Deixe-me Esperar Por Ela

PONTO DE VISTA: RAVI LEBLANC 

Assim que nossos amigos foram embora, eu fiz um pedido a Luke: 

— Sei que está cansado, mas, por favor, me deixa esperar por ela... 

— Não acredito que o meu amigo Ravi está quase implorando para ficar na minha casa... — Fez uma cara de surpresa exagerada.

— Luke, pode zoar à vontade.  É  isso mesmo, eu preciso vê-la antes de ir embora. — Disse e suspirei. 

— Cara, nunca vi você assim…

— Nem eu. Estou assustado comigo mesmo. Sempre zoei das pessoas que diziam sobre amor à primeira vista, para mim sempre foi um absurdo gostar de alguém sem ao menos conhecer, tocar, beijar... ou até transar. E olha só, há meses que a vi naquele avião e eu não a esqueci. 

— Meu amigo, você realmente está apaixonado por ela. A minha mãe vai enlouquecer quando souber disso. 

— Não fala nada por enquanto, deixa eu me aproximar dela primeiro e ver como será. 

— Combinado. Mas me promete que não vai fazê-la sofrer ou tratá-la como uma de suas conquistas e descartar depois? 

— Eu prometo. 

Quando eu disse essas palavras a porta se abriu e ela caminhou devagar até nós. 

— Angel, achei que dormiria lá na casa do Senhor Rabugento. — Luke. 

— Luke, já lhe pedi para não falar assim dele. Ele não é rabugento ou mau humorado. O Sr. Clifford é apenas sério e exigente. 

— Se você diz... 

— Ele parece ter uma personalidade diferente quando está com você. — Eu falei enciumado.

—Talvez, mas ele sempre foi muito gentil comigo. — Angel. 

— Gentil até demais! — Luke. 

— Vai começar com essas insinuações sem sentido? Ele tem idade para ser o meu pai, no entanto, muitas vezes me ajuda e aconselha como tal. 

— Tenho certeza que te aconselhou a ficar longe de nós. — Eu disse o meu pensamento em voz alta.

Ela sorriu e confirmou: 

— Isso também. 

— Não acredito que ele teve a ousadia de falar isso. — Luke disse e me olhou. 

—  E você vai seguir o conselho dele? — Perguntei curioso e receoso. 

— Eu deveria? 

— Não. — Eu e Luke respondemos apressadamente e ao mesmo tempo. 

Ela começou a rir e nós também. 

— Deveria ter ficado aqui conosco em vez de ficar ouvindo besteiras. — Luke. 

— De jeito nenhum. Aqui parecia mais o clube dos rapazes. E se eu ficasse aqui, sentiram indignados quando eu começasse a discutir futebol com vocês. 

—  E você entende de futebol? — Perguntei. 

— Você acha que uma mulher não seria capaz de falar de tal assunto? — Ela fez uma pergunta retórica. 

— Claro que é possível. Há mulheres que entendem até mais que alguns homens. Só fiquei curioso… — Eu disse apesar de não conhecer nenhuma no nosso meio. 

— Bom saber. Por um instante, pensei que era um desses babacas machistas. — Angel disse e fixou o seu olhar ao meu. 

Eu me perderia facilmente naquele olhar... que poder ela tinha sobre mim! 

Luke limpou a garganta com um leve pigarro e disse: 

— Angel, poderia fazer sala para o Ravi por alguns minutos? Gostaria de tomar um banho rápido, acho que bebi demais. 

–Tudo bem! — Ela respondeu. 

Nos sentamos no mesmo sofá, porém não tão próximos. 

Como eu queria me aproximar... 

Conversamos sobre nossas profissões, sobre a minha amizade com o Luke, algumas outras amenidades e sobre a cidade. Ela contou sobre a torção do tornozelo, a meu pedido.

Então, resolvi ser direto, talvez fosse precipitado demais, ou a bebida que estava me encorajando, mas eu tinha que falar: 

— Angel, sei que fingiu que não nos conhecíamos antes, mas você se lembra da primeira vez que nos vimos? 

Ela me olhou, depois colocou o dedo indicador sobre os seus lábios e o dedo polegar segurando o queixo, uma posição como se estivesse pensando. 

— Acho que foi há uns 6 meses, durante o voo da Europa para cá... 

— Que bom que lembrou! — Ao saber que ela também lembrava de mim, meu coração acelerou e continuei dizendo: — Saiba que eu nunca esqueci você.

— Ravi...

Eu a interrompi. 

— Sei que estou agindo de forma precipitada, mas, por favor, deixe eu falar o que está preso no meu coração nesse tempo todo. — Eu pedi e olhei bem no fundo dos seus olhos. 

— Tudo bem, eu vou ouvi-lo. — Ela concordou. 

Naquele momento, eu sabia que estava sendo impulsivo, indo rápido demais, entretanto, para mim, eram meses de obsessão... Meses que eu lutava contra mim mesmo para tentar esquecê-la ou que a encontrasse logo. Então, tinha que colocar para fora o que o meu coração pedia, antes que ela fosse embora novamente.

— Angel, você pode perguntar para o Luke, caso esteja pensando que estou exagerando. Naquele dia da viagem, eu quis muito te conhecer, mas você sempre estava acompanhada. Eu nunca esqueci do seu rosto, do seu olhar, do seu sorriso, do seu perfume. 

— Não sou um modelo de beleza inesquecível.

— Para mim você é. Tão inesquecível que eu pensei na possibilidade de contratar um detetive para te localizar. 

— Não fez isso… fez?

— Não fiz, mas cheguei a pegar o contato de um. E quando te vi há 15 dias, não consegui esconder a minha felicidade por encontrá-la de novo. Passei a frequentar diariamente aquele restaurante com a esperança de te ver...  E hoje, quando você desceu aquelas escadas, eu juro que me segurei para não correr até você e abraçá-la. 

— Ravi, eu não sei o que dizer. 

— Não precisa dizer nada. — Eu falei e continuei olhando para ela: — Por favor, só não se afaste de mim ou suma de novo. Deixe-me conhecê-la e estar na sua vida. 

E mais uma vez, os nossos olhares se fixaram um no outro e o meu coração estava descompassado, parecia querer subir pela garganta. 

A falta de resposta dela começou a me assustar. 

— Vocês estão brincando de quem pisca primeiro? — Luke chegou agitando. 

— Palhaço! — Brinquei com ele. 

— Já que você chegou, vou subir. — Angel disse sem graça. — Preciso colocar o meu pé para cima, senão amanhã, é provável que o médico não tire essa bota. Boa noite, rapazes! 

Ela começou a andar, a dúvida e o medo de tê-la assustado e afastado para sempre surgiram. Porém, Angel parou ao pisar no primeiro degrau da escada e virou de volta para mim e disse: 

— Ravi, foi bom revê-lo. Tenho certeza que nos veremos outras vezes. 

Como eu me senti nessa hora? Nas nuvens, no paraíso, no mar de felicidades... aquelas palavras trouxeram uma pitada de esperança… uma alegria imensa tomou conta de mim.

 "Eu a veria de novo!!!!"

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