Capítulo 13 (Alice)

No dia da corrida estava tão nervosa que não consegui ficar muito tempo parada. Acordei cedo, meu café da manhã foi a base de coisas leves e principalmente carboidrato, frutas e suco. Apesar de não sentir muita vontade de comer, sabia que era essencial ter uma boa alimentação. Chegamos à concentração com o tempo de sobra para um bom alongamento. Estava lotado de atletas e treinadores para todo lado. Miguel me ajudava no alongamento e no nervosismo também, me orientava na importância de manter o ritmo constante para não cansar muito no início e consegui concluir a prova. Iria disputar a prova de meia maratona com um total de 21 km. Essa era a primeira vez de uma prova tão longa, tinha conhecimento que vários dos maratonistas ali presente estariam disputando outras provas, mas mesmo assim não conseguia ficar tranquila.

Os organizadores convocaram todos os atletas para suas posições, os primeiros a largarem seriam as maratonistas que estariam competindo os 42 km, logo depois os maratonistas da meia maratona e por fim os queriam disputar o percurso mais curto de 15 km. O tiro de largada foi dado ao primeiro grupo de atletas. Minha adrenalina estava pulsando em todo o meu corpo, tento controlar meu nervosismo. A maratona é muito mais do que aqueles metros medidos no asfalto, precisa cuidar do ritmo, olhar o relógio, prestar atenção nos quilômetros, controlar a respiração e ficar atenta a hidratação. Houve o segundo tiro, e chegou a minha vez. Na metade da prova vejo muitas pessoas desistindo por diversos motivos. Vejo paramédicos atendendo atletas exaustos e penso se vou conseguir chegar até o final. Meu joelho vai desandar? Meu quadril vai explodir em dor? Meus pés vão suportar? Me pergunto se estou bem, tento fazer uma avaliação mental enquanto mantenho meu ritmo. Enquanto penso em tudo isso, me deparo com a marca de 15 km, sei que agora mais do que nunca preciso me esforçar e manter o ritmo, e se possível até acelerar um pouco mais. Estou correndo os últimos 6 km, sei que posso conseguir pelo menos terminar a prova. O resultado só saberei quando cruzar a linha de chegada e tento o mais rápido possível me aproximar mais dela. Penso em Mia e parece que minhas forças são renovadas, consigo enxergar a linha de chegada e consigo enxergar também outra maratonista que está à minha frente, disputando a mesma prova que eu. Me esforço para ultrapassá-la, mas passo a linha logo depois dela. Estou exausta, mas sei que não posso simplesmente parar, tenho que caminhar, até meu coração desacelerar um pouco. Concluir a prova em 1h11m29s, o que me deixou surpresa. Meus pés estavam latejando, mas eu estava orgulhosa de mim mesma. Tinha apenas que esperar o resultado oficial. Miguel já estava me aguardando quando cruzei a linha de chegada e me aplaudia feito um louco. Ainda tentava controlar a respiração quando ele se aproximou me abraçando e me parabenizando pela chegada, informando que meu tempo foi muito melhor do que havíamos planejado.

Quando o resultado saiu, meu nome estava em segundo lugar. Chorei de alegria, porque mesmo confiante, não esperava estar entre as primeiras colocadas após ver tanta gente mais experiente do que eu. Pensei em Mia e em seu pedido sobre o troféu, comecei a rir abraçada ao Miguel. Subir ao pódio para receber meu prêmio, ciente que todos meus esforços valeram a pena. Quando desci ainda comemorando com Miguel, escutei alguém chamar meu nome. A voz era conhecida, mas não poderia ligar a pessoa a quem imaginei, porque essa pessoa deveria estar em minha cidade natal. Porém, quando olho tentando identificar quem me chamava, meus olhos cruzam com aquele que nunca imaginei ver ali, Hugo. De início parei de rir e imaginei está vendo coisa, imaginei que meus esforços foram tão grandes que não devo estar passando bem, mas ele se aproximou, me deu um forte abraço e me parabenizou. O Miguel foi que falou antes de mim, dizendo estar feliz e surpreso por ele estar ali e perguntando se ele havia acompanhado minha corrida. Não consegui reagir, ainda estava tentando processar enquanto ele explicava ao Miguel.

(Hugo) ➖ Pedi uns dias de folga do serviço e vim fazer uma surpresa. Sabia que essa era uma competição importante para a Alice. Tentei chegar antes da partida, porém o hotel onde fiquei hospedado é um pouco distante daqui e só conseguir chegar a tempo do anúncio dos primeiros colocados. Fiquei muito orgulho de você ter conseguido, afinal você batalhou muito por isso nessas últimas semanas.

Dei um leve beliscão nele para constatar que não estava sonhando. Ele me olhou sem entender, mas logo depois agradeci por ele estar ali. Pensava que só poderia estar mais feliz se minha pequena filha estivesse ali comigo. Olhava para o Hugo não acreditando no que meus olhos viam. Ele estava mais relaxado do que nos últimos dias. Me olhava com muita admiração e eu lhe agradecia com meu melhor sorriso. O Hugo perguntou quantos dias iríamos passar ali, e percebi que ficou meio decepcionado quando falamos que nosso voo estava marcado para o final da tarde, no dia seguinte. Fui chamada por alguns organizadores. Hugo e o Miguel continuaram a conversar enquanto me aguardavam preencher algumas papeladas e realizar algum tipo de exame de praxe entre os vencedores. Tudo concluído, com troféu e com o cheque em mãos, retornei para perto deles. Hugo tinha nos convidados para almoçar num restaurante ótimo, segundo ele, que ficava ali próximo. Minha primeira pergunta mental... Como ele conhecia aquele lugar se ele residia na mesma cidade que eu? Porém, me veio a retrospectiva da nossa conversa "precisei viajar a trabalho". Muitos dos moradores de Gravatá trabalhavam em cidades vizinhas a nossa, alguns até iam trabalhar na capital (Recife), era algo comum em cidades pequenas de interior, porém não trocaria minha cidade por nenhuma outra.

Tivemos um almoço maravilhoso. Hugo realmente tinha nos levado a um restaurante muito bom. O Restaurante Central oferecia um buffet dos mais diversificados que já tinha visto. A comida era muito saborosa. Pensei comigo mesma que depois dali precisava ir para o hotel, meu corpo estava exausto e meus pés queriam apenas descansar, de preferência em cima de um sofá bastante macio. Enquanto Miguel se ausentou da mesa, Hugo se aproximou e segurou minha mão, de início fiquei um pouco constrangida com aquela intimidade em um local tão público, mas depois relaxei. Olhei para ele e sorrir, ele me devolveu um sorriso de tirar o fôlego. Precisava lhe fazer uma pergunta que não queria calar.

(Alice) ➖ Obrigada por você está aqui! Pensei estar sonhando quando ouvi sua voz me chamando. Nunca passou pela minha cabeça que você pudesse estar aqui para me ver disputar essa competição. Acho que estou duplamente feliz, se isso for possível. Mas por que você não falou vir a Florianópolis?

(Hugo) ➖ Não sabia se seria possível. E queria te fazer uma surpresa. Pena que não conseguir chegar antes.

(Alice) ➖ Você chegou na hora mais importante. E só o fato de estar aqui não tenho nem como agradecer.

Quando o Miguel voltou, ele soltou minha mão de forma delicada, o que me deixou feliz, pois o que o Miguel pensaria se nos visse de mãos dadas? Sei que sou solteira e acredito que o Hugo também, mas moramos em uma cidade pequena, e mesmo não acreditando que o Miguel poderia fazer qualquer comentário do que acontecesse aqui, preferia não arriscar.

Antes de sair, Hugo nos fez um convite para conhecer a Orla à noite, Miguel se desculpou dizendo precisar descansar, mas disse ao Hugo que eu ficaria feliz, pois já tinha comentado com ele o fato de querer ter oportunidade de conhecer o local, não me dando a chance de recusar o convite. Pelo que pude entender seria eu, Hugo e uma paisagem que poderia servir de inspiração para qualquer romance. O resto da tarde fiquei descansando no hotel. Liguei para a Vitória para lhe dar a boa notícia e para falar a Mia que estava levando seu troféu. Após meia hora falando com elas, desliguei e resolvi ligar para meus pais, que ao saberem que eu tinha conquistado o segundo lugar numa maratona tão importante, estavam radiantes de tanta alegria.