Sigo pelo pequeno corredor que dá acesso a uma sala, dois homens estão conversando um senhor mais velho e barrigudo com o botão da camisa estourando e um mais jovem de uns trinta e poucos anos, lindo de tirar o fôlego, eles estão de pé e eu aguardo um sair para saber qual dos dois é o prefeito. Eles pegam nas mãos como se fechassem um acordo, o senhor sai e me cumprimenta.
Para o meu espanto o prefeito é o bonitão de pele clara, cabelos pretos e cavanhaque, seus olhos negros me dá um arrepio na espinha.
__ Pois não, você deve ser Elisa?
Ele fala meu nome e logo imagino coisas. Devo estar carente, ele não deve ser tão atraente assim...
__ Sim, sou Elisa! ...
Falo levando a minha mão em sua direção e o cumprimento.
__ Senta! Minha tia me falou que você tem um projeto para atividades na praça.
__ Sim, eu gostaria de usar o espaço para dar aulas de exercícios diários para as pessoas que quiserem...
Ele me olha me analisando enquanto falo, não consigo controlar a ansiedade mas me seguro, lembro da minha mãe dando aula e tomo uma postura pedagógica. Falo com termos mais formais e com segurança.
__ Elisa, esse senhor que acabou de sair daqui é do departamento de esportes da prefeitura, eu pedi que viesse até minha sala pois eu precisava da confirmação a respeito de alguns aparelhos para academia ao ar livre que foram compradas na gestão passada e que não foram instaladas. Ele me confirmou que estão guardados no galpão da prefeitura.
__ O senhor está dizendo que vai instalar os aparelhos para uso na praça? ...
__ Sim! Se vamos fazer algo que seja bem feito.
__ Nossa! Mas isso é perfeito.
__ Só tem um porém...
Olho para ele e que está com ares de sério e que procura as palavras:
__ A prefeitura não tem verbas para pagar seus serviços e a praça é pública e com equipamentos públicos, se alguém chegar na sua aula e quiser fazer sem pagar eu não tenho como intervir.
__ Eu posso deixa-la fazer a aula normalmente e no final eu explico a ela como funciona e quanto eu cobro pelo meu serviço.
__ As pessoas da cidade são bem civilizadas e não costumam fazer esses tipos de coisa mas temos que ficar atentos pois a oposição pode criar motivos para me prejudicar e criar alguns obstáculos.
Ele fala de uma maneira como um encantador serpente, eu já estou toda convencida de que ele está certo e se ele disser: pula! ... Eu pulo sem pestanejar.
__ E o que o senhor me aconselha a fazer?
__ Vamos fazer um teste por por dois meses e enquanto isso eu vou correr atrás da verba para custear suas aulas e se eu conseguir eu abro a licitação e você terá que disputar a vaga com outras pessoas. Só não posso garantir que você será a contratada.
Nessa hora eu tive medo do meu projeto perfeito ir parar nas mãos de outra pessoa. É um risco que terei que correr.
__ Você me entende, Elisa? Não sou eu quem decido essas coisas, são as leis do município e se eu não cumprir a regra eu posso ser prejudicado em um mandato que acabei de assumir, tem apenas um ano que estou nessa cadeira e só herdei dividas. E as pessoas querem ver trabalho e eu não tenho como fazer tudo. A praça é pública e se você estiver dando suas aulas eles podem querer te atrapalhar de alguma forma, a política aqui não tem a educação que as pessoas tem.
__ Eu entendi, qualquer coisa eu procuro resolver da melhor forma para não atrapalhar seu mandato.
__ Outra coisa, Elisa! ... Você vai encontrar resistência com as duas academias da cidade, eles são concorrentes e vão pegar pesado contra seu projeto.
__ Nossa! Eu pensei que seria mais fácil.
__ Nada é fácil, mas a gente vence matando um leão por dia. Vive-se o hoje e deixa o amanhã chegar, para cada dia basta o seu mal... Enquanto isso vai trabalhando, qualquer coisa você me fala e vamos ver como podemos resolver.
__ Eu te agradeço pela oportunidade, espero que eu consiga colocar em prática o projeto.
Falo me levantando, ele se levanta e circula a mesa e vem até mim pegando em minha mão:
__ Vou mandar instalar os aparelhos na praça até o final de semana, vamos torcer para dar certo.
A sua mão está segurando firme a minha e nossos olhares se cruzam. Sinto um calafrio e me recomponho quando ele solta abruptamente a minha mão. Percebo a aliança de noivado no anelar da mão direita.
Nos despedimos e eu agradeço pela atenção.
Saio da sala com algumas dúvidas e minha empolgação diminuída.
Chego em casa e faço alguns impressos de propaganda, tanto das aulas quanto das marmitas de comida fitness.
A noite conto tudo para minha mãe que me diz para não ficar pensando no problema antes de existir, primeiro deixem eles aparecerem.
Faço alguns lanches integral para tentar vender depois da aula, vou começar aos poucos.
Pela manhã chegamos na praça e tem mais pessoas que ontem, a turma está animada, são mulheres de todas as idades. Dona Cléo faz a mesma coisa, me entrega o papel e o dinheiro das aulas referente as novas alunas.
A semana toda foi esse movimento, tenho uma turma de trinta alunas. Caminhamos em volta da praça e depois alguns exercícios de alongamento e funcional.
Os aparelhos estão quase prontos, mas estou pensando em deixa-los mais para as pessoas que não fazem parte do grupo.
Hoje é sexta-feira e o trabalho durante a semana foi puxado, minha mãe não foi para a escola e ficou comigo na academia na praça até o final. Ela se senta um pouco para descansar e vejo um rapaz se aproximando dela e a abordando a respeito das aulas:
__ A senhora está pagando quanto para fazer essas aulas?
__ Eu?... Nada! ... Ela é minha filha, agora todas aqui pagam uma mensalidade. Algum problema?
__ Ela está usando um espaço público, a prefeitura deveria fazer isso de graça.
__ Nada é de graça, alguém tem que desembolsar o pagamento da professora e se a prefeitura cedeu o espaço os contribuintes podem pagar pelas aulas. Você tem alguma objeção?
__ É que é desigual, tenho minha academia, pago pelo meu estabelecimento e ela está tirando do meu trabalho.
__ Por isso não? Já estou terminando minha aula, é só você começar a sua. Vamos mãe tenho que fazer algumas marmitas para entregar.
O abordo por trás e ele se assusta com a minha fala. Ele me olha fulminando e não deixo me abalar. Ele é um deus grego com o corpo coberto de músculos. Essa cidade não é o lugar certo para uma mulher solteira. Celibato aqui não deve existir.
Pego na mão da minha mãe e saio com altivez. Ela percebe que estou transpirando e me dá um sorriso. Ela me conhece bem e sabe que estou nervosa.
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Atualizado até capítulo 66
Comments
Marilza Motta
Elisa não será fácil, pois quem tenta fazer a coisa certa é sempre criticado, vá em frente
2024-12-12
2
Mmary Hoffman
fotos por favor
2024-09-30
2
Army_Otaku_fujoshi
Isso não é um prefeito, é um pai
2024-02-18
9