Capítulo 12

Melissa já havia buscado suas coisas no apartamento que dividia com Drica com a ajuda de Arthur, mas pediu a ele que a deixasse visitar seu pai sozinha, pois estava planejando o encontro com Romeu. Arthur não se opôs.

Ela, então seguiu de Uber até ao lugar marcado e depois de toda complicação, ficou se perguntando se não seria melhor que Arthur estivesse com ela. Ele lhe inspirava confiança, mas ainda era muito cedo para saber se era mesmo confiável. Ligou para Drica:

Drica: — Oi, Mel!

Mel: — O Romeu sabe que eu me casei com o Henrique, Drica!

Drica: — O quê? Como?

Mel: — Eu não sei. Só sei que ele sabe e me ameaçou! Ele sabe que ele é rico e quer tirar mais dinheiro de mim!

Drica: — Maldito! Você tem que entregar ele pra polícia, Mel!

Mel: — Pra quê? Ele já foi preso umas dez vezes e sempre sai no outro dia!

Drica: — Você precisa contar pro Henrique!

Mel: — Não, de jeito nenhum! Ele ameaçou matar o meu pai se eu contar!

Drica:— Ai, Mel!

Elas seguiram conversando até Melissa chegar à casa de seu pai, que finalmente tinha recebido alta. Ele estava muito abatido ainda e muito machucado. Ele iria precisar de cuidados especiais com os quais eles não poderiam arcar. Como, por exemplo, uma cadeira de rodas para se locomover. Mas o mais preocupante era o seu estado catatônico, que precisava de um acompanhamento profissional.

Melissa tentou conversar com ele, mas ele não reagia. Estava com o olhar perdido.

— Pai, paizinho! Sou eu, a sua Mel! — Ele continuava sem responder.

—Ele não responde. — Informou sua tia Meire

Melissa se emocionou.

— Ronaldo! É a sua filha. Olha como ela está bonita! — Foi a vez de Meire tentar, mas ele permanecia parado. — É tão triste ver o meu irmão nesse estado!

— Me corta o coração também, tia! Meu pai não merecia isso!

Sua tia respirou profundamente e era visível o seu cansaço.

— Um homem tão ativo, acabar desse jeito! — Comentou ela.

— Ele vai ficar bom, tia Meire! Tenha fé!

— Deus te ouça minha, filha!

Mel ficou um tempo com seu pai, lhe dando carinho e conversando com ele. Não dava para saber se ele estava entendendo ou não.

— Ele está tomando os remédios direitinho? — Perguntou ela.

— Está, mas quase não tá comendo. A comida que dou pra ele, ele só come no máximo umas três colheradas.

— Ai, tia, temos que ter paciência! E muito obrigada por a senhora cuidar dele por mim! Eu queria muito ficar aqui com ele, mas minha vida tá tão complicada!

— Eu entendo, minha filha! Você estuda, trabalha e seu tempo é muito reduzido. Não se preocupe! Estamos aqui para nos ajudar! Uns pelos outros! O Osvaldo também me ajuda quando chega do serviço. Quero que você se dedique ao seus estudos pra ser alguém na vida.

Mel olhou para sua tia com ternura e falou:

— Preciso te contar uma coisa.

Mel chamou sua tia para conversar. Foram para cozinha e, enquanto Meire passava um café. Ela começou a contar tudo o que estava acontecendo com ela: O casamento, o dinheiro que conseguiu, menos sobre a última ameaça de Romeu. A princípio sua tia custou a acreditar, mas diante das circunstâncias, foi bem compreensiva.

— Então, você está mesmo casada?

— Sim, ainda falta assinar uns documentos, mas é um casamento sim. Mas, eu não sei quanto tempo isso vai durar, tia.

— Por quê?

—Não sei...Tenho uma forte sensação de que é algo provisório. A sensação de ser descartável. A família dele me recebeu muito bem, mas ele é estranho.

— Estranho como?

— Ah, não sei... Ele parece que tem raiva de mim e eu não entendo porque, se eu o ajudei...

— Ah, ele deve tá magoado ainda com a história da ex.

— É... Deve ser isso!

— Isso passa! Só te peço que tenha cuidado com essa gente, minha filha! Nós somos pobres e os ricos sempre tem vantagem.

— Eu sei.

...

Melissa se casou oficialmente com Henrique ainda naquela semana com a ajuda de Arthur, que usou a procuração que ele deixara em suas mãos. Depois de resolver suas coisas, ela passou a semana à disposição da família do seu marido. Eugênia insistiu em lhe dar aulas de etiqueta e lhe preparar para eventuais compromissos sociais. As duas estavam se dando bem aparentemente. Eugênia estava ensinando-a a ser uma boa anfitriã em um chá da tarde na sala de estar. A forma de sentar-se, sorrir e servir as convidadas. Melissa ouvia atentamente e tomava nota. Isabela estava assistindo a aula.

— Assim? — Perguntou Melissa segurando o bule de bico fino da forma instruída pela sua sogra.

— Isso, muito bem! — Aprovou Eugênia. — Que graciosa!

Melissa a serviu e ficou esperando que ela dissesse se o chá estava do seu agrado.

— Perfeito! — Aprovou ela — Você leva jeito e aprende muito rápido!

— Obrigada!

— Lembre-se de sempre sorrir. Mas sorrir de uma forma sutil, não é pra

parecer uma boba.

— Entendi.

— Postura e elegância sempre!

Isabela estava se divertindo assistindo a aula e rindo muito.

Henrique ligou para Arthur para se inteirar do que estava acontecendo em sua casa e na empresa. Arthur apressou-se em lhe dizer:

— Bem, estou cuidando de algumas audiências onde você tem que comparecer, entre outras coisas, mas não quero te aborrecer com esses assuntos, você está de folga...

— Não, pode dizer, estou entediado aqui, inclusive vou adiantar minha volta.

— Então, tá.  Bem, você sabe que a transportadora contratada pela empresa é do pai da Marcela, né?

— Claro que sei.

— O contrato deles vai vencer esse mês e tem mais duas concorrendo.

Henrique fechou os olhos desanimado.

— Não vou renovar. E por que você que é advogado está preocupado com isso?

— Pois é... Eles fizeram uma denúncia...

— Merda! Eu resolvo isso depois!

Arthur limpou a garganta e continuou, hesitante.

— Tem o caso do operário que se machucou...

— Ai, meu Deus!

— Eu te falei.

— Tá bem, Arthur, a gente vê tudo isso quando eu chegar.

— Vou organizar tudo, então.

—E a Melissa? Você investigou sobre ela?

— Sim, mas quando você chegar a gente conversa...

— Por quê? Descobriu alguma coisa muito...

— Não, não achei nada comprometedor, só não quero tomar mais o seu tempo com bobagens.

— Me fala o que descobriu!

— Nada demais... Ela perdeu a mãe há um tempo. Tem um pai e alguns parentes que moram em Capão Redondo. Ela divide apartamento com aquela amiga dela na Consolação e trabalha num Shopping lá perto.

— Consolação? Claro... Lugar bem estratégico pra quem quer ter uma vida noturna agitada...Com certeza o pai dela, a família não sabem de nada.

— Olha, quanto à isso, ela deve ser bem discreta, porque não achei nada comprometedor, como disse. Ela tem um perfil no Instagram com algumas postagens caseiras, tudo muito tranquilo. Vou te enviar.

Arthur compartilhou o perfil de Mel com Henrique e assim que encerraram a conversa, ele começou a vasculhar o mesmo. Confirmou o que o amigo tinha dito. Só havia fotos do cotidiano dela. Fotos com sua família, amigos e

bichinhos de estimação. Começou a ler os comentários das postagens. Um tal Sérgio sempre a enchendo de elogios, mas pelo visto, era sempre ignorado.

—“Cara Idiota!” — Pensou Henrique.

Ele ficou um tempo olhando para uma singela foto dela com um cachorrinho. A legenda dizia: “Meu

companheirinho!”

Henrique sorriu sem perceber e, neste momento, resolveu postar a foto que Isabela lhe enviou. Escreveu a legenda: “Eu e ela...”

— Por que estou fazendo isso? — Ele perguntou a si mesmo — Eu sou um empresário sério! Que coisa idiota! Ah, Isabela, você me convence a fazer cada coisa!

Mesmo pensando assim, Henrique apertou o botão para seguir Melissa. Ela ainda estava na sala-de-estar junto com sua sogra e cunhada, envolvidas com o chá e jogando conversa fora, quando recebeu a solicitação. Ao ver que se tratava de Henrique, seu coração disparou.

— Tudo bem? — Perguntou Isabela.

— Sim, sim! Com licença, eu tenho que responder a uma mensagem. — respondeu ela, sem jeito.

— Fique à vontade, querida! Por hoje está ótimo! — Falou Eugênia.

Mel se retirou e foi para o seu quarto. Isabela esperou que ela se afastasse o suficiente e questionou a sua mãe:

— O que é tudo isso, hein, mamãe? Por que está tão amável com a Mel?

— Ora, ela agora é minha nora. Preciso fazer isso dar certo para o bem da família, não é mesmo?

— Sem essa, mãe! Eu sei que a senhora tá fingindo. A senhora e o papai!

— Claro que não, quero dizer, eu realmente não aprovei o que seu irmão fez, mas acho que não vai ser inteligente da minha parte me indispor com o Henrique.

Isabela olhou para sua mãe com curiosidade:

— Ah, agora estou entendendo! A senhora quer manipular o Henrique!

— Eu? Não sei do que está falando.

— Ah, dona Eugênia! E te conheço muito bem! Mas parece que o tiro está saindo pela culatra, não é mesmo?

— Continuo sem saber do que está falando! — Exclamou Eugênia ajeitando a volta do seu cabelo.

— Quero dizer que a senhora está gostando dela.

— De quem?

— Da sua querida nora!

— Ah, Isabela, você tem muito que aprender sobre a vida!

— Mamãe, confessa!  A Mel já te conquistou! Em apenas uma semana!

— Não, não é isso. Eu apenas estou enxergando um certo potencial nela, mas tem aquela história de ela ser... Ser uma... Você sabe!

— Sei... Mas, quer saber? Eu estou achando essa história muito mal contada!

— Sim. Ou ela é muito dissimulada, ou existe algum mal-entendido!

— Também acho, mamãe.

— Você que é mais próxima a ela, poderia descobrir mais coisas!

— Tá, pelo bem da família.— Falou Isabela sorrindo.

Melissa ainda estava surpresa por Henrique pensar nela. Ela deu um tempo para responder, para não parecer ansiosa. Entrou, então no perfil dele para ver as suas postagens. Parecia mais uma conta comercial, mas havia fotos dele em viagens ou descontraído com os amigos. Ela se deparou com a foto do casamento dos dois que ele havia acabado de postar e sorriu. Finalmente aceitou sua solicitação e curtiu a foto. Teve vontade de conversar, perguntar quando voltaria, mas não teve coragem, pois Henrique ainda lhe dava medo. Deitou-se na cama segurando o celular e percebeu que de uma forma muito estranha, sentia saudades dele. Com isso recebeu uma mensagem. Era ele. A mensagem dizia:

“Volto amanhã.”

Parecia que ele tinha adivinhado seus pensamentos. Ela respirou fundo e respondeu apenas:

“OK!”

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