Reunião de última hora

A semana na escola foi bem corrida, não tive como conversar com Júlia a vice diretora, ela não me procurou para falar sobre o assunto então eles devem ter resolvido a respeito da nova diretora.

Fui com Elisa na caminhada, Lucas hoje não pode ir, está ocupado com um animal doente em uma fazenda. Ele não está tendo tempo para nada, toda hora um chama e nem almoçar em casa tem vindo. A noite ele está indo para a faculdade e quando chega já estamos dormindo.

Elisa por sua vez está tão ocupada que esqueceu seu aniversário que será no domingo. Já olhei um restaurante para almoçarmos e depois vamos ao cinema, eles precisam descansar um pouco e distrair dessa loucura que virou nossas vidas.

Depois do almoço recebo uma ligação de Julia pedindo para eu comparecer em uma reunião na casa do seu tio às oito da noite. Ela me passa o endereço e o nome de um dos meus chefes: Esteves.

Achei o nome forte e espero não encontrar uma barreira de concreto a minha frente, pois a impressão que passa é de serem pessoas firmes. O pai de Júlia é Lorenzo, agora é saber o nome do terceiro.

Elisa resolve fazer uma sessão de exercícios comigo a tarde e estou com meu corpo todo doendo, essa semana eu desinchei bastante, a primeira semana de dieta já se percebe um pouco a diferença, por causa da diminuição do sal as roupas já ficam mais folgadas e os inchaços em volta do olhos diminuem, estou me sentindo bem melhor mas as dores no corpo são horríveis, nem sei como vou chegar nessa reunião.

Tomo um banho e visto uma calça corsário social palha com uma camisa de seda creme e umas bijuterias que elevam minha autoestima, faço um coque atrapalhado onde pareço mais jovem, uma maquiagem leve e uma bolsa de mão.

__ Nossa! A senhora está linda!... Desse jeito vai até arrumar um namorado.

__ Deixa de besteira, Elisa. Não quero nunca mais saber de homem na minha vida.

Falo com desprezo pois minha decepção foi tão grande que estou enojada da raça. Sinto uma fisgada no braço, o ponto do corte repuxando. Isso é para me lembrar que devo manter distância de qualquer relacionamento.

Faltam alguns minutos para o horário marcado e resolvo passar no supermercado, vejo um homem muito bonito, um blazer azul e uma camisa preta, ele escolhe um vinho e alguns frios, ele me olha de cima a baixo e me sinto nua. Os homens dessa cidade são um colírio para quem esteja interessada em relacionamento, no meu caso só observo.

Ele sai na minha frente, passo alguns produtos no caixa e vou em direção ao endereço. Chego dez minutos atrasada, espero que não seja motivo para me condenarem.

Julia abre a porta da imensa casa e me recebe com um sorriso amigável. Ela me apresenta sua irmã, Leide que é uma linda moça de pele clara e olhos azuis, com cabelos castanhos e longos contornado seu rosto angelical, olho para o enorme sofá branco e vejo Lorenzo com a perna engessada. Um homem grande e bonito com seus cabelos loiros já grisalho, a barba por fazer e um olhar cansado. O cumprimento com uma certa distância enquanto ele não me olha diretamente, parece triste e abatido, deve ser pelo fato da morte da esposa tão recentemente.

Leide senta ao seu lado e pega em sua mão, antes que eu me sente o homem que estava no supermercado sai dos fundos da casa tirando o paletó dando a visão do seu peitoral e seus braços malhados na camiseta preta apertada, ele me olha com malícia e Julia nos apresenta:

__ Esse é meu tio: Delegado Esteves...

... Tio essa é a professora Heloísa.

Ele me cumprimenta e pega em minha mão me devorando com os olhos, parecendo um animal no cio ele fita meus lábios e desce seu olhar para o decote da minha camisa de seda. O cumprimento e volto minha atenção para a porta que se abre e para minha surpresa vejo o terceiro irmão que abre um sorriso lindo quando me vê:

__ Heloísa! Sabia que iríamos nos encontrar novamente.

Ele fala vindo em minha direção e com um gesto já familiar e de confiança me beija o rosto.

__ Doutor Davi. Quando eu iria imaginar que era o senhor o terceiro irmão?

__ Pois é, eu poderia ter te falado aquele dia no hospital mas as coisas estavam complicadas naquele momento.

Somos interrompidos pelo delegado que parece não ter gostado nada da intimidade com que estamos conversando:

__ Então vocês já se conhecem?

__ Sim, eu a atendi no hospital semana passada, mas pelo visto agora ela está ótima.

Doutor Davi fala com uma malícia nos olhos e sinto uma disputa no ar.

__ Podemos então começarmos a reunião, eu preciso descansar.

Lorenzo fala com um tom arrogante e firme. Todos se calam e me sento a frente de um tribunal de beldades. Ele é o mais velho dos três e Davi o mais novo todos na faixa dos cinquenta.

Julia fala do meu currículo e minha capacidade para estar a frente da escola, Lorenzo parece não querer uma pessoa estranha na direção do empreendimento famíliar mas Julia tem vinte sete anos e é professora de matemática, Leide tem dezenove anos e é estudante de veterinária. E a minha frente. Um fazendeiro, um delegado e um médico. Não consigo ver outra opção para eles.

Davi pede a palavra e diz que por ele tudo bem, que pelo meu currículo estou apta ao cargo.

Esteves que não tira os olhos do meu corpo e dos meus seios diz que concorda com Davi.

Lorenzo diz ser vencido pela maioria, me deseja boa sorte e pede para se retirar.

Eles não pedem minha opinião, apenas falam o que pensam como grandes machistas. Quando ele se levanta com a ajuda das filhas eu me coloco de pé a sua frente e olhando dentro dos seus lindos olhos cor de mel eu falo:

__ Farei o possível para estar a altura do que sua esposa fez pela instituição.

__ Não é o suficiente, faça melhor.

Ele fala e sai, antes sinto meu corpo gelar quando ouço sua voz grossa e rouca, seu olhar dentro do meu e seu rosto que expressa raiva e determinação.

Davi se aproxima e me convida para um vinho, eu recuso e Esteves insiste:

__ Só uma taça, vamos brindar seu novo cargo.

__ Eu agradeço, mas não posso. São ordens médicas, fica para uma outra ocasião.

Estou saindo e as duas moças sem graça pedem desculpas pelo pai. Leide vem comigo até o carro e um pouco constrangida me fala:

__ Eu conheci seu filho na fazenda do meu pai, ele ajudou no parto de uma vaca.

...Agora estou entendendo a felicidade que ele anda nela.

__ Que bom? Lucas é bom garoto, quem sabe vocês não sejam amigos.

Falo abrindo a porta do carro.

__ Estamos fazendo faculdade juntos, vamos sempre na mesma van.

... Está explicado tanta dedicação.

__ Que bom! Qualquer dia vai lá em casa, podemos fazer uma sessão de filmes, meus filhos adoram.

Ela fica feliz com o convite, mas percebo que a dor está muito grande por ter perdido a mãe. Dou lhe um beijo no rosto e me despeço.