saindo da praça quando recebo uma mensagem de Lais secretária do prefeito, ela pede que eu passe na prefeitura depois das três. Não sei do que se trata mas tenho medo de que me peça para parar com as aulas.

Tomo banho e visto um vestido fresquinho de alça e sua saia rodada acima do joelho, está um dia muito quente e não dá para vestir roupas pesadas.

No caminho passo em uma sorveteria e tomo um sorvete de menta para refrescar.

Chego na prefeitura e Laís com sua simpatia me manda entrar. Conheço o caminho e já sigo sozinha até a sala do chefe.

Bato na porta e ele pede que eu entre, ele está com a cabeça baixa e não me olha direito, apenas me cumprimenta friamente. Estranho sua atitude mas me mantenho distante não quero envolvimento com um homem comprometido:

__ O senhor mandou me chamar?

__ Sim! Precisamos conversar...

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