Tarde de sábado

Durante o caminho de volta, eles começaram a brincar um com o outro. Pareciam duas crianças implicantes. Puxavam o cabelo, o nariz, as orelhas um do outro. Até que Richard agarrou as mãos de Elizabeth e deu um selinho nela.

Elizabeth quase caiu da charrete. Só não caiu porque Richard foi rápido e segurou ela pela cintura.

- Ei! Não estamos mais na época dos acidentes com carruagens. Quer morrer de forma bizarra?

- Eu não quero morrer, só levei um susto. Perdi o equilíbrio.

- Tudo bem agora?

- Por que fez isso? Por que me beijou?

- Você chama aquilo de beijo? Beijo é isso aqui. - E pegando o rosto de Elizabeth entre as mãos dá um beijo demorado, intenso e com a língua pedindo passagem em seus lábios. Elizabeth perdeu o fôlego tamanha intensidade do beijo. Quando Richard percebeu que ela desmaiou. Ele soltou o beijo e tentou acordá-la. Só funcionou com o cheiro do vinho.

- Agora fui eu quem levou um susto. Você costuma desmaiar por qualquer coisa?

- Por que você me beijou?

- Porque eu quis. Sua boca estava me chamando.

- Você beija todas as garotas que se aproximam de você?

- Não. Na verdade só uma me chamou a atenção.

- Não consigo acreditar que você me beijou sem o meu consentimento...

- Eu agora preciso pedir consentimento para beijar a minha esposa? Que estranho!

- Você me considera sua?

- Esposa? Sim. Tenho um documento que comprova isso.

- Pensei que fosse um casamento de fachada. Apenas para obter a cidadania e o sobrenome MacMillan.

- Nunca me casaria de mentira com uma mulher.

- Ontem parecia não se importar com o nosso casamento.

- Ontem eu estava cansado de trabalhar e você teve um dia intenso com o meu avô. Meu avô até quebrou o protocolo do jantar por sua causa.

- Esse protocolo é como?

- Às 19 horas subimos para tomar banho e nos vestir socialmente para o jantar que ocorre pontualmente às 20 horas.

- Como? Não entendi.

- Todos os dias, exceto quando tenho trabalho à noite, nós jantamos no horário certo e vestidos com trajes sociais.

- Por que isso? Por que tanta formalidade para jantar?

- Por tradição. Desde que os MacMillan receberam títulos de nobreza, esse ritual acontece todos os dias, ou melhor, todas as noites.

- Ainda existe esse negócio de nobreza na Escócia?

- Assim como na Inglaterra e em outros lugares da Europa.

- Que chato!

- Não quer ser duquesa?

- Esse é o título da família?

- Sim, há algumas gerações.

- Prefiro continuar sendo plebe.

- Sinto muito em lhe dizer, mas agora é um pouco tarde para voltar atrás.

- Sou obrigada a aceitar esse título?

- Infelizmente sim. Chegamos. - Ele desceu e deu a volta para ajudar Elizabeth a descer da charrete. Ao descer na beira do lago, Elizabeth não teve nenhuma reação, mas agora, depois do beijo, ela ficou vermelha e toda tremendo nos braços de Richard. Ele tomou seus lábios novamente em um beijo profundo. Antes que Elizabeth desmaiasse novamente ele a soltou. - Vamos entrar?

Elizabeth respirou fundo umas três vezes para acalmar os nervos e entrou.

- Como foi o passeio?

- Foi interessante. Se me permite, vou subir para tomar um banho.

- Não se esqueça de descer para o chá.

- Não vou esquecer. Onde está Geórgia? Preciso conversar com ela.

- Vou pedir para ela subir.

Elizabeth subiu as escadas. A intenção era tomar um banho, mas teria que fazer isso antes do jantar. Então entrou no closet para procurar roupas adequadas para o chá da tarde.

Elizabeth estava quase desistindo de trocar de roupa quando Geórgia chegou.

- Obrigada por vir, Geórgia. Estou sem saber como me vestir para o chá da tarde e depois para o jantar. Essa tradição é muito chata.

- Para o chá da tarde, recomendo um vestido leve, como aquele vestido solto de hoje pela manhã. Agora para o jantar, esse lado aqui tem bastante opções. Todos os vestidos clássicos são apropriados para o jantar do dia a dia. Para jantares formais, temos esses aqui e os últimos são para jantares de gala.

- Se eu for convidada a acompanhar o meu marido em um jantar de negócios, qual devo usar?

- O ideal são os vestidos de jantares formais.

- Tenho muita coisa para aprender. É verdade que o Richard é duque?

- E a senhora é duquesa.

- Caramba! Vou ter que conviver com isso...

- A senhora não gosta?

- Prefiro continuar sendo uma pessoa comum. Não nasci para a nobreza.

- A senhora vai se acostumando com o tempo. A falecida mãe do Senhor Richard também demorou para aprender.

- Gostaria muito que me chamasse só de Elizabeth.

- Infelizmente, senhora, isso é impossível. Somente os patrões chamam pelo nome. Nós serviçais temos que permanecer em nosso lugar.

- Por que chamam meu tio-avô de Mestre?

- Por ele ser um ancião. Ele é o duque mais antigo do castelo. O jovem Duque é o seu marido.

- Entendi. Se o pai do Richard estivesse vivo, seriam três duques no castelo?

- Não. Com a morte do pai, o jovem se tornou duque. Se o pai estivesse vivo, haveria apenas dois duques, o mestre e seu filho.

- Mas se o avô dele ainda está vivo, por que o título de duque é partilhado com dois ao mesmo tempo?

- Quando um duque atinge uma certa idade, tem direito de nomear seu sucessor. Quando o mestre atingiu 50 anos, ele nomeou o filho seu sucessor. Infelizmente ele não viveu para usar o título por muito tempo. Dez anos depois ele faleceu com a esposa em um acidente aéreo. Quando o jovem atingiu 21 anos, o mestre o nomeou seu sucessor.

- Que coisa! Esse negócio de nobreza já está ultrapassado. A moda agora é ser CEO. Presidente de alguma corporação.

- Mas isso o jovem Duque também é. Ele é o presidente da rede de hotéis.

- Onde eu fui amarrar a minha égua?

- Não entendi, pode explicar?

- É uma expressão que diz, onde eu fui me meter... Agora não tem mais volta. Esse vestido está bem para o chá?

- Está ótimo!

- Vamos descer. Não quero deixar o mestre esperando por mim.

- Ainda faltam 15 minutos para o chá.

As duas desceram e Elizabeth procurou por seu tio-avô. Ele não estava na sala de refeições. Ela encontrou o marido conversando com o avô na biblioteca.

- Estou perdida. Já andei um bocado até chegar aqui.

- Vamos tomar o chá? - Falou Alfred pegando a mão de Elizabeth e colocando em seu braço. Os dois caminharam até a sala de refeições.

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