Desabafo entre amigos

Quando dei por mim já estava escuro, Lorenzo fecha seu computador e me olha por cima do óculos de grau. O fazendeiro é charmoso que dói:

__ O que você achou da sessão, quero sua opinião sincera.

__ Gostei muito, espero não ter te assustado com tantos altos e baixos da minha vida.

__ Eu te acho muito forte, você passou e está passando por muitas coisas e está com esse sorriso lindo no rosto sem deixar se abater.

__ Eu tenho para mim Lorenzo, que a vida tem que seguir seu percurso e parar não é a solução.

__ Você tem razão, mas para mim está tudo muito recente. Um pouco mais de um mês e não estávamos nada bem.

__ Vocês não eram felizes juntos?

__ Na verdade, estávamos separados há mais de um ano, ela estava tendo um caso com um rapaz que conheceu pela internet e ela ficou apaixonada por ele, pediu o divórcio e me senti humilhado, traído e envergonhado perante minhas filhas, meus irmãos e você sabe como é cidade pequena tudo é motivo de fofoca e eu abafei essa história o quanto eu consegui.

O rapaz era muito mais jovem e bonito, ela se encantou com ele chegando ir para o litoral com ele nas férias. Um garotão estudante de medicina.

__ E onde Janaína entra nessa história?

__ Como você soube? ...

__ Leide falou alguma coisa com minha filha Elisa outro dia no restaurante.

__ Elas eram amigas, Márcia tinha devoção a essa amizade e Janaína deu respaldo para ela ficar com o rapaz. Era a alcoviteira na história e a instigava a se separar de mim e ir embora, sei que ela era uma cobra fazendo de tudo para que com a separação a gente resolvesse a vender a escola. Chegou a oferecer um valor exorbitante pelo imóvel. Márcia estava fazendo de tudo para que eu convencesse meus irmãos a fecharem o negócio mas Júlia e Leide me pediram para não vendermos.

Os tios já passaram a parte deles para elas e eu tenho a minha parte que será delas depois do inventário , elas não sabem ainda dessa transferência, vamos contar depois da partilha dos bens e aí elas é quem decidirão o que fazer.

__ E por quê você não manda Janaína embora daqui, ela é soberba e prejudica muito a escola.

__ Ela está ameaçando contar para todos as aventuras de Márcia e depois do enterro ela me acusou de ter provocado o acidente. Eu estava no volante, na hora do acidente.

__ Mas seu irmão é o delegado, ele pode te ajudar.

__ Acontece que o acidente foi na cidade vizinha , eu estava vindo na estrada e um caminhão nos tirou da pista e o carro bateu em uma árvore. Ele rodou na pista várias vezes e perdi o controle. Te juro que queria ter sido eu a morrer em seu lugar.

Ele fala com os olhos em prantos, meu coração parte por sua dor tão sincera. Passo minhas mãos por seus cabelos para acalmá-lo. Ele me olha com o rosto vermelho e diz:

__ Eu acho que você seria uma excelente psicóloga.

__ Por quê você acha isso?

Falo dando um sorriso discreto.

__ Eu não tinha conseguido falar com ninguém a respeito, além da polícia. Eu precisava desabafar e com um pouco de conversa eu te disse tudo que guardei durante muito tempo.

__ Amigos são para essas coisas, podemos conversar sempre que você precisar.

__ O que você vai fazer amanhã a noite? Podíamos sair e conversarmos mais um pouco.

__ Não vai dar! Vou jantar com seu irmão...

__ Com Esteves? ...

__ Não! Com Davi. Com o delegado eu almocei no domingo.

__ Sério! Desse jeito só vai sobrar para mim as sessões de terapia.

Ele fala se levantando um pouco frustrado e guardando o resto das suas coisas.

Eu me levanto e pego minha bolsa e agradeço pela sessão:

__ Obrigada, eu gostei muito da sessão foi muito bom conversar com você.

__ Eu também gostei e desculpa meu desabafo, um terapeuta nunca pode levar seus problemas para o paciente.

__ Podemos ser amigos, assim nos ajudamos.

Faço menção de sair e ele me chama de volta:

__ Cuidado com os dois solteirões, eles podem te confundir a escolher o irmão errado.

__ Não se preocupe, eu não estou a procura de namorado. Eu estou escaldada de problemas sentimentais, não vou embarcar nessa tão cedo.

Saímos juntos da escola, a rua já está deserta como as típicas cidades pequenas.

Chego em casa e tenho um inquérito para responder, Elisa e Jussara querem saber de tudo o que aconteceu na terapia, eu faço de tonta e mudo logo de assunto. Não sei porque mas estou mexida com a história do homem lindo, forte e carente, seu jeito de falar e como ele é sincero não sai da minha cabeça.

Aproveito o sábado para dormir um pouco mais e descansar da semana, Jussara levanta cedo e sai com Elisa para olharem um outro lugar para montar a academia, Lucas deita ao meu lado reclamando que quase não tem me visto e que está sentindo saudades dos meus carinhos. Ele me fala da sua amizade por Leide e como ela é especial e que está sofrendo muito com a morte da mãe e que gostaria de que fossemos ao seu aniversário no mês que vem. Ela não fará festa, somente um jantar para a família e amigos próximos.

Olho seus olhinhos de gato e falo que podemos pensar no assunto, desde que o pai dela venha falar comigo.

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