Uma lição importante

Leane bateu levemente na porta do quarto de Molly antes de abrir e entrar.

A garota estava deitada na cama, abraçada a boneca com um olhar perdido para a parede.

—OI, Molly. Seu irmão está arrependido pelo que fez.

—Eu não tenho mais um irmão. — ela resmungou, virando-se para a parede.

Leane suspirou, aproximando-se e sentando-se na beira da cama.

—Não diga isso. Eu sempre quis ter irmãos, mas meu desejo não foi atendido e acabei crescendo sozinha. — ela disse, fazendo a menina suspirar e se voltar para ela. —Queria ter tido alguém para brincar e me fazer companhia enquanto minha mãe saía para trabalhar para colocar comida na mesa.

—E o seu pai? —Molly quis saber. —Onde ele estava?

Leane lhe acariciou os cabelos, sorrindo tristemente.

—Meu pai morreu antes de eu nascer. Ele era um soldado. — explicou. —Minha mãe estava grávida quando isso aconteceu, então não cheguei a conhecê-lo.

—Sinto muito... — ela murmurou.

—Obrigado, pequena. Mas e quanto ao Jason? Nesse momento ele deve estar no quarto, muito arrependido e triste com suas palavras. Mesmo que tenha razão em ficar chateada com ele, deve tomar cuidado com o que diz no momento da raiva.

Molly se sentou e cruzou os braços, fazendo bico.

—Ele me deixou realmente com raiva. — ela explicou. —Mamãe me deu essa boneca e me disse que eu devia cuidar muito bem dela. Às vezes, ela se sentava ao meu lado e me ajudava a arrumar os cabelos dela, quando não estava ocupada demais.

Leane entendeu o que a menina queria dizer.

Pelo visto, não era apenas o pai que se mantinha distante, mas a mãe das crianças também.

—Talvez possamos consertá-la... — sugeriu, estendendo a mão para que a garota lhe entregasse a boneca.

Molly baixou os olhos tristemente para a boneca antes de negar.

—Os cabelos estão se soltando da cabeça. Acho que não dá para arrumar. — ela disse, entregando-lhe o brinquedo.

Leane deu uma olhada na boneca e de repente uma ideia lhe ocorreu.

—Quando eu era pequena, minha mãe não tinha condições de me comprar brinquedos. — ela contou. —Então, nós pegávamos meias velhas e fazíamos bonecas de pano. Usávamos trapos velhos para recortar e fazer vestidos e para os cabelos, recorríamos a linhas grossas de tricô.

Molly a encarou, confusa, e Leane sorriu com a lembrança.

—Eram os melhores momentos ao lado da minha mãe antes de ela ficar doente, quando fazíamos bonecas juntas. —explicou. —E dava para fazer os cabelos de várias cores, ou até mesmo coloridos.

—Não existe cabelo colorido. — Molly retrucou, franzindo os lábios em descrença e Leane riu.

—No mundo das bonecas, existem cabelos de todas as cores que quiser. E se me permitir, eu posso fazer o mesmo com a sua. E ainda deixo você escolher a cor que quiser.

Molly jogou as pernas para fora da cama, animada.

Já não havia aquele brilho triste em seus olhos, e Leane ficou satisfeita.

—Podemos fazer isso agora? — ela quis saber, mas Leane segurou seu braço, impedindo-a de sair do quarto.

—Podemos fazer isso depois do jantar. — ela disse. —Mas antes, eu gostaria que fosse falar com seu irmão.

Molly parou de sorrir.

—Eu sei que ele errou e você tem todo o direito de ficar chateada com ele, mas lembre-se do que eu falei. Ele é seu irmão e seu melhor amigo, e acho que está disposto a pedir desculpas pelo que fez. E acho que seria legal você se desculpar também pelo que disse. Ele realmente ficou muito triste.

Molly ficou pensativa por um instante.

—Eu nunca pedi desculpas antes. —admitiu. —Nossas babás anteriores apenas nos mantinha separados quando brigávamos e quando a raiva passava, simplesmente voltávamos a brincar um com o outro.

Leane se levantou e encarou a menina com uma sobrancelha arqueada.

—Talvez seja o momento certo de mudar isso, não acha? Sentirá o quanto é libertador um pedido sincero de desculpas e o ato de perdoar. E quem sabe seu irmão possa se interessar em nos ajudar a arrumar os cabelos da sua boneca?

Molly assentiu, agora mais tranquila.

—Tudo bem, farei isso. — ela disse. —O Jason é um idiota as vezes, mas é meu irmão e não consigo ficar sem falar com ele por muito tempo, de qualquer forma.

Leane riu da maneira como a menina falava, como se não tivesse outra escolha, e as duas saíram do quarto.

— Vou deixar você nessa importante missão e esperarei lá embaixo para jantarmos juntos, tudo bem?

Molly concordou, parando em frente a porta do quarto de Jason.

Leane caminhou até o final do corredor e parou, voltando-se para observar a menina abrir a porta e entrar no quarto do irmão.

Dois dias e ela já se sentia apegada as crianças de uma maneira que ela não imaginava que poderia sentir.

Por isso mesmo, ela voltou e parou no limiar da porta, observando os dois.

—Jason, eu fiquei muito brava por estragar a minha boneca favorita, mas eu não devia ter dito aquilo. —Molly disse, atraindo o olhar de seu irmão que lia um livro em sua cama. —Me desculpe…

Jason largou o livro de lado e se levantou, com os olhos marejados de lágrimas.

O coração de Leane se enterneceu ao ver o garoto caminhar até a irmã e lhe dar um abraço apertado.

—Eu não devia ter pegado a sua boneca e não era minha intenção estragá-la. — ele admitiu. —Me desculpe, Molly. Nunca mais farei isso. Eu só queria que brincasse comigo.

Molly baixou os olhos para os próprios pés, quando o irmão a soltou do abraço.

—É que eu estava sentindo saudades da mamãe e gosto de olhar para a minha boneca imaginando-a. — ela admitiu e ambos se sentaram na cama. Eu estava contando sobre a Lean e o quanto ela é boa pra gente...

Um nó se formou na garganta de Leane, que sentiu uma lágrima rolar por sua face.

Afastou-se rapidamente da porta antes que começasse a soluçar e correu para o seu próprio quarto.

Lembrou-se de todas as vezes em que se sentia sozinha quando sua mãe saia para o trabalho e o quanto ela parecia cada vez mais cansada no passar dos anos para lhe dar um pouco de atenção.

Cobriu a boca com as mãos, para abafar seus soluços enquanto as lágrimas escorriam de seus olhos livremente.

Ela sentia tanta falta…

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