No exato momento que me aproximei e ele percebeu minha reação, ele caminhou até o banheiro e disse precisar de uma ducha, que não sabia como eu aguentava todo aquele suor no meu corpo após meus treinamentos, insinuando que tinha saído para se exercitar. Mas ninguém se exercita de calça social e muito menos com sapato que não sejam confortáveis e apropriados para isso. Meu sentido de mulher sabia qual era a verdadeira intenção dele naquele momento, levar para o ralo qualquer vestígio do erro que ele cometeu ao me trair.
Eu sabia que após o choque de surpresa, a bomba no qual eu me transformaria após descobri que fui enganada, não demoraria a explodir. Era só questão de minutos até eu absolver o que meus olhos viam e o meu cérebro processava. O banheiro enorme de nossa casa se tornou minúsculo com as perguntas que cruzavam a minha mente e minha boca cuspia, minha cabeça girava com cada desculpa sem nexo que ele me dava. O fim da discórdia foi a marca vermelha que existia em seu pescoço, e que ele tanto tentou esconder, mas não obteve êxito. Naquele momento era como se outra pessoa ocupasse meu corpo, toda a euforia de palavras que eu queria gritar foram abafadas por uma tranquilidade que eu não imaginei ter. Todo o furacão que pulsava em mim, foi ficando calmo como uma brisa, e meu cérebro mais uma vez começou a processar com exatidão a decisão mais sábia a tomar.
Me dirigir ao nosso quarto e peguei uma mala, nesse momento ele já estava enrolado na toalha vindo atrás de mim e ao perceber que eu peguei a mala me fez uma única pergunta:
(Noah) ➖ Você vai ser tão tola ao ponto de voltar para casa de seus pais?
Ele tinha conhecimento que se eu voltasse para casa de meus pais, sofreria pressão para abandonar as corridas. Minha mãe acreditava que ninguém conseguiria se manter somente com as corridas e suas vitórias, que isso não passaria de um hobby. Para ela, uma pessoa bem-sucedida tinha que ter uma carteira de trabalho assinada, um bom salário no final do mês e ser dedicada a família, e a corrida não fazia parte disso. Meu pai nada dizia, apenas desejava que eu fosse feliz como escolhi viver.
Eu sabia que Noah tinha razão ao insinuar que eu seria uma tola se abrisse mão dos meus planos de vida por uma traição, ele só não sabia qual era a minha intenção, até o momento que ele processou que não eram minhas roupas que estavam sendo colocadas na mala, e sim a dele. Naquele momento ele soube que quem estava preste a partir, não era eu, era ele. Mesmo os olhos dele vendo o que minhas mãos faziam ao fechar a mala, ele tinha esperança que após um minuto de explicação dele, eu retrocederia em minha decisão, não sabia ele que o que eu mais presava numa relação era confiança, a mesma confiança que ele quebrou sem dó e sem piedade ao me trair. Escutei com a maior paciência do mundo o que ele tentava justificar, escutei caladas as acusações dele me falando que eu era a única culpada por toda aquela situação, por não ter escutado os pedidos dele para desistir dos meus objetivos, porque para ele mulher perfeita era aquela que vivia submissa ao marido. E após ele falar tudo que tinha a dizer, como se não fosse eu mesma que estivesse naquele momento em meu corpo, olhei para ele e pedi que saísse de dentro do que antes era nosso lar e que passaria a ser apenas a minha casa.
Transformar a palavra "nosso" em "minha" não foi tão fácil como imaginei. Não foi fácil ainda encontrar vestígios do que parecia ser uma história de amor e agora não passava de ilusão. Por dias queria que tudo aquilo tivesse sido um pesadelo, aqueles pesadelos que após uma ducha fria vai para o ralo com todo o nosso medo. Mas não foi bem assim que aconteceu, parecia haver uma rachadura em três partes de mim: a mente, o corpo e o coração. Minha mente queria uma coisa, que meu corpo não aceitava e meu coração não entendia. Não sei com exatidão quantos dias eu passei nesse dilema, mas como tudo na vida tem um fim, a minha tristeza também teria.
Vitória era apenas alguns anos mais velha do que eu, mas com uma experiência bem maior que a minha. Com paciência ela me fazia enxergar que a culpa que eu sentia era injusta. Que mulher nenhuma merece ser submissa ao homem nos tempos de hoje, que ninguém tem que desistir de seus sonhos por outra pessoa, pois um dia, cedo ou tarde, o arrependimento vai cobrar sua parcela naquela relação. Que o certo não é desistir dos sonhos e sim, descobrir formas de juntos alcançarem ambos os objetivos. Que para alguém gostar de mim eu não precisaria me anular. Ela me explicava que numa relação o amor tem que caminhar lado a lado, porque só assim ele crescerá, florescerá e dará frutos. Se não for dessa maneira, se ambos não conseguissem uma forma de alinhar esses objetivos, tudo viraria uma competição de quem ganha mais, e foi isso que eu comecei a enxergar que minha relação com Noah tinha se tornado, uma verdadeira brincadeira de cabo de guerra.
Meus pais tentaram me arrastar novamente para baixo de suas asas. Agradeci e amei todo o cuidado e o zelo que eles tiveram comigo naquele momento, mas eu precisava sozinha descobri uma forma de superar tudo aquilo no qual eu mesma havia me colocado. Eu tinha que cair na real que a expectativa que eu havia colocado em Noah estava muito além da pessoa que ele era. Eu tinha que assumir a minha parcela de culpa por minha relação não ter dado certo, afinal não existe só um lado da moeda quando a vida envolve duas pessoas, só assim eu conseguiria colocar minha vida novamente no eixo. Porém, essa cruzada acabou quando descobri enfim que ele já estava vivendo com outra pessoa, um mês após o nosso fim, mesmo quando eu ainda me sentia uma pessoa sem vida.
E o mais extraordinário foi que dessa descoberta obtive forças para voltar a ser quem eu era antes do Noah. Foi como se eu tivesse virado uma fênix, que após as cinzas ressurge mais linda do que antes. Cerquei-me de novos objetivos, voltei a treinar, voltei a viver. Aceitei que apenas quando baixamos a guarda podemos ser atingidos de forma tão certeira, mas que aquele aprendizado tinha sido suficiente para mim e que não mais aceitaria confiar minhas expectativas em outra pessoa, além de mim mesma. Que jamais pensaria em desistir de meus sonhos por outra pessoa e que jamais, amaria alguém mais do que a mim mesma. Ali decidi me cercar de novos objetivos e parar de me lamentar por uma história de amor que parecia que apenas eu tinha vivido.
💭 Uma mulher decidida é como as ondas do mar... Ninguém consegue deter!
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Atualizado até capítulo 114
Comments
Adeline Ribeiro
gostei da sua maneira de mostrar o porquê de uma traição na relação
2024-08-26
3
Valdirene Vieira
Parecia haver uma rachadura em três partes de mim: a mente, o corpo e o coração. Minha mente queria uma coisa, que meu corpo não aceitava e meu coração não entendia.
Frase que descreve muitas situações. Amei
2023-11-15
5
Ociene Elizia Sulinha
melhor frase!
2022-12-20
1