Os dias passaram rápido demais, porém no treino seguinte o Hugo não havia comparecido e sem perceber me vi decepcionada. Acho que passei os dias desejando que o próximo treino chegasse apenas para vê-lo, e não tê-lo ali comigo me deixou frustrada, mas teria que aguardar até o próximo treino para revê-lo. Esse sentimento que não sabia explicar bem o que era estava me incomodando, porque afinal de contas eu não sabia quem exatamente era o Hugo. Não poderia criar expectativas em cima de uma pessoa da qual eu não conhecia. Depois de tudo que passei com Noah, não poderia permitir que um estranho bagunçasse assim minha vida, não poderia de forma alguma baixar a guarda de meus sentimentos, tinha que reagir, o perfeito não era tão perfeito assim.
Os dias na academia passaram sem nenhum grande episódio. Mia agora tinha uma amiguinha na escola, Samanta, de quem ela falava constantemente. Minha linda filha parecia me surpreender a cada dia que passava. Num certo dia, após chegar do trabalho, resolvemos por fim preparar juntas uma deliciosa sopa. Mia pegava os legumes, enquanto eu preparava a carne. Após colocar a carne temperada na panela, resolvemos juntas descascar os legumes. Mia, com toda sua desenvoltura dentro dos seus quase quatro aninhos, me informou que não precisava de ajuda com o descascador de legumes, que ela já estava crescidinha demais e já sabia usá-lo. Isso me arrancou uma risada, porém a surpresa que senti ao vê-la utilizar o descascador não teve preço. Mia pegou perfeitamente descascador e começou a utilizá-lo na cenoura de maneira correta, só não tão rápido como eu fazia. Quando perguntei como ela sabia usar aquilo, mesmo sendo aquela a primeira vez, ela me olhou daquela forma que só a Mia sabia olhar.
(Mia) ➖ Mamãe eu não sou cega. Eu fico olhando a senhora usar né! Faço como na escola. A titia primeiro nos mostra e depois a gente imita ela. E eu fico olhando a senhora fazer e agora também já sei fazer.
Aquilo me arrancou um suspiro de orgulho e me deixou com uma cara muito boba. Na mesma hora peguei Mia nos braços e lhe dei um forte abraço e muitos beijos. Mia se contorcia nos meus braços de tanto rir, porque enquanto lhe beijava minhas mãos faziam cócegas em sua barriguinha. Depois da sopa pronta, jantamos e fomos assistir desenho animados como era de costume todas as noites antes de dormir.
A sexta-feira transcorreu como esperar durante todo o dia. Alunos eufóricos na academia e muita correria, porém só quando larguei me dei conta do quanto estava ansiosa. Corri para o vestiário para trocar os tênis e verificar qual seria o nosso percurso naquela noite. Ao sair e cumprimentar todos os meus colegas ali presente, mais uma vez para minha decepção, descobrir que o Hugo não estava presente. Será que ele havia desistido da nossa equipe? Que ele estava machucado? Será que tinha acontecido algo que o impedia de treinar? Essas perguntas eram a que mais me fazia durante todo aquele percurso de corrida. Eram perguntas que eu nem ao menos sabia quem poderia responder. Não tinha o número de contato do Hugo, a academia possuía cadastro de todos os seus alunos, porém o grupo de corrida era independente. Eu não tinha como saber o que havia realmente acontecido com o Hugo. Isso de início me causou angústia, depois raiva e depois nem sei como descrever o que sentia. Sabia que ele simplesmente poderia ter desistido e que eu não poderia fazer nada para mudar isso. Como eu havia colocado tantas expectativas em cima de uma pessoa que eu mal conhecia? Estava muito aborrecida comigo mesma por isso.
No domingo resolvi visitar meus pais, convidei a Vitória para ir conosco. Como havia falado, a Vitória era um pouco mais velha do que eu, seu marido Rodrigo era marinheiro naval. Como ela decidiu permanecer na cidade natal, ele só estava em casa a cada 15 dias, com isso ela passava muito tempo nos fazendo companhia e nós a ela. Vitória cuidava da Mia como se fosse sua própria filha, muitas vezes quando a Mia não conseguiu o que queria comigo e tentava com a tia Vitória, que terminava me convencendo depois de um pouco de conversa. Meus pais quando souberam que iríamos visitá-lo, mimaram a Mia com todo tipo de sobremesa que ela gostava. Mamãe adorava a Vitória, dizia que ela já era considerada sua filha adotiva. E como sempre tentava arrancar da Vitória algumas informações sobre mim. Vitória, como uma fiel amiga, tirava minha mãe de tempo com outras questões. Infelizmente o domingo passou mais rápido do que eu queria. Gostava de ter minha independência, minha casa, minha liberdade, mas deixar a casa dos meus pais era sempre muito triste para mim. Mia se despedia dos avós com muitos beijos e abraços. Cheguei a nossa casa exausta, minha disposição era apenas para uma ducha fria e minha cama quentinha, mas como toda noite, Mia ainda tinha disposição para seus desenhos animados.
Eu e Mia dividimos o sofá, cada uma deitada numa ponta, e sem nem perceber cochilei. Acordei sobressaltada com o sonho que estava tendo com aqueles magníficos olhos azuis que me perseguiam mesmo contra a minha vontade. Sentei-me a tempo de ver a princesa Sofia decorar sua linda carruagem, só fazia uma hora que havia deitado naquele sofá e mesmo assim Hugo ocupava meu inconsciente. Aquilo me deixou muito aborrecida, fui ao banheiro, lavei o rosto e voltei para sala para terminar de assistir o desenho com a Mia. Trinta minutos depois, conduzir a Mia dormindo nos meus braços para sua caminha. Protelei a ir dormir, porque sabia que após fechar meus olhos, aqueles olhos azuis voltariam a me perseguir, mas não pude me manter muito tempo acordada e me permite sonhar mais uma vez com eles.
Meus sonhos quase sempre eram os mesmos. Hugo me salvando de homens mal-encarados. Hugo correndo comigo lado a lado com aquele sorriso maravilhoso. Ele me abraçando e eu sentindo os seus braços fortes sobre o meu corpo e sua boca em minha boca. E apesar de os sonhos serem fascinantes, eu acordava aborrecida, pois sabia que estava imaginando coisas demais. Tomava uma ducha e tentava não pensar mais naquelas fantasias.
Mais uma vez a semana começou e com ela meus treinos. Tentei me atrasar o máximo que podia para não ter tempo sobrando quando estivesse reunida com o meu grupo, queria apenas cumprimentar todos e me focar na corrida. Não pretendia adotar aquela Alice automática das maratonas, mas queria me focar o máximo que conseguisse para não ter que pensar em mais nada, muito menos no Hugo em quem com frequência me pegava pensando. Ao entrar no vestiário dei uma rápida olhada no percurso e fui me reunir com pessoal. Antes de meus olhos o encontrar, já havia sentido sua presença. Não saberia explicar como aquilo aconteceu, mas aconteceu. Cumprimentei a todos, mas não o vi, apenas sentia que ele estava ali. Assim como eu, alguns outros membros da equipe haviam se atrasados. O Miguel, nosso treinador, pediu que enquanto esperávamos fosse nos alongando. E enquanto eu me alongava sentir aquele leve toque na minha cintura, ao olhar para trás me deparei com aqueles olhos que vinham ocupando meus sonhos por dias.
Comecei a acreditar que a vida era muito injusta com alguns e benevolente demais com outros. Como se não bastasse ter aqueles olhos azuis de arrancar suspiro, ele tinha que ter um sorriso de tirar o fôlego.
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Atualizado até capítulo 114
Comments
Eura Pessoa
estou achando maravilhosa essa história o enredo é perfeito os personagens estão incríveis esse casal eu quero muito que engate e que sejam muito felizes eles merecem.
2023-04-20
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